O uso do exoesqueleto, uma avançada estrutura robótica projetada para auxiliar movimentos em indivíduos com deficiência motora, tem demonstrado resultados notáveis. Enquanto em adultos os benefícios se manifestam em melhorias cardiovasculares e circulatórias, em crianças, os impactos positivos têm sido verdadeiramente surpreendentes, revelando um potencial transformador para o desenvolvimento infantil.
Essas descobertas promissoras são o fruto de testes experimentais em andamento na unidade Vila Mariana da renomada rede de reabilitação Lucy Montoro, localizada em São Paulo. O protocolo de pesquisa envolve um grupo de 20 crianças, com idades entre 3 e 8 anos, que se encontram na fase crucial de aquisição da marcha. Durante as sessões, cada criança participa de atividades com o aparelho por 20 minutos, realizadas duas vezes por semana, marcando os primeiros passos em sua jornada com a tecnologia assistiva.
Exoesqueleto Melhora Fala e Motor em Crianças com Deficiência
Um dos efeitos mais imediatos e impactantes observados com o uso do robô pelas crianças é a significativa melhoria no desenvolvimento da fala. Em poucas sessões, os pequenos pacientes demonstraram uma capacidade aprimorada de articular palavras e, em muitos casos, expandiram consideravelmente sua articulação durante as conversas. Essa evolução linguística é um indicativo da profunda interconexão entre o desenvolvimento motor e cognitivo.
A explicação para esse fenômeno é bastante clara, segundo Linamara Rizzo Battistella, professora titular de fisiatria da USP e presidente do conselho do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. De acordo com a especialista, quando a criança adota a postura ereta e realiza a marcha, sua caixa respiratória se otimiza. Essa melhoria no movimento de inspiração e expiração do ar auxilia a criança, de maneira inconsciente, a organizar com maior eficácia seu sistema fono-reticular, fundamental para a produção da fala e a articulação das palavras.
O principal avanço atribuído ao exoesqueleto, conforme os pesquisadores, reside em sua ação córtico-motora. Este processo complexo envolve a interação direta entre o córtex cerebral, a camada externa e mais evoluída do cérebro humano, e os neurônios motores. Essa comunicação eficaz é essencial para a execução de movimentos voluntários, permitindo que a criança restabeleça ou aprimore sua capacidade de interação com o ambiente físico.
Os pesquisadores relatam que a ação córtico-motora do exoesqueleto não se limita apenas à melhoria da fala. Seus impactos se estendem à qualidade do sono, à eficiência da respiração, à capacidade de se alimentar de forma mais autônoma e a uma série de benefícios musculares. Consequentemente, a estrutura robótica confere maior potência e precisão aos movimentos. Além disso, avanços significativos são observados na autoestima das crianças, na sua cognição e no desenvolvimento escolar, promovendo uma melhoria global na qualidade de vida dos pequenos pacientes.
Ainda está em análise a determinação de um modelo ideal de sessões com o robô, com os pesquisadores trabalhando para otimizar a frequência e a duração dos tratamentos. As equipes de atenção à criança são multidisciplinares, contando com a expertise de educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos e médicos, garantindo uma abordagem completa e personalizada para cada caso, com foco nas necessidades individuais dos pacientes.
Um exemplo comovente é o de Lorena Rodrigues Souza, de 9 anos. Após sofrer uma lesão medular em abril de 2024 devido a um acidente de carro, Lorena perdeu parte dos movimentos das pernas. Mesmo tendo utilizado o equipamento apenas quatro vezes, sua mãe, Naira da Silva Souza, relata impactos iniciais profundos, tanto emocionais quanto na percepção de força da filha. “Ela fica muito ansiosa antes das sessões e feliz depois de usar o robô. A força do chute dela já mudou. Para mim, ver ela em pé novamente, perceber o quanto ela cresceu, em um ano, é muito emocionante. Tudo isso vai ampliando na gente a esperança e a fé que ela terá um bom desenvolvimento”, compartilha Naira, demonstrando a importância do exoesqueleto na recuperação de sua filha.
A notável rapidez com que as crianças respondem aos estímulos proporcionados pelo robô está diretamente ligada à neuroplasticidade motora. Este fenômeno cerebral permite que o cérebro e a medula espinhal se reorganizem de forma adaptativa, buscando reativar movimentos que foram perdidos. Essa capacidade inata do sistema nervoso infantil é um diferencial crucial no sucesso da terapia com exoesqueletos, potencializando a recuperação e o aprendizado motor.
A professora Linamara Battistella explica que essa reorganização neural é mensurável por meio de um exame específico, o BDNF. “Consigo saber o quanto se está impactando na vida dessa criança. É preciso pensar, raciocinar e fazer o movimento. O que faz diferença no processamento central é o quanto o teu raciocínio está envolvido”, afirma, destacando a complexidade e a profundidade dos efeitos do exoesqueleto no desenvolvimento cognitivo e motor. Para mais informações sobre os avanços da robótica na medicina, você pode consultar o site do Hospital Israelita Albert Einstein.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A tecnologia do robô é altamente personalizável, sendo programada para oferecer reações distintas que se ajustam a cada tipo e nível de desenvolvimento das crianças. Essa flexibilidade permite configurar o equipamento com precisão, controlando o ângulo de flexão do joelho, a velocidade da marcha e a força necessária para cada movimento, assegurando um tratamento adaptado e eficaz para cada pequeno paciente.
O fisioterapeuta Pedro Henrique Roschel Santos é um dos profissionais que acompanham semanalmente as crianças nas sessões com o exoesqueleto. Ele observa um notável aumento no alinhamento corporal dos pequenos após a marcha assistida pelo robô. “As crianças saem animadas, querendo ir mais uma vez [depois das sessões]. Aquela ansiedade que sentem antes de começar vai embora”, relata Pedro, evidenciando o impacto positivo na disposição e no bem-estar emocional das crianças.
Pedro Henrique também é responsável pelos ajustes minuciosos na máquina antes de cada uso. Esses ajustes incluem a calibração de altura e peso e outras adaptações finas, todas determinadas pela estrutura corpórea individual de cada criança, garantindo a segurança e a eficácia do tratamento.
Thiago Luiz Nogueira esteve presente acompanhando sua filha, Heloísa, de 7 anos, durante seu primeiro teste com o equipamento na quarta-feira (8). Heloísa, aos dois anos, perdeu parte dos movimentos das pernas em decorrência de uma infecção. “Ela arrasta bem a perna esquerda ainda. Tomara que o robô consiga ajudar nisso. O astral aqui é muito bom, a gente sente o acolhimento”, declara o pai, esperançoso com os resultados que o exoesqueleto pode trazer para a mobilidade da filha.
Atualmente, a Rede Lucy Montoro dispõe de sete robôs, que incluem modelos adultos e infantis, importados de diversos países, como Coreia do Sul, China, França e Taiwan. Essa diversidade de equipamentos de ponta reforça o compromisso da instituição com a inovação e a excelência na reabilitação.
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A aplicação do exoesqueleto em crianças com deficiência motora representa um marco na reabilitação, trazendo benefícios que vão além do físico, impactando positivamente a fala, a cognição e o bem-estar emocional. A contínua pesquisa e os depoimentos emocionantes de pais e profissionais reforçam a esperança em um futuro com mais autonomia para os pequenos. Para ficar por dentro de mais notícias e análises sobre inovações na saúde e tecnologia, continue acompanhando nossas últimas reportagens em nossa editoria.
Crédito da imagem: Karime Xavier/Fohapress