Na era da inteligência artificial, as consultorias enfrentam um imperativo de transformação: reinventar-se como empresas de software é crucial para a sua sobrevivência. Este alerta foi dado por Mohamad Ali, chefe da IBM Consulting, em entrevista ao Financial Times, destacando a necessidade de uma mudança profunda no modelo de negócio tradicional do setor.
A percepção de Mohamad Ali reflete uma realidade de mercado em rápida evolução, marcada por nova concorrência vinda de companhias de tecnologia e um crescente ceticismo por parte dos clientes. Essas pressões forçam as consultorias a questionar suas estratégias e a buscar novas avenidas para agregar valor, num cenário em que as oportunidades e os riscos trazidos pela IA ainda estão sendo plenamente compreendidos.
Consultorias Devem Virar Empresas de Software na Era da IA
Mohamad Ali, que retornou à IBM há dois anos, foi incumbido da missão de converter a divisão de consultoria da gigante tecnológica em um modelo de “serviço como software”. Seu objetivo é ambicioso: desenvolver milhares de “agentes” digitais capazes de executar tarefas com supervisão humana mínima. Inicialmente, esses agentes seriam implementados internamente na IBM e, posteriormente, oferecidos aos clientes.
“O futuro da consultoria será uma combinação de pessoas e software, e muito software”, afirmou Ali. Ele complementou, de forma categórica, que “as consultorias que não conseguirem fazer isso vão desaparecer”, enfatizando a urgência dessa adaptação para manter a relevância no mercado.
Tradicionalmente, os consultores desempenham um papel fundamental em ajudar empresas a otimizar processos e alcançar maior eficiência. Isso inclui desde a criação de planos de reestruturação complexos até a implementação de softwares de terceiros e a oferta de expertise em áreas específicas, como a segurança cibernética, um campo cada vez mais vital no ambiente digital.
Contudo, o avanço da inteligência artificial está alterando esse panorama. Muitas das tarefas que antes exigiam a intervenção humana intensiva agora podem ser realizadas por agentes semiautônomos. O desafio atual para as consultorias reside em determinar quando desenvolver essas ferramentas internamente e, de forma ainda mais complexa, como integrar e fazer com que milhares de agentes distintos trabalhem em conjunto de maneira coesa e eficaz.
Grandes firmas de consultoria, como Deloitte, KPMG e McKinsey, estão em uma corrida acelerada para desenvolver suas próprias plataformas de IA “agêntica”. Essas plataformas prometem uma variedade de ferramentas digitais que poderão ser aplicadas diretamente nas operações dos clientes, visando otimizar processos e gerar novos insights.
Ali prevê que as empresas de software, com sua expertise inerente em desenvolvimento tecnológico, também entrarão no mercado de serviços digitais, oferecendo soluções por meio de agentes. “Por isso, nossa estratégia é correr o mais rápido possível para entregar o máximo possível por meio desses agentes e converter boa parte do nosso negócio em um negócio de software”, explicou o executivo da IBM Consulting, delineando a urgência e a direção estratégica da companhia.
No cenário econômico atual, as consultorias depositam esperanças na adoção massiva da IA para reverter um período de crescimento lento, que já se estende por mais de dois anos. A divisão de consultoria da IBM, por exemplo, teve o desempenho mais fraco entre suas três principais áreas neste ano, registrando nenhum crescimento de receita. Este resultado contrasta com o aumento de 5% na área de hardware e um robusto crescimento de 9% no segmento de software, evidenciando a disparidade de performance.
Mohamad Ali atribui parte dessa estagnação na consultoria ao aumento dos investimentos internos em IA pelas próprias empresas clientes. Além disso, a economia incerta e os cortes de gastos do governo americano também contribuem para a desaceleração do setor. “As companhias estão gastando muito dinheiro tentando descobrir como construir isso”, observou ele, referindo-se aos esforços internos de desenvolvimento de IA.

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Apesar dos investimentos internos, Ali acredita que as empresas eventualmente reconhecerão a necessidade de consultorias especializadas para implementar e escalar suas estratégias de IA. Ele cita um estudo do MIT que revelou que 95% dos projetos de IA generativa falharam em gerar retorno financeiro, destacando a complexidade e os desafios da adoção bem-sucedida dessa tecnologia. Para entender melhor o potencial econômico da IA generativa e suas aplicações transformadoras, é válido consultar estudos aprofundados sobre o tema, como os apresentados pela McKinsey.
Entretanto, o ceticismo persiste entre alguns líderes corporativos, que questionam o valor adicional que as consultorias podem oferecer em comparação com o desenvolvimento interno. Investidores também demonstram apreensão. As ações da Accenture, uma das maiores rivais da IBM, sofreram uma queda de 30% neste ano, em parte devido a preocupações com o impacto da IA em seu segmento de serviços gerenciados, onde clientes terceirizam funções como call centers. A CEO da Accenture, Julie Sweet, anunciou no mês passado que a empresa está reformulando sua força de trabalho para a era da IA, o que implicará na demissão de funcionários que não conseguirem adquirir as novas habilidades exigidas.
A trajetória de Mohamad Ali na IBM é notável. Ele atuou na empresa entre 1996 e 2009, período em que supervisionou o crescimento da área de softwares de análise. Após essa fase, ele ocupou cargos de liderança fora da IBM, incluindo chefe de estratégia na Hewlett-Packard, CEO de um grupo de pesquisa tecnológica e de uma empresa de software em nuvem. Seu retorno à IBM em 2023 marcou sua nomeação como diretor de operações da divisão de consultoria, assumindo a liderança da área em julho do ano passado.
Ali enfatiza que a IBM Consulting está posicionando a IA agêntica como um motor fundamental para a eficiência corporativa. Ele exemplifica isso com os próprios esforços internos da IBM, que resultaram em uma economia de US$ 3,5 bilhões em dois anos, alcançada por meio da automação em 70 áreas distintas da empresa.
Concluindo sua análise, Mohamad Ali ressaltou que os grandes modelos de linguagem (LLMs) estão rapidamente se tornando commodities. Segundo ele, “o foco agora não é mais nos LLMs em si, mas nas aplicações que você constrói sobre eles”, indicando que o valor real da inteligência artificial se manifestará na criação de soluções práticas e inovadoras que utilizem esses modelos como base.
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A transformação das consultorias em empresas de software, impulsionada pela inteligência artificial, é um tema central para o futuro do mercado corporativo. As análises de Mohamad Ali da IBM Consulting sublinham um caminho inevitável de adaptação e inovação. Continue acompanhando a nossa editoria de Economia para se manter atualizado sobre as últimas tendências e impactos da tecnologia nos negócios.
Crédito da imagem: Benoit Tessier/Reuters