TÍTULO: Mamutes da América Central revelam linhagem genética singular
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CONTEÚDO:
A percepção comum sobre os mamutes frequentemente os agrupa em uma única imagem: grandes criaturas peludas, semelhantes a elefantes, dotadas de presas imponentes. Contudo, a realidade paleontológica revela uma diversidade muito maior. Existiram diversas espécies de mamutes, algumas das quais, inclusive, apresentavam uma pelagem menos densa e habitavam regiões de clima temperado, distantes dos ambientes glaciais frequentemente associados a esses animais pré-históricos.
Entre as espécies conhecidas por sua pelagem mais robusta, destacam-se pelo menos três linhagens principais. O mamute-da-estepe-eurasiano, o mamute-lanoso, este último especializado em ambientes árticos, e o mamute-colombiano, uma espécie que evoluiu mais tardiamente e era exclusiva da América do Norte. A compreensão das relações evolutivas entre essas espécies tem sido significativamente impulsionada pela disponibilidade de material genético.
A preservação de DNA de mamutes tem sido notavelmente facilitada pelas condições climáticas das regiões árticas onde muitos desses animais viveram. O frio extremo e a permafrost atuam como conservantes naturais, permitindo que os cientistas obtenham amostras genéticas que revelam um panorama detalhado de suas conexões evolutivas. A análise desse material genético tem indicado que o mamute-lanoso, por exemplo, representa um ramo evolutivo derivado da linhagem do mamute-da-estepe. Além disso, evidências genéticas sugerem que o mamute-lanoso foi a primeira espécie a realizar a migração para o continente norte-americano.
No entanto, a história genética do mamute-colombiano sempre apresentou um certo grau de complexidade e mistério para os pesquisadores. Dados genéticos anteriores sobre essa espécie eram inconsistentes. Algumas análises apontavam para uma origem como um desdobramento da linhagem do mamute-da-estepe, similar ao mamute-lanoso. Outras amostras, por sua vez, indicavam a possibilidade de que o mamute-colombiano fosse, na verdade, um híbrido, resultante do cruzamento entre o mamute-lanoso e o mamute-da-estepe. Essa divergência nos resultados genéticos gerava um enigma sobre a verdadeira ascendência e classificação dessa espécie.
É importante ressaltar que a maior parte dos dados genéticos disponíveis até então provinha de espécimes que habitavam ambientes de clima frio. Contudo, o mamute-colombiano possuía uma distribuição geográfica muito mais ampla, estendendo-se para o sul até a América Central. Essa vasta área de ocorrência levantava questões sobre a uniformidade genética da espécie em diferentes latitudes e climas.
Recentemente, um grupo de pesquisadores conseguiu um avanço significativo ao obter informações genéticas de fragmentos ósseos encontrados na Bacia do México, uma região que engloba a atual Cidade do México. A obtenção de material genético de uma área com clima mais temperado representa um desafio técnico maior do que em regiões árticas, tornando essa conquista particularmente relevante para a paleogenética.
Os resultados preliminares dessa nova pesquisa indicam que os mamutes encontrados na América Central parecem constituir um agrupamento genético distinto. As análises revelaram que esses indivíduos são mais estreitamente relacionados entre si do que com quaisquer outros mamutes-lanosos ou mamutes-colombianos previamente estudados. Essa descoberta sugere a existência de uma linhagem ou subpopulação de mamutes na América Central com características genéticas únicas, que se diferenciaram das populações mais ao norte ou das espécies conhecidas.
A identificação desse cluster genético exclusivo na Bacia do México adiciona uma nova camada de complexidade à compreensão da evolução e dispersão dos mamutes no continente americano. Ela sugere que as populações de mamutes que se aventuraram em regiões mais ao sul podem ter seguido um caminho evolutivo particular, adaptando-se às condições locais e desenvolvendo características genéticas que as distinguem de seus parentes mais setentrionais. Essa nova perspectiva pode levar a uma reavaliação das classificações e das árvores filogenéticas dessas majestosas criaturas pré-históricas, oferecendo insights valiosos sobre a biodiversidade e a história natural da megafauna do Pleistoceno.
A pesquisa abre caminho para futuras investigações que possam aprofundar o conhecimento sobre a adaptação e a diversificação dos mamutes em diferentes ecossistemas, especialmente em regiões temperadas e subtropicais. A análise de mais amostras de mamutes da América Central e de outras regiões do sul da América do Norte será crucial para consolidar essas descobertas e traçar um mapa genético mais completo da presença desses gigantes na história do continente.
Com informações de Ars Technica
Fonte: https://arstechnica.com/science/2025/08/genetically-central-american-mammoths-were-weird/