Um estudo recente da FGV Energia revela que o Brasil tem vasto potencial para avançar na exploração e no desenvolvimento de minerais estratégicos. Diante de um cenário global de demanda crescente e da concentração desses materiais em poucas mãos, o país emerge como um ator fundamental, apesar de grande parte de seu potencial ainda ser desconhecido e inexplorado. Essa avaliação surge em um momento crucial, onde a geopolítica e a necessidade de descarbonização impulsionam a busca por novas fontes de suprimento para a indústria de transição energética.
A pesquisa, lançada na última quarta-feira, dia 8, marca a estreia da FGV Energia em análises aprofundadas sobre o tema dos minerais estratégicos. A coordenação do Caderno “Minerais Estratégicos no Brasil: Oportunidades de Produção e Inserção no Mercado Global” ficou a cargo de Luiza Guitarrari, pesquisadora da instituição. Ela enfatiza que, enquanto o Brasil mapeia 15 minerais considerados estratégicos, nações como a China já identificam cerca de 50. Essa disparidade aponta para uma lacuna significativa no conhecimento e aproveitamento dos recursos minerais brasileiros, revelando a urgência de intensificar a pesquisa geológica e a prospecção.
Brasil tem Potencial Gigante em Minerais Estratégicos
A concentração desses recursos essenciais e o controle total da cadeia de valor nas mãos de um número restrito de potências globais representam um desafio complexo para o Brasil. A dependência de poucos fornecedores para minerais estratégicos pode gerar vulnerabilidades na cadeia de suprimentos e impactar o desenvolvimento industrial e tecnológico do país. Contudo, esse mesmo cenário de “rearranjos de poder” no panorama geopolítico mundial, somado à inerente volatilidade nos preços das commodities minerais, abre uma janela de oportunidades sem precedentes para que o Brasil fortaleça sua posição como um fornecedor confiável e estratégico. As recentes flutuações de mercado e as tensões comerciais globais sublinham a importância de uma cadeia de suprimentos mais diversificada e resiliente.
A pesquisadora Luiza Guitarrari salienta que o país está apto a avançar substancialmente no desenvolvimento da mineração de insumos vitais. Esses materiais são cruciais para alimentar as indústrias diretamente ligadas à transição energética global, um movimento que demanda uma quantidade crescente de matérias-primas específicas. A capacidade de suprir essa demanda emergente pode posicionar o Brasil como um parceiro estratégico em um mercado global em transformação, contribuindo para a segurança energética de outras nações e impulsionando a sua própria economia.
Oportunidades e Desafios da Mineração Brasileira
O Brasil já se destaca como o segundo maior produtor mundial de commodities como o cobre, essencial para fiações elétricas, veículos elétricos e componentes de infraestrutura de energia. O país também ocupa a mesma posição na produção de grafita, um mineral indispensável para sistemas de baterias de veículos elétricos, reatores nucleares e outras aplicações de alta tecnologia, e de terras raras, um grupo de elementos químicos com vastas aplicações em eletrônicos avançados, energias renováveis e defesa. Esse reconhecimento internacional reforça o potencial brasileiro, mas também evidencia a necessidade de verticalizar a produção e agregar valor aos minerais, transformando-os em produtos semiacabados ou acabados de maior complexidade.
A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), conforme citado no estudo da FGV Energia, projeta um aumento drástico na demanda por minerais críticos. A expectativa é que essa demanda mais do que triplique até o ano de 2030, impulsionando investimentos que podem superar a marca de US$ 1 trilhão em todo o mundo. Esse prognóstico sublinha a urgência e a relevância de se posicionar estrategicamente nesse mercado, não apenas para garantir participação, mas também para influenciar as dinâmicas de preços e as políticas de sustentabilidade.
Os minerais estratégicos e críticos são definidos como materiais nobres, insubstituíveis em setores de ponta, incluindo a fabricação de semicondutores, o avanço da transição energética e o desenvolvimento de sistemas eficientes de armazenamento de energia. Entre os exemplos mais proeminentes desses materiais, o estudo menciona o cobre, o lítio — crucial para baterias de alta performance em dispositivos eletrônicos e veículos elétricos —, a grafita e o silício, um elemento fundamental na indústria eletrônica e de painéis solares, entre outros minerais com aplicações diversificadas e de alto valor agregado. A escassez ou a dificuldade no acesso a esses materiais pode comprometer seriamente o progresso tecnológico global.
A pesquisadora Guitarrari reitera a importância de uma ação proativa por parte do Brasil para capitalizar essa oportunidade. Sua declaração “O país não pode perder a janela de oportunidades” serve como um alerta e um chamado à ação para o governo e o setor privado. A falha em aproveitar este momento pode significar a perda de um posicionamento estratégico e de um impulso econômico substancial em um dos mercados mais promissores do século XXI. A efetivação desse potencial exige políticas públicas claras, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e um ambiente de negócios favorável que atraia capital e tecnologia.
Para capitalizar essa vantagem, o Brasil precisa ir além da mera extração, buscando integrar todas as etapas da cadeia de valor, desde a pesquisa geológica até o beneficiamento e a produção de componentes de alto valor tecnológico. A diversificação das fontes e o desenvolvimento de tecnologias de ponta para minerais estratégicos são elementos chave para garantir não apenas a segurança energética, mas também a soberania tecnológica e econômica do país em um futuro cada vez mais dependente desses recursos. A construção de uma indústria de mineração mais robusta e integrada é um passo vital.
O foco em práticas de mineração sustentáveis e a responsabilidade socioambiental também serão determinantes para o sucesso e aceitação global das operações brasileiras. A adoção de tecnologias inovadoras, a capacitação de mão de obra especializada e a governança transparente são passos fundamentais para transformar o potencial em realidade e assegurar que o Brasil desempenhe um papel de liderança na nova economia de minerais estratégicos, gerando benefícios duradouros para a sociedade e o meio ambiente.
Este cenário de transformação e as oportunidades que se apresentam ao Brasil no setor de minerais críticos são amplamente discutidos em diversos fóruns nacionais e internacionais. A relevância do tema é tal que o Ministério de Minas e Energia tem reforçado o debate sobre o potencial brasileiro em minerais estratégicos em eventos globais como a COP28, buscando alinhar as expectativas e promover investimentos.
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