Na sexta-feira, 10 de outubro de 2025, milhares de palestinos desalojados iniciaram um movimento de retorno às suas residências após a implementação de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. A trégua permitiu que as forças israelenses começassem a se retirar de determinadas áreas da Faixa de Gaza, abrindo caminho para o deslocamento dos civis.
Uma vasta coluna de habitantes foi observada se dirigindo para o norte, em meio à poeira, rumo à Cidade de Gaza. Esta, a maior aglomeração urbana do enclave, havia sido palco de intensos ataques militares israelenses poucos dias antes, configurando uma das maiores ofensivas da guerra que assolou a região por dois anos.
Moradores de Gaza Retornam às Casas Destruídas
Apesar da alegria do retorno, a realidade para muitos era de profunda devastação. Ismail Zayda, um homem de 40 anos residente da área de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza, expressou seu alívio ao constatar que sua casa ainda estava de pé, mas com uma ressalva amarga: “Graças a Deus, minha casa ainda está de pé, mas o lugar está destruído, as casas dos meus vizinhos estão destruídas, bairros inteiros foram destruídos.”
O acordo de cessar-fogo foi ativado pontualmente ao meio-dia, horário local, correspondente às 6h no horário de Brasília. O governo de Israel havia ratificado o pacto com o Hamas nas primeiras horas daquela sexta-feira, estabelecendo as condições para uma retirada parcial das tropas e a suspensão completa das hostilidades na Faixa de Gaza dentro de um período de 24 horas.
Como parte fundamental do entendimento, o Hamas tem a expectativa de libertar 20 reféns israelenses que se encontram vivos em Gaza, um processo que deve ser concluído em até 72 horas. Em contrapartida, Israel se comprometeu a soltar 250 palestinos que cumprem longas sentenças em prisões israelenses, além de outros 1.700 indivíduos detidos em Gaza durante o conflito.
A vigência do acordo também garante a entrada de caminhões carregados com alimentos e suprimentos médicos na Faixa de Gaza. Esta ajuda é crucial para a população civil, centenas de milhares da qual se encontram abrigadas em tendas, após a destruição de suas casas e o arrasamento de cidades inteiras pelas forças israelenses.
A primeira etapa da iniciativa proposta pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para pôr fim à guerra de dois anos em Gaza, exige a retirada das forças israelenses de algumas das principais áreas urbanas do enclave. Contudo, Israel manterá o controle sobre aproximadamente metade do território da Faixa de Gaza.
Em um pronunciamento televisionado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfatizou que as forças israelenses permanecerão em Gaza. O objetivo, segundo ele, é assegurar a desmilitarização do território e o desarmamento do Hamas em fases subsequentes do plano de Trump. “Se isso for alcançado da maneira mais fácil, então será bom, e se não for, então será alcançado da maneira mais difícil”, declarou o premiê.
Nos campos de batalha, a situação era mista. Em Khan Younis, na porção sul da Faixa de Gaza, alguns soldados israelenses recuaram da região leste, próxima à fronteira. Entretanto, moradores que mantiveram contato com a agência de notícias Reuters relataram ter ouvido bombardeios de tanques. No campo de Nusseirat, localizado no centro do enclave, algumas tropas israelenses desmantelaram suas posições e se dirigiram para o leste, em direção à fronteira israelense. Outras, porém, permaneceram na área após relatos de tiros na madrugada de sexta-feira. As forças israelenses também se retiraram da estrada que margeia a costa do Mediterrâneo em direção à Cidade de Gaza.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
A experiência do deslocamento e a visão das ruínas marcam profundamente os retornantes. Mahdi Saqla, também de 40 anos, descreveu a sensação: “Assim que ouvimos a notícia da trégua e do cessar-fogo, ficamos muito felizes e nos preparamos para voltar à Cidade de Gaza, para nossas casas. É claro que não há casas — elas foram destruídas. Mas estamos felizes só de voltar para onde nossas casas estavam, mesmo em escombros. Isso também é uma grande alegria. Há dois anos estamos sofrendo, deslocados de um lugar para outro.”
A guerra intensificou o isolamento internacional de Israel e desestabilizou o Oriente Médio, escalando para um conflito regional que atraiu nações como Irã, Iêmen e Líbano. O cenário também testou a relação entre os Estados Unidos e Israel, com Donald Trump demonstrando sinais de impaciência com Benjamin Netanyahu e pressionando por um acordo de paz. Para mais informações sobre as relações internacionais na região, consulte documentos da ONU sobre a questão palestina.
Tanto israelenses quanto palestinos receberam com alívio o anúncio do acordo, considerado o passo mais significativo até então para encerrar dois anos de conflito, que resultaram na morte de mais de 67 mil palestinos. O pacto também visa garantir o retorno dos últimos reféns capturados pelo Hamas nos ataques que precederam a guerra.
Khalil Al-Hayya, líder exilado do Hamas em Gaza, afirmou ter recebido garantias dos Estados Unidos e de outros mediadores de que o conflito havia chegado ao fim. Atualmente, acredita-se que 20 reféns israelenses ainda estejam vivos em Gaza, enquanto 26 teriam morrido e o destino de outros dois permanece desconhecido. O Hamas indicou que a recuperação dos corpos pode demandar mais tempo do que a libertação dos reféns que estão vivos.
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Este retorno, permeado pela destruição e pela esperança de uma paz duradoura, marca um novo capítulo para os moradores da Faixa de Gaza. Acompanhe a editoria de Política em Hora de Começar para ficar por dentro dos desdobramentos deste e de outros conflitos internacionais.
Crédito da imagem: Reuters/Ebrahim Hajjaj/proibida reprodução