rss featured 1885 1760105366

Novo Crédito Imobiliário: Galípolo Vê Mudança Estrutural

Economia

O novo crédito imobiliário proposto pelo governo federal não se configura como uma medida paliativa, mas sim uma profunda mudança estrutural para o setor. Essa foi a avaliação enfática de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central (BC), nesta sexta-feira. Segundo o dirigente da autoridade monetária, a reformulação do modelo atual atende a um dos pleitos expressos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as discussões sobre o tema, visando um sistema mais robusto e sustentável.

A iniciativa governamental busca remodelar as regras do financiamento de imóveis no Brasil, com o objetivo de gerar maior sustentabilidade e ampliar o alcance do crédito. As conversas entre o Banco Central e diversas entidades representativas do mercado financeiro intensificaram-se nos últimos meses, impulsionadas pela percepção de uma redução contínua na participação da poupança como fonte primária de recursos para o crédito habitacional, um desafio que exige uma resposta robusta e de longo prazo para o setor.

Novo Crédito Imobiliário: Galípolo Vê Mudança Estrutural

Durante o evento de lançamento do novo modelo, Galípolo ressaltou a relevância estratégica do crédito imobiliário, classificando-o como um dos indicadores mais cruciais para a saúde e estabilidade da economia brasileira. Ele relembrou os progressos significativos alcançados no setor habitacional após a implementação de programas como o “Minha Casa, Minha Vida”, que contribuíram para a expansão do acesso à moradia popular. Contudo, o presidente do BC advertiu que o sistema de habitação no Brasil ainda demonstra uma forte dependência dos recursos de poupadores e a projeção atual aponta para uma diminuição progressiva dos recursos da caderneta de poupança, cenário que justifica a urgência de uma reavaliação profunda e o desenvolvimento de fontes alternativas.

A discussão sobre o futuro do financiamento habitacional ganhou força diante da crescente necessidade de diversificar as fontes de financiamento e reduzir a dependência da poupança. Galípolo também destacou que, atualmente, existe uma “baixa harmonia entre as fontes de recursos que têm liquidez diária”, um desequilíbrio que impacta a eficiência e a disponibilidade de capital para o setor imobiliário. Para ele, a proposta apresentada representa “o primeiro passo de transição” rumo a um sistema mais eficiente e menos vulnerável às flutuações da poupança.

Declínio da Poupança e a Urgência da Mudança

A preocupação com a participação decrescente da poupança no volume total de recursos destinados ao financiamento de imóveis é corroborada por dados do mercado. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) revelou que a fatia da poupança no financiamento habitacional encolheu significativamente. Em 2022, essa participação era de 39%. Já em 2023, caiu para 34%, e a projeção para 2024 indica uma nova queda, chegando a 32%. Essa tendência de redução sublinha a necessidade imperativa de inovar e buscar novas estruturas de capitalização para garantir a perenidade do crédito imobiliário no país.

Para o Banco Central, a reformulação não é apenas uma questão de números, mas de garantir a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Um sistema com fontes de recursos mais diversificadas e eficientes tende a ser menos propenso a crises e mais capaz de responder às demandas da população por moradia. A transição para um modelo menos dependente da poupança é um movimento estratégico para assegurar que o mercado imobiliário continue a ser um motor de desenvolvimento econômico, mesmo em cenários de mudanças nos hábitos de poupança da população. O Banco Central tem sido uma voz ativa na busca por soluções que promovam a solidez e a competitividade do crédito no Brasil, conforme destacado em seus comunicados sobre o Sistema Financeiro Nacional, que podem ser consultados no site oficial do BC.

Novas Regras para o Uso da Poupança

Uma das principais inovações do novo modelo reside nas regras para o uso dos recursos da poupança. Pelas normas vigentes, 65% dos depósitos captados pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) devem ser obrigatoriamente direcionados para o crédito imobiliário. Além disso, 20% desses recursos precisam ser recolhidos compulsoriamente ao Banco Central, enquanto os 15% restantes podem ser utilizados livremente pelos bancos para outras aplicações ou investimentos.

A transição para o novo arcabouço será gradual, com início ainda este ano e plena vigência prevista para janeiro de 2027. A partir dessa data, o direcionamento obrigatório de 65% dos depósitos da poupança para o crédito imobiliário será descontinuado, e os depósitos compulsórios específicos referentes a essa aplicação também serão eliminados. No futuro, o volume total dos recursos depositados na caderneta de poupança passará a servir como referência para o montante de dinheiro que as instituições financeiras deverão destinar ao crédito habitacional, abrangendo tanto as modalidades do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) quanto do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).

Novo Crédito Imobiliário: Galípolo Vê Mudança Estrutural - Imagem do artigo original

Imagem: valor.globo.com

Um dos mecanismos centrais do novo modelo estabelece um incentivo para as instituições financeiras. Quando estiver plenamente implementado, se um banco captar, por exemplo, R$ 1 milhão no mercado e direcionar integralmente esse montante para financiamento imobiliário, ele terá a permissão de utilizar a mesma quantia captada na poupança, que possui um custo mais baixo, para aplicações livres por um período predeterminado. Contudo, essa flexibilidade está condicionada a uma exigência crucial: 80% dos financiamentos habitacionais realizados pela instituição deverão ser feitos pelas regras do SFH, que impõem um limite de juros de 12% ao ano, garantindo assim que o benefício do crédito mais barato chegue ao consumidor final.

Impacto na Classe Média e no Setor da Construção Civil

O anúncio do novo modelo de financiamento imobiliário foi recebido com entusiasmo por representantes do setor. Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abraic), elogiou a medida, afirmando que ela beneficiará, sobretudo, a classe média brasileira. “O novo modelo de financiamento tem como objetivo alavancar a oferta de crédito, o que vai ser importante para a classe média brasileira. Permitirá que centenas de milhares de famílias realizem o sonho da casa própria”, declarou França, ao lado do presidente Lula, durante o evento realizado em São Paulo.

França reiterou que o país possui um vasto potencial de crescimento no segmento de crédito imobiliário e destacou a consolidação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. O presidente da Abraic sublinhou ainda a importância econômica da construção civil, afirmando que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor é um significativo impulsionador do PIB do Brasil como um todo. Ele também pontuou que a construção civil é uma grande geradora de empregos, com uma média de 2,8 milhões de postos de trabalho anuais, reforçando o papel vital do setor para a economia nacional.

A mudança estrutural no crédito imobiliário, portanto, busca não apenas reequilibrar as fontes de recursos, mas também impulsionar o acesso à moradia e fortalecer um dos pilares da economia brasileira. A expectativa é que, com mais oferta de crédito e condições mais favoráveis, o mercado imobiliário possa continuar sua trajetória de crescimento e contribuir para a realização do sonho da casa própria para milhões de brasileiros.

Confira também: Investir em Imóveis na Região dos Lagos

Este novo arcabouço de crédito imobiliário, conforme detalhado por Gabriel Galípolo e Luiz França, visa criar um ambiente mais previsível e com maior liquidez para o financiamento da moradia no Brasil. A transição gradual até 2027 permitirá que bancos e consumidores se adaptem às novas regras, consolidando um sistema mais robusto e menos dependente da poupança. Para continuar acompanhando as principais notícias sobre economia e as políticas que impactam o seu dia a dia, explore a nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Deixe um comentário