Aprofundando a complexa teia geopolítica global, um vasto dossiê de 800 páginas, compilado a partir de contratos e correspondências vazadas, aponta para uma cooperação estratégica entre a Rússia e a China. As informações sugerem que Moscou estaria ativamente auxiliando Pequim na preparação de suas forças armadas para uma eventual e hipotética ação militar contra Taiwan. Esta revelação, com o potencial de redefinir o equilíbrio de poder na Ásia, acende um alerta sobre as dinâmicas de segurança internacional.
A fonte das informações é o prestigiado Royal United Services Institute (RUSI), um renomado centro de estudos de defesa sediado em Londres, conhecido por suas análises aprofundadas sobre segurança e estratégia militar. De acordo com os documentos analisados pelo instituto, a Rússia teria formalizado um acordo em 2023 para fornecer à China uma série de equipamentos e tecnologias militares de ponta. Este pacote inclui veículos blindados anfíbios, cruciais para operações de desembarque e mobilidade em terrenos variados; canhões antitanque, que reforçariam significativamente o poder de fogo das tropas chinesas; e transportes aéreos de tropas, essenciais para a rápida projeção de força e inserção de pessoal em áreas estratégicas.
Rússia e China: Preparação Militar Conjunta para Taiwan
Para além da simples venda de armamentos, a cooperação militar entre Rússia e China vai além. Os contratos vazados também detalham o compromisso de Moscou em prover treinamento especializado para um batalhão de paraquedistas chineses. Este treinamento visa capacitar as tropas de elite chinesas a operar com máxima eficiência os equipamentos recém-adquiridos. Um aspecto ainda mais revelador é a previsão de transferência de tecnologia, que permitiria a Pequim a capacidade de produzir internamente equipamentos militares similares no futuro. Esta cláusula sinaliza uma intenção clara de expansão e aprofundamento da colaboração bilateral no setor de defesa, com implicações de longo alcance para a capacidade militar da China.
Segundo a avaliação do Royal United Services Institute, o acordo representa um “ganho operacional significativo” para o Exército de Libertação Popular (ELP) da China. A aquisição de veículos leves lançáveis por paraquedas, combinada com o treinamento de tropas especializadas em aterrissagens discretas, poderia conferir à China uma nova dimensão estratégica. Essa capacidade permitiria a abertura de frentes terrestres no interior de Taiwan antes mesmo de um desembarque anfíbio em larga escala, estratégia que até então era considerada a mais provável em caso de uma incursão militar na ilha. Este cenário altera dramaticamente o cálculo de defesa taiwanês e regional.
Até o momento, a China não se manifestou oficialmente sobre as revelações contidas no dossiê. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também optou por não comentar o assunto quando questionado por jornalistas, mantendo o silêncio oficial sobre a alegada cooperação militar. A ausência de declarações por parte de ambos os governos sublinha a sensibilidade e a importância estratégica das informações vazadas.
Mudança Estrutural no Equilíbrio de Poder na Ásia
Se as informações do dossiê forem confirmadas, as implicações para o cenário geopolítico são profundas, indicando uma mudança estrutural no equilíbrio de poder na Ásia. A Rússia, que tradicionalmente demonstrava relutância em compartilhar seus sistemas militares mais avançados com a China – em parte devido a temores de espionagem industrial e replicação tecnológica –, agora parece adotar uma abordagem diferente. Moscou parece enxergar o fortalecimento militar de Pequim como um meio de ampliar seu próprio peso estratégico no xadrez global, especialmente em sua postura frente à Europa e aos Estados Unidos.
Essa nova dinâmica alimenta os crescentes temores de que os dois países estejam se alinhando de forma mais formal em um eixo anti-ocidental, desafiando a ordem internacional estabelecida e consolidando uma frente contra as influências ocidentais. A venda de tecnologia e o treinamento militar aprofundam a parceria estratégica, potencialmente alterando não apenas a capacidade chinesa em relação a Taiwan, mas também a dinâmica de poder em outras regiões.
Para uma análise mais aprofundada sobre relatórios de segurança e geopolítica, consulte a página oficial do Royal United Services Institute.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Panorama Geopolítico Ampliado e a Influência Chinesa
Os movimentos da China no cenário internacional não se limitam apenas à cooperação militar com a Rússia. A nação asiática tem demonstrado uma ativa política externa e econômica que repercute em diversas partes do mundo. O premiê chinês Li Qiang, por exemplo, está programado para visitar a Coreia do Norte de quinta-feira (9) a sábado (11) para participar das celebrações do 80º aniversário do Partido dos Trabalhadores. Esta visita marca o mais alto nível de contato entre os dois países desde 2019, e a China classificou o país vizinho como um “amigo e parceiro tradicional”, enfatizando que a manutenção de laços próximos é uma “política estratégica inabalável”. A presença de líderes do Vietnã e do Laos nas comemorações destaca uma rara convergência diplomática entre regimes comunistas asiáticos, consolidando o fortalecimento da cooperação entre Coreia do Norte, Rússia e China.
No âmbito econômico, a influência chinesa também se expande. O Quênia, em uma decisão financeira significativa, converteu um empréstimo de US$5 bilhões (equivalente a cerca de R$26,5 bilhões) obtido com a China, da moeda dólar para renmenbi. Essa medida é esperada para gerar uma economia anual de aproximadamente US$215 milhões (cerca de R$1,14 bilhões), segundo o ministro das Finanças queniano, John Mbadi. A mudança reduz os juros atrelados ao dólar, substituindo-os por taxas mais baixas vinculadas à moeda chinesa, o que alivia as contas públicas do país e busca diminuir sua exposição às flutuações cambiais. Para Pequim, esse movimento acelera a estratégia de internacionalização do renmenbi, uma meta econômica de longa data.
Internamente, a China continua com sua campanha anticorrupção, que gerou notícias recentes de grande impacto. O ex-ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, foi condenado à morte por aceitar mais de 268 milhões de yuan (aproximadamente R$200 milhões) em propinas, recebidas entre 2007 e 2024. A pena, proferida por um tribunal em Jilin, pode ser comutada para prisão perpétua caso ele não cometa novos crimes em um período de dois anos. Renjian confessou ter recebido dinheiro, viagens e imóveis em troca de favorecimentos políticos e empresariais. Expulso do Partido Comunista em 2024, ele é mais um alto funcionário a ser punido na rigorosa campanha liderada por Xi Jinping, que, embora elogiada por combater a corrupção, também é criticada por, por vezes, atingir rivais políticos.
Taiwan Reforça Defesa e Busca Apoio Internacional
Paralelamente aos movimentos chineses, Taiwan também tem intensificado seus esforços para garantir sua segurança e projetar sua posição no cenário internacional. O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, fez uma declaração notável, afirmando que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, mereceria o Prêmio Nobel da Paz se conseguisse persuadir Xi Jinping a renunciar a qualquer ação militar contra a ilha. Lai destacou o aumento preocupante dos exercícios militares chineses no Estreito de Taiwan, bem como a expansão das forças chinesas no Mar da China Oriental e Meridional. O líder taiwanês classificou esses movimentos como um risco significativo ao equilíbrio regional e aos interesses dos Estados Unidos, defendendo a necessidade de elevar os gastos com defesa de Taiwan para 5% do PIB até 2030. A menção de Trump e do Nobel da Paz reflete uma tática diplomática para atrair a atenção e o engajamento de figuras influentes no cenário global.
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Em suma, os desdobramentos recentes na relação entre Rússia e China, especialmente no que tange à preparação militar para um cenário envolvendo Taiwan, reafirmam a complexidade do tabuleiro geopolítico asiático. A intensificação da cooperação militar e a projeção de influência chinesa em outras esferas, enquanto Taiwan busca solidificar sua defesa e apoio internacional, desenham um panorama de crescente tensão e incerteza na região. Para mais análises aprofundadas sobre política internacional e segurança, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Alexander Kazakov/Reuters