A adaptação à reforma tributária avança lentamente entre as empresas brasileiras, com uma significativa parcela ainda em estágios iniciais de preparação. Faltando menos de três meses para o início da fase de testes do novo sistema de impostos no país, dados recentes indicam que a maioria das companhias não demonstrou o ritmo necessário para se ajustar às complexas mudanças que se avizinham. Este cenário levanta preocupações sobre a capacidade do setor produtivo de lidar com a transição fiscal.
Um levantamento detalhado, conduzido pela Thomson Reuters – empresa especializada em soluções jurídicas, tributárias, de auditoria e contabilidade –, aponta que somente 35% das empresas no Brasil conseguiram progredir substancialmente em seus processos de adequação ao regime tributário reformado. A pesquisa, que representa a segunda edição do estudo e foi realizada entre os meses de julho e agosto com profissionais da área tributária corporativa, revelou que impressionantes 63% das companhias permanecem na fase de planejamento ou em etapas muito iniciais de suas estratégias de adaptação. Uma fração ainda menor de organizações sequer iniciou qualquer tipo de ação concreta.
Adaptação à Reforma Tributária: Apenas 35% das Empresas Avançam
Os resultados do estudo da Thomson Reuters sublinham uma apreensão generalizada no mercado. Cerca de 69% dos profissionais entrevistados expressaram profunda preocupação com as iminentes alterações, antecipando impactos financeiros e operacionais substanciais nos próximos cinco anos. Apesar desse nível de alerta, a maioria das empresas ainda não traduziu essa percepção de risco em medidas práticas e efetivas. Edinilson Apolinário, líder da área de reforma tributária da Thomson Reuters, ressaltou que, embora tenha havido uma aceleração nos trabalhos de preparação desde a primeira pesquisa em 2024 – com investimentos em tecnologia e desenvolvimento de pessoal –, a jornada ainda é longa e exigirá muito mais esforço.
A Revolução Digital e a Complexidade do Novo Sistema
Edinilson Apolinário enfatiza a natureza intrínseca e essencial da preparação, dado que o sistema de tributação vindouro será inteiramente digital. Comparando a apuração do Imposto de Renda atual, o executivo alertou que a complexidade do novo modelo será exponencialmente maior, em função do volume massivo de dados a serem processados. Essa digitalização abrangente exige não apenas a atualização de sistemas, mas também uma preparação contínua e aprimorada dos profissionais envolvidos, que precisarão dominar novas ferramentas e processos.
A pesquisa da Thomson Reuters indica que a tecnologia e a colaboração com parceiros especializados serão os pilares decisivos para o êxito na transição tributária. Aproximadamente 66% dos participantes da pesquisa consideram a tarefa de adaptar documentos fiscais eletrônicos aos novos tributos – o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo (IS) – como relevante, porém consideravelmente difícil. Essa adequação transcende os sistemas meramente fiscais, alcançando o universo dos softwares de gestão empresarial (ERPs) e os sistemas de relacionamento com clientes e fornecedores (CRMs).
Apolinário detalha que as mudanças vão além da esfera estritamente tributária, impactando plataformas de compras, vendas e até mesmo a logística. Todos esses sistemas precisarão ser meticulosamente atualizados para assegurar o cumprimento das novas regulamentações. Tal interconectividade e a amplitude das alterações demandam uma revisão profunda das infraestruturas tecnológicas e dos fluxos de trabalho internos.
Consultorias Especializadas e o Diferencial Competitivo na Reforma Tributária
Diante do cenário complexo, as empresas estão buscando suporte externo. Os estudos revelam que 27,9% das organizações já contrataram consultorias especializadas com o objetivo de quantificar o impacto da reforma nos preços de seus produtos e serviços, bem como em seus contratos comerciais. Além disso, mais da metade das companhias procura apoio externo para compreender as intrincadas mudanças regulatórias. Essa busca por expertise, segundo o estudo, está se consolidando como um diferencial competitivo crucial no mercado, permitindo que as empresas se antecipem e se ajustem de maneira mais eficiente.
Para o líder da Thomson Reuters, o maior desafio a ser enfrentado pelas empresas neste momento é a limitação do tempo disponível. Em 2026, será realizado o primeiro grande teste prático. As empresas serão obrigadas a emitir documentos fiscais e cumprir todas as obrigações acessórias já sob a ótica do novo modelo, ainda que com uma alíquota simbólica de 1%. Já em 2027, o sistema entrará em plena operação, e as organizações que não tiverem se preparado adequadamente enfrentarão uma corrida contra o relógio, com o risco de sofrerem penalidades e perdas de eficiência.
Apolinário reforça a natureza integralmente digital do novo sistema, que exigirá uma integração muito mais ampla entre áreas que, tradicionalmente, operavam de forma segmentada. Departamentos como fiscal, contábil, compras, vendas e tecnologia precisarão trabalhar em conjunto e de forma harmonizada. O volume de dados gerados e processados será colossal, e o nível de automação, altíssimo. As companhias que negligenciarem investimentos em eficiência e sistemas inteligentes estarão vulneráveis a erros operacionais e à aplicação de penalidades fiscais.

Imagem: infomoney.com.br
Este cenário de transformação exige uma compreensão profunda das diretrizes governamentais e das novas legislações. O Ministério da Fazenda tem divulgado regularmente atualizações e esclarecimentos sobre a reforma tributária, buscando orientar as empresas e os contribuintes sobre as fases de implementação e os impactos esperados para a economia do país.
Fim dos Incentivos Fiscais e a Nova Lógica da Competição Empresarial
Outro ponto de atenção primordial reside no fim progressivo dos incentivos fiscais, como o do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que por muito tempo foi percebido como um diferencial competitivo estratégico por muitas empresas. De acordo com o executivo da Thomson Reuters, esses benefícios começarão a ser gradualmente reduzidos a partir de 2029 e serão completamente eliminados até o ano de 2032. Essa transição redefinirá as bases da concorrência entre as companhias.
Para Apolinário, a eficiência operacional tornar-se-á, a partir de agora, um fator mandatório para a sobrevivência e o crescimento no mercado. Com o término dos incentivos fiscais, o que realmente distinguirá as empresas será sua habilidade em utilizar e integrar tecnologias avançadas, garantir o compliance rigoroso e implementar uma estratégia financeira robusta e adaptável. A capacidade de navegar neste novo ambiente será crucial.
A substituição do Imposto sobre Serviços (ISS) e do ICMS pelo IBS, e do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) pela CBS, corresponde a 38% dos impactos antecipados pelas empresas, conforme aponta o estudo. Outros 46% dos impactos estão diretamente relacionados à gestão de créditos tributários e incentivos fiscais, especialmente devido à migração para o regime de caixa e à eliminação de benefícios regionais específicos. Estes são os pontos que mais geram preocupação nas projeções de custos e operações.
Mais do que um simples ajuste nos impostos, a reforma tributária é amplamente vista como um divisor de águas na forma como as empresas conduzem suas operações. Ao digitalizar e centralizar os processos de apuração, ela tem o potencial de simplificar a complexidade burocrática e amplificar a transparência. Contudo, essa modernização exige um nível excepcionalmente elevado de preparo técnico e tecnológico por parte das organizações. Daí a urgência imperativa para que as empresas acelerem sua preparação e evitem surpresas desagradáveis no futuro próximo.
Confira também: Investir em Imóveis na Região dos Lagos
Em suma, a lentidão na adaptação das empresas à reforma tributária no Brasil é um sinal de alerta para o cenário econômico. Os dados da Thomson Reuters reforçam a necessidade urgente de investimentos em tecnologia e capacitação profissional para um sistema fiscal que será completamente digital e interconectado. Aqueles que se prepararem proativamente estarão em posição de vantagem competitiva, enquanto os retardatários enfrentarão sérios desafios operacionais e fiscais. Para mais análises sobre os impactos da economia e do cenário empresarial, continue acompanhando a editoria de Economia em nosso portal.
Crédito: Divulgação