A mais recente inovação da OpenAI, batizada de Sora OpenAI, emergiu como uma plataforma social disruptiva, onde cada vídeo e áudio são integralmente criados por inteligência artificial. Lançado inicialmente nos Estados Unidos e Canadá na terça-feira, 30 de outubro, este aplicativo, que se assemelha ao popular TikTok, promete borrar ainda mais as fronteiras entre o que é real e o que é uma fabricação de IA, apresentando conteúdos de alto realismo e trilhas sonoras convincentes.
Desenvolvido pela OpenAI, a mesma mente por trás do ChatGPT, o Sora oferece aos usuários a capacidade de gerar vídeos que retratam a si mesmos ou a amigos em cenários imagináveis, com um nível de realismo impressionante. Desde situações banais até perseguições policiais com personagens icônicos, a tecnologia permite uma personalização profunda, incluindo vozes. A expansão do acesso para outras regiões já está nos planos da empresa, indicando uma ambição global para a ferramenta.
Nas primeiras 24 horas após sua disponibilização, a plataforma se tornou um campo de experimentação para os primeiros adeptos, que exploraram a capacidade aprimorada de criação de vídeos da OpenAI. A diversão de inserir amigos em contextos inusitados, como cantando, dançando ou até mesmo voando, rapidamente dominou o feed. No entanto, a estreia do
Sora OpenAI: Nova Rede Social com Vídeos 100% Gerados por IA
também trouxe à tona preocupações significativas sobre o potencial de uso indevido da tecnologia para enganar, assediar e infringir direitos autorais, levantando um debate urgente sobre ética digital.
A Dualidade do Conteúdo Gerado por IA
Os vídeos falsos que rapidamente ganharam popularidade no Sora incluíram desde simulações de câmeras corporais de policiais até recriações de programas televisivos famosos, evidenciando a facilidade com que a tecnologia pode mimetizar a realidade. Testes conduzidos pelo The Washington Post revelaram que o Sora é capaz de produzir vídeos enganosamente autênticos de figuras históricas como John F. Kennedy e até mesmo de pessoas reais vestidas como generais nazistas, sublinhando a potência da ferramenta e seus riscos inerentes.
Especialistas têm alertado consistentemente que a evolução dos vídeos gerados por IA poderia levar a um ponto onde seriam indistinguíveis de gravações autênticas, minando a confiança no conteúdo visual. A integração de uma tecnologia de IA avançada no Sora, combinada com sua habilidade de inserir pessoas reais de forma convincente em clipes falsos, torna essa confusão ainda mais provável. Ben Colman, CEO e cofundador da Reality Defender, uma empresa que desenvolve softwares para detectar fraudes e deepfakes de IA, enfatiza que o Sora “torna o problema exponencialmente maior porque é muito disponível e muito bom”. Ele ressalta que, há poucos meses, a geração de vídeo de alta qualidade por IA era inacessível para o público em geral, e “agora está em toda parte”.
Contexto e Precedentes no Universo da IA
O conteúdo gerado por inteligência artificial tem ganhado terreno e popularidade em diversas plataformas como TikTok e YouTube ao longo do último ano. Indústrias como Hollywood já experimentam a tecnologia para acelerar suas produções. Exemplos recentes incluem o ex-presidente Donald Trump, que compartilhou um vídeo falso gerado por IA em sua rede social Truth Social, mostrando o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, com um sombreiro e bigode. Similarmente, a conta do governador da Califórnia, Gavin Newsom, no X, divulgou vídeos falsos do vice-presidente J.D. Vance.
Com o lançamento do Sora, a OpenAI se posiciona como a primeira grande empresa de tecnologia a lançar uma plataforma social de vídeo completamente focada em conteúdo artificial. Um dia após seu lançamento, o aplicativo alcançou o terceiro lugar em downloads na App Store da Apple, apesar de seu acesso ser restrito a convites. A primeira versão do Sora, introduzida no ano passado, permitia a conversão de comandos de texto em curtos clipes de vídeo. Outras empresas, como Google e Meta, também lançaram suas próprias ferramentas de vídeo de IA, com a Meta adicionando o recurso “Vibes” ao seu aplicativo de IA na semana passada, permitindo a criação e o compartilhamento de vídeos de IA. A diferença crucial do Sora é que ele encoraja os usuários a fazer vídeos de pessoas específicas e compartilhar suas próprias imagens para uso de terceiros.
