A Inflação Oficial de Setembro Sobe 0,48% Após Queda em Agosto, marcando uma reversão significativa no cenário econômico brasileiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o termômetro oficial da inflação no país, registrou uma elevação de 0,48% no mês de setembro. Este resultado contrasta fortemente com o período anterior, quando em agosto o índice havia apresentado uma deflação de 0,11%. Os dados, divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram também que, no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA atingiu 5,17%, superando o teto da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5%.
A performance de setembro representa o maior avanço da inflação mensal desde março deste ano, quando o indicador alcançou 0,56%. Essa retomada dos preços para o campo positivo indica pressões em diversos setores da economia, com alguns grupos de despesas exercendo influência mais pronunciada sobre o custo de vida dos brasileiros.
Inflação Oficial de Setembro Sobe 0,48% Após Queda em Agosto
O principal vetor de alta para a inflação de setembro foi o grupo Habitação, que registrou uma elevação expressiva de 2,97%. Este segmento sozinho contribuiu com 0,45 ponto percentual (p.p.) para o IPCA do mês, evidenciando seu peso na composição do índice. Dentro do grupo Habitação, o subitem energia elétrica residencial se destacou com um aumento de 10,31% em setembro. Tal elevação é particularmente notável considerando que, em agosto, o mesmo subitem havia apresentado uma queda de 4,21%. O impacto individual da energia elétrica na inflação de setembro foi de 0,41 p.p., o maior entre todos os itens pesquisados. A magnitude do aumento no grupo Habitação em setembro é histórica, sendo a maior expansão para este período desde 1995, quando o crescimento foi de 4,51%.
A significativa elevação nas tarifas de energia elétrica pode ser atribuída a dois fatores principais. Primeiramente, o fim do Bônus Itaipu, um desconto concedido na conta de luz de agosto que beneficiou aproximadamente 80,8 milhões de consumidores. Com a ausência deste bônus em setembro, a fatura dos lares brasileiros naturalmente se tornou mais cara em comparação ao mês anterior. Em segundo lugar, a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2, imposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), adicionou um custo extra de R$ 7,87 à conta de luz para cada 100 Kwh consumidos. Esta cobrança adicional é uma medida adotada pela Aneel para custear a operação de usinas termelétricas, que são mais caras e precisam ser acionadas em períodos de baixa nos reservatórios das hidrelétricas, garantindo assim o suprimento de energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desempenha um papel crucial na regulação e determinação das bandeiras tarifárias que impactam diretamente o custo da energia.
O gerente da pesquisa do IBGE, Fernando Gonçalves, ressaltou a influência determinante da energia elétrica. Segundo ele, caso o subitem energia elétrica fosse desconsiderado do cálculo do IPCA em setembro, a inflação do mês seria substancialmente menor, registrando apenas 0,08%. Projetando para o futuro próximo, a Aneel determinou o retorno da bandeira vermelha patamar 1 para outubro, o que implica um adicional de R$ 4,46 por cada 100 Kwh consumidos. Embora esta mudança tenda a suavizar a pressão inflacionária na conta de luz, Gonçalves alertou para a necessidade de observar o impacto de possíveis reajustes de tarifas que concessionárias de energia em grandes centros como São Paulo, Goiânia e Brasília costumam aplicar em outubro. Em uma perspectiva mais ampla, a conta de luz acumula uma alta de 10,64% nos últimos 12 meses, refletindo uma persistente pressão sobre os orçamentos familiares.
Em um contraponto à tendência geral de alta, o grupo Alimentação e Bebidas apresentou uma trajetória de queda pelo quarto mês consecutivo, registrando um recuo de 0,26% em setembro. Essa deflação é um alívio para os consumidores e foi impulsionada por diversos produtos essenciais da cesta básica. Entre os destaques da queda de preços estão o tomate, com redução de 11,52%; a cebola, com -10,16%; o alho, que recuou 8,70%; a batata-inglesa, com -8,55%; e o arroz, com queda de 2,14%. No acumulado dos quatro meses de declínio, o grupo Alimentação e Bebidas acumula uma redução de 1,17%. No entanto, olhando para o ano, os alimentos ainda exibem uma expansão média de 2,67% nos preços, em comparação com a alta de 3,64% do IPCA geral. Fernando Gonçalves explicou que essa queda nos preços dos alimentos é primariamente uma “questão de oferta”, indicando que uma maior disponibilidade de produtos no mercado contribuiu para a moderação dos valores.
Dos nove grupos de despesas analisados pelo IBGE para a composição do IPCA, três registraram deflação (queda média de preços) no mês de setembro. Além de Alimentação e Bebidas (-0,26% e impacto de 0,06 p.p.), os grupos Comunicação (-0,17%, com 0,01 p.p. de impacto) e Artigos de Residência (-0,40%, com 0,01 p.p. de impacto) também apresentaram redução. Por outro lado, outros grupos importantes registraram aumentos, como Vestuário (0,63%, impacto de 0,03 p.p.), Despesas Pessoais (0,51%, impacto de 0,05 p.p.), Saúde e Cuidados Pessoais (0,17%, impacto de 0,02 p.p.), Educação (0,07%, impacto de 0,01 p.p.) e Transportes (0,01%, sem impacto significativo em p.p.).

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
A análise do índice de difusão, que serve como um indicador do “espalhamento” da inflação pela economia, revelou uma redução em setembro, caindo de 57% em agosto para 52%. Este dado significa que pouco mais da metade dos 377 produtos e serviços pesquisados pelo instituto registraram aumento de preço no mês passado, indicando uma leve diminuição na amplitude dos reajustes. O IBGE também categoriza a inflação em dois grupos distintos para uma análise mais detalhada: serviços e monitorados. A inflação no grupo de serviços, que é frequentemente utilizado como um termômetro da demanda por bens e serviços na economia, ficou em 0,13%. Já os preços dos itens monitorados, aqueles cujos valores são controlados ou administrados pelo governo — como conta de luz, transporte público, planos de saúde, telefonia e combustíveis — apresentaram uma elevação mais acentuada, atingindo 1,87%.
Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IBGE, apontou que a inflação de serviços tende a ser mais resistente às quedas. “Depende muito dos salários”, explicou ele, contextualizando que o Brasil tem experimentado recentemente recordes nos índices de ocupação e rendimento dos trabalhadores. Esta dinâmica salarial pode exercer pressão sobre os custos dos serviços, contribuindo para sua menor volatilidade. O IPCA, utilizado para calcular o custo de vida, abrange famílias com rendimentos que variam de um a 40 salários mínimos. A coleta de preços é realizada em dez regiões metropolitanas, incluindo Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de Brasília e das capitais Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju, garantindo uma abrangência nacional da pesquisa.
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Em suma, a inflação oficial de setembro, impulsionada principalmente pela elevação dos custos de habitação e energia elétrica, reverteu a tendência de deflação observada em agosto, colocando o acumulado de 12 meses acima da meta governamental. Apesar da queda contínua nos preços de alimentos, a pressão da energia elétrica e outros serviços monitorados mostra a complexidade do cenário inflacionário brasileiro. Para aprofundar-se nas nuances da economia nacional e regional, continue acompanhando as análises e notícias em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil