Documentário aborda devolução de crianças adotadas no Brasil

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A **devolução de crianças adotadas** emerge como o foco central do documentário em produção, intitulado E se você não me quiser?. A produção cinematográfica se aprofunda nas complexas nuances das adoções interrompidas, explorando tanto as razões que levam ao desfazimento desses vínculos quanto as dificuldades enfrentadas por essas crianças ao buscarem uma nova família. As filmagens tiveram início neste mês, abrangendo locações estratégicas no Rio de Janeiro e em Curitiba, e a previsão de lançamento está programada para o primeiro semestre de 2026.

O roteiro do documentário não apenas retrata as histórias individuais, mas também busca levantar um debate crucial sobre a preparação de famílias e os impactos profundos que o retorno a uma instituição de acolhimento pode causar na vida dos menores. A proposta é oferecer uma visão abrangente e sensível de um tema que, embora presente na sociedade, raramente é discutido abertamente, visando a conscientização e a reflexão sobre as responsabilidades inerentes ao processo de adoção.

Documentário aborda devolução de crianças adotadas no Brasil

A inspiração para o projeto do documentário que aborda a devolução de crianças adotadas remonta a 2011, quando o produtor Eliton Oliveira se deparou com uma reportagem reveladora sobre o tema. Essa leitura inicial impulsionou uma década de pesquisa aprofundada, durante a qual Oliveira consultou uma vasta gama de especialistas – incluindo médicos, psicólogos, advogados e representantes de conselhos tutelares – para compreender as múltiplas dimensões das adoções desfeitas e reunir as narrativas que compõem o filme.

A Gênese de “E se você não me quiser?”

A jornada de Eliton Oliveira no desenvolvimento do documentário ‘E se você não me quiser?’ é um testemunho de seu compromisso em elucidar uma questão social complexa. Desde o primeiro contato com o tema em 2011, sua dedicação em pesquisar, ouvir e coletar depoimentos foi fundamental para a construção de um roteiro autêntico e embasado. Essa fase de pesquisa permitiu ao produtor mapear as histórias mais pertinentes e os pontos de vista mais relevantes para a narrativa, garantindo que o documentário oferecesse uma perspectiva multifacetada sobre a devolução de crianças adotadas.

A escolha de abordar o tópico por meio de um documentário reforça a intenção de gerar um impacto significativo, promovendo o entendimento e o diálogo em torno das adoções interrompidas. A equipe de produção, ciente da sensibilidade do assunto, dedicou-se a capturar as emoções e os desafios enfrentados tanto pelas crianças quanto pelas famílias envolvidas, procurando uma abordagem equilibrada que incentive a empatia e a reflexão social.

Histórias Reais de Adoções Interrompidas

No Rio de Janeiro, palco inicial das filmagens, o documentário acompanha de perto as trajetórias de dois jovens: Bruno e Pedro. A história de Bruno é marcada por uma infância difícil, vivendo nas ruas com sua mãe antes de ser encaminhado a um abrigo. Após um período de acolhimento, ele foi adotado, mas a primeira experiência familiar resultou em devolução. Felizmente, Bruno encontrou uma segunda oportunidade para recomeçar sua vida em um novo lar.

Já Pedro vivenciou uma adoção por um casal de mulheres. No entanto, a ausência da figura paterna que ele idealizava transformou o processo de adaptação em uma experiência dolorosa e repleta de traumas, levando-o a expressar o desejo de ser devolvido. Essas narrativas, contadas com sensibilidade e profundidade, ilustram as complexidades emocionais e psicológicas envolvidas nas adoções e no subsequente processo de devolução.

A Perspectiva da Diretora Ana Azevedo

Ana Azevedo, diretora do documentário, detalha a história de Bruno, que se tornou uma das narrativas centrais do filme. “Nossa história principal está em Vargem Grande, no Rio. É a história do Bruno. Ele tinha uma mãe usuária de drogas e alcóolatra. Fugiu por maus-tratos. Viveu num abrigo por nove meses e tomou a decisão de ser adotado”, relata a cineasta. No entanto, a primeira família adotiva não conseguiu lidar com a “carga” emocional de Bruno e optou pela devolução da criança.

Nove meses após a devolução, Bruno foi acolhido por um novo casal, Tati e Rogério, que também são personagens centrais do documentário. Ana Azevedo descreve os desafios iniciais: “Ele era um menino muito agressivo, que explodia com muita facilidade. Eles contaram diversos casos do que aconteceu, de destruir a casa inteira, de se machucar, vários episódios de violência. Eles contam como foi difícil, mas eles o viam como filho. Eles conseguiram lidar com essa bagagem dele.” A história de Tati e Rogério ressalta a importância da resiliência e do preparo das famílias para lidar com as particularidades de crianças com histórico de vulnerabilidade, que são frequentemente associadas a casos de devolução de crianças adotadas.

Desafios e Consequências da Devolução

Para Ana Azevedo, o processo de adoção é frequentemente idealizado, com um foco excessivo nos aspectos positivos. “Só se fala da parte bonita, de uma família que se abre, mas a gente não fala de que essa família tem que estar muito preparada para receber qualquer criança. Quando a família não está preparada, a gente tem esses casos de devolução”, afirma a diretora. O documentário visa justamente “despertar esse debate para que as pessoas que tomam essa decisão saibam o que elas vão ter que enfrentar”, oferecendo uma visão mais realista e completa dos desafios da adoção.