Proteções e Desafios de Direitos Autorais
Um porta-voz da OpenAI afirmou que as políticas de seus produtos vetam a personificação, golpes e fraudes. A empresa também implementou proteções adicionais no aplicativo para vídeos que apresentam pessoas reais, visando bloquear nudez e violência explícita. Sobre possíveis infrações de direitos autorais, Varun Shetty, chefe de parcerias de mídia da OpenAI, mencionou que os usuários desejam “se envolver com sua família e amigos através de suas próprias imaginações, bem como histórias, personagens e mundos que amam”. Ele garantiu que a OpenAI bloqueará personagens protegidos por direitos autorais caso os detentores dos direitos solicitem sua remoção.
Entretanto, testes anteriores com a tecnologia de vídeo da OpenAI já sugeriam que ela havia sido treinada com base em filmes e programas da Netflix. A empresa enfrenta múltiplos processos judiciais por suposto uso indevido de textos de livros, notícias e outras fontes para treinar seus sistemas de IA. Um caso notório é o da Disney, que emitiu uma carta de desistência ao aplicativo de chatbot Character AI, exigindo a remoção de chatbots personalizados por usuários que interpretavam personagens da Disney, alegando que “a Disney não permitirá que sua empresa sequestre personagens, danifique marcas ou infrinja direitos autorais e/ou marcas registradas”.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O Recurso “Cameos” e Seus Limites
A funcionalidade “cameos” no Sora permite que usuários carreguem um vídeo curto de seu rosto. Após processamento, essa imagem pode ser utilizada para inserir a pessoa em vídeos gerados por IA. Os usuários têm a opção de manter seu cameo privado, compartilhar com amigos ou até mesmo torná-lo disponível para qualquer usuário do Sora. A OpenAI justifica que essa capacidade de controle sobre o uso da imagem protege contra usos indevidos, permitindo que os usuários excluam vídeos indesejados e bloqueando tentativas de criar vídeos de figuras públicas, como políticos e celebridades.
Contudo, as primeiras horas de lançamento já evidenciaram maneiras de contornar esses limites. A youtuber Justine Ezarik, conhecida como iJustine, disponibilizou seu rosto para uso irrestrito no Sora, mas teve que monitorar de perto as criações. Uma conta, “JustineLover”, chegou a postar clipes que a retratavam de forma inapropriada, sendo posteriormente removida. Ezarik expressou alívio com a remoção e afirmou que monitora o uso de seu cameo para “excluir qualquer coisa que ultrapasse os limites”.
Novos usuários do aplicativo são orientados a não criar vídeos com “violência ou temas explícitos”, que retratem crianças ou pessoas sem consentimento. O aplicativo, em alguns casos, recusa-se a gerar vídeos, exibindo um aviso de violação de políticas contra assédio, discriminação, bullying ou conteúdo proibido. Mathieu Samson, fundador da Kickflix, agência de produção de filmes com IA, conseguiu criar um comercial de TV falso, mas realista, para um conjunto de brinquedos infantis com uma referência problemática. Samson prevê que, apesar das futuras restrições da OpenAI, os usuários continuarão a encontrar meios de testar os limites.
Samson, que já criou contas de vídeo de IA no TikTok e YouTube, alerta para a possibilidade de que os humanos, em breve, encontrem dificuldades em competir com o conteúdo falso online. A velocidade de produção e a dificuldade em identificar o vídeo de IA tornam a situação complexa. Ele conclui que, “mesmo que os espectadores prefiram autenticidade, se se tornar difícil discernir, então terá pouca vantagem”.
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O surgimento do Sora OpenAI marca um ponto crucial na evolução das tecnologias de inteligência artificial e seu impacto no consumo de conteúdo digital. À medida que a capacidade de gerar vídeos ultrarrealistas se torna mais acessível, o debate sobre ética, direitos autorais e a própria definição de realidade se intensifica. Para aprofundar sua compreensão sobre como as inovações tecnológicas moldam nosso futuro, convidamos você a explorar outras análises em nossa editoria de Notícias e manter-se atualizado sobre os próximos capítulos desta revolução digital.
Crédito da imagem: Stefano Rellandini – 16.fev.24/AFP