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Indígenas em Brasília Reivindicam Demarcação e Ações Climáticas

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Indígenas em Brasília reivindicam demarcação de terras e urgentes ações contra as mudanças climáticas, em um evento que reuniu aproximadamente 200 representantes de diversas etnias de todo o país na capital federal. A mobilização, ocorrida nesta segunda-feira, 13 de outubro de 2025, na Esplanada dos Ministérios, destacou a importância vital dos territórios demarcados não apenas para a sobrevivência cultural dos povos originários, mas também como uma estratégia fundamental na mitigação dos impactos climáticos globais.

A pauta principal abordou a necessidade de aceleração nos processos de demarcação de Terras Indígenas (TIs) e o reconhecimento do papel essencial desses povos na preservação ambiental. A demanda por segurança territorial e a proteção contra os efeitos devastadores das alterações climáticas foram ecoadas por vozes como a da artesã Luana Kaingang, 34 anos, originária de um território demarcado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Luana, que exibia peças de sua comunidade, lamentou os sérios desafios enfrentados por seu povo devido à instabilidade climática. A criciúma, a taquara e o komag, plantas cruciais para a produção artesanal de suas 58 famílias, já não crescem com a mesma abundância, afetadas por períodos de seca prolongada e fortes temporais que impactam negativamente suas terras.

Indígenas em Brasília Reivindicam Demarcação e Ações Climáticas

A falta de segurança territorial agrava ainda mais a vulnerabilidade diante das intempéries climáticas. A manifestação teve seu ponto alto com uma caminhada até o gramado em frente ao Ministério da Justiça, onde foram proferidas falas de forte reivindicação. A ação foi promovida pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio da organização Avaaz, e integrou a programação da Pré-COP Indígena, que acontece em Brasília nos dias 13 e 14 de outubro, em paralelo à Pré-COP dos Estados.

Terras Indígenas como Escudo Ambiental

Kleber Karipuna, diretor-executivo da Apib, enfatizou o papel protetor das demarcações, classificando cada Terra Indígena demarcada como um “escudo contra o desmatamento”. Ele ressaltou que a ciência corrobora o conhecimento ancestral dos povos indígenas: “terra demarcada é floresta em pé e viva”. Karipuna destacou que os territórios indígenas na Amazônia são responsáveis por gerar 80% das chuvas que abastecem o agronegócio brasileiro, evidenciando a interconexão entre a preservação dessas áreas e a economia nacional.

Contribuição Indígena na Mitigação Climática

O diretor da Apib apresentou dados concretos sobre a contribuição ambiental dos territórios indígenas. Apenas na Amazônia, entre 2001 e 2021, essas áreas absorveram cerca de 340 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera, um volume equivalente às emissões anuais de combustíveis fósseis do Reino Unido. Essa capacidade de sequestro de carbono sublinha o papel insubstituível desses povos como defensores da natureza. Além disso, as Terras Indígenas já demarcadas na Amazônia exibem um índice de desmatamento extremamente baixo, tendo perdido historicamente apenas 1,74% de sua vegetação original, um contraste significativo com as áreas não demarcadas.

Campanhas e Propostas Nacionais

O ato em Brasília fez parte da campanha “A Resposta Somos Nós”, da Apib. Neste mesmo ano, a entidade lançou a NDC Indígena (Contribuições Nacionalmente Determinadas), uma iniciativa pioneira construída pelos próprios povos originários. Esta proposta visa incluir a proteção de territórios, saberes tradicionais e modos de vida como parte das metas oficiais do Brasil no Acordo de Paris, reforçando o compromisso do país com a agenda climática global. É crucial que o Brasil, signatário de acordos internacionais como o Acordo de Paris, integre ativamente as perspectivas e contribuições indígenas em suas estratégias de sustentabilidade.

Indígenas em Brasília Reivindicam Demarcação e Ações Climáticas - Imagem do artigo original

Imagem:  Valter Campanato via agenciabrasil.ebc.com.br

Vozes dos Territórios: Impactos e Resiliência

As narrativas individuais dos artesãos e líderes presentes na manifestação ilustram a urgência da pauta. Luana Kaingang, do Rio Grande do Sul, reiterou que a demarcação de seu território é essencial para manter o modo de vida baseado na agroecologia e na proteção das matas nativas. Sua principal reivindicação na região é a preservação de parques e áreas verdes, combatendo a especulação imobiliária que ameaça a construção de prédios e condomínios.

Outra voz do povo Kaingang, Kauane Félix, 24 anos, também da Região Sul, participou do evento com seu filho de dois anos, envolto em uma bandeira do Brasil. Residente em uma comunidade rural em Novas Laranjeiras, Kauane denunciou o problema do desmatamento provocado por invasores nas redondezas, que têm devastado araucárias nativas e comprometido a segurança alimentar de seu povo. Ela relatou o impacto na produção de milho, feijão, mandioca e frutas nativas, como a pitanga. Kauane observou mudanças climáticas evidentes em sua própria experiência, contrastando o frio intenso de sua infância na mesma época com o calor atual. Apesar dos desafios, sua comunidade tem conseguido avanços no reflorestamento, inclusive com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, que realiza lançamento de sementes por helicóptero.

Da fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, na localidade de Japurã, a indígena Sally Nhandeva, 21 anos, compartilhou os desafios diários enfrentados por sua comunidade, incluindo ameaças de fazendeiros brasileiros e paraguaios. A presença de agrotóxicos dos vizinhos e as tentativas de despejo são uma realidade constante. Para Sally, que também é mãe, a demarcação de suas terras tem sido o principal fator de proteção de seu povo e de sua floresta. Questionando “Se a gente fugir, quem vai lutar por nós?”, ela demonstrou a inabalável resiliência e a determinação de permanecer e defender seu território.

A Apib informou que 104 Terras Indígenas aguardam apenas as etapas finais de homologação no Executivo Federal, reforçando o pedido por agilidade e compromisso governamental. A demarcação dessas áreas representa um passo crucial não apenas para a justiça social e cultural, mas também para a segurança climática e ambiental do Brasil e do mundo.

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A mobilização dos povos indígenas em Brasília ressalta a importância intrínseca da demarcação de terras como um pilar para a proteção ambiental e a mitigação das mudanças climáticas. As experiências e as vozes dos representantes originários em Brasília servem como um alerta e um chamado à ação para a sociedade e o governo, destacando que a proteção dos territórios indígenas é uma estratégia eficaz e urgente para a sustentabilidade. Para acompanhar mais notícias e análises sobre política, meio ambiente e as lutas sociais no Brasil, continue navegando em nossa editoria de Política.

Crédito da imagem: Valter Campanato/Agência Brasil

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