A diretora faz um alerta enfático sobre a enorme responsabilidade que acompanha a decisão de adotar. A devolução de uma criança, causada pela falta de adaptação ao novo convívio familiar, pode acarretar consequências severas e duradouras para o menor. “As crianças vêm com uma bagagem gigantesca. Se a família a devolve, isso causa traumas ainda maiores. Geralmente são crianças um pouco maiores, vêm da periferia, têm histórico de abuso, com uma família que a negligenciava”, explica Ana. Essa realidade sublinha a urgência de um sistema de suporte mais robusto e de um preparo mais aprofundado para as famílias que desejam adotar, prevenindo a dolorosa experiência da devolução de crianças adotadas.

Dados Nacionais sobre Adoção Desfeita

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem monitorado situações como as apresentadas no documentário, revelando estatísticas preocupantes sobre a devolução de crianças adotadas no Brasil. Conforme dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, mantido pelo conselho, aproximadamente nove em cada cem processos de adoção no país são desfeitos. Este percentual é um indicativo da complexidade e dos desafios inerentes ao processo.

Desde 2019, o sistema registrou um total de 24.673 crianças e adolescentes adotados. Deste universo, 2.198 foram devolvidos a instituições de acolhimento, o que representa um índice de 8,9% de adoções desfeitas. Esses números destacam a necessidade de uma análise aprofundada sobre os fatores que levam à interrupção desses vínculos familiares, bem como a urgência de fortalecer o apoio tanto às famílias quanto às crianças envolvidas para evitar a devolução de crianças adotadas.

O Marco Legal e a Realidade da Devolução

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece a adoção como uma medida de caráter excepcional e irrevogável, buscando a estabilidade e a segurança dos menores. Contudo, na prática, os juizados de infância ocasionalmente se veem na posição de atender a pedidos de devolução. Essa medida, embora contrária ao espírito da lei, é tomada para proteger a criança ou o adolescente de situações de maus-tratos, abusos, humilhações, indiferença e descaso dentro do lar que manifestou a intenção de desistir da adoção. Para mais informações sobre as diretrizes e programas de adoção no Brasil, consulte o portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Um diagnóstico abrangente sobre a devolução de crianças e adolescentes em estágio de convivência e adotadas, publicado em 2024 pelo CNJ em parceria com a Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), aponta que, apesar de ser uma ocorrência relativamente rara, a devolução de crianças adotadas levanta questões cruciais sobre o processo adotivo e o preparo dos pais. O documento enfatiza que diversos fatores, como as características individuais das crianças, a dinâmica familiar e as expectativas dos pais adotivos, podem influenciar essa decisão. As variações regionais e a eficácia das equipes de adoção também desempenham um papel significativo, conforme o estudo.

O estudo ressalta a imperatividade de uma abordagem mais holística no processo de adoção. Essa abordagem deve englobar não apenas o preparo inicial e o acompanhamento contínuo dos pais adotivos, mas também a criação de um sistema de suporte robusto para as crianças em todas as fases: antes, durante e após a efetivação da adoção. Tal estrutura é vital para mitigar os riscos de devolução de crianças adotadas e assegurar o bem-estar dos menores.

Fatores Contribuintes e Impactos Psicológicos

Embora o ECA considere a adoção excepcional e irrevogável, a legislação prevê a possibilidade de dissolução quando todos os recursos para a permanência da criança ou adolescente na família natural ou extensa se esgotam. O estudo do CNJ e da ABJ aprofunda-se nas causas da devolução, revelando insights importantes. Entrevistas com famílias que desistiram da adoção indicam que diagnósticos psiquiátricos, a necessidade de uso contínuo de medicamentos e outras questões psicológicas da criança foram fatores determinantes para a descontinuidade do processo.

Os pais alegaram, em muitos casos, que não estavam devidamente preparados para lidar com as complexidades da situação, o que contribuiu significativamente para a dificuldade em estabelecer vínculos afetivos sólidos, gerando a devolução de crianças adotadas. Este fator de despreparo emerge como um ponto crítico no diagnóstico, evidenciando lacunas no suporte e na orientação oferecidos às famílias antes e durante a adoção.

O relatório alerta severamente para os profundos efeitos na saúde psicológica e emocional das crianças e adolescentes que vivenciam uma adoção desfeita. Além dos impactos negativos na formação da subjetividade e da individualidade, o estudo constatou diversas manifestações prejudiciais: sentimentos de culpa, tristeza e baixa autoestima são comuns, assim como agressividade e outras reações comportamentais que resultam em convivências conflituosas. A dificuldade de vinculação e o desenvolvimento de transtornos psicológicos, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático, são consequências trágicas da devolução de crianças adotadas, sublinhando a urgência de uma atenção especializada e contínua para esses jovens.

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O documentário “E se você não me quiser?” promete ser uma obra essencial para o debate sobre a devolução de crianças adotadas, trazendo à luz as histórias e os dados que circundam essa realidade sensível. Ao explorar as complexidades do tema e os impactos na vida dos menores e das famílias, a produção visa promover maior conscientização e aprimorar o sistema de adoção no Brasil. Para mais análises sobre desafios sociais e familiares, continue explorando nossa editoria de Direitos Humanos.

Crédito da imagem: E se você não me quiser/Divulgação

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