A coalizão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu enfrenta uma crise por Gaza, com a crescente pressão de seus aliados de extrema direita. Essa situação se tornou um ponto nevrálgico nos esforços para encerrar o conflito na Faixa, o que pode inviabilizar uma ambiciosa iniciativa dos Estados Unidos para redesenhar o panorama político do Oriente Médio.
Netanyahu, que tem recebido apelos de Donald Trump para que a guerra de dois anos em Gaza seja finalizada, está agora confrontado com a forte oposição de seus parceiros ultranacionalistas. A resistência deles a uma proposta de paz para Gaza, mediada pelos EUA, pode forçar o líder israelense a convocar eleições antecipadas no país.
Netanyahu enfrenta crise por Gaza sob pressão da direita
O plano, composto por 20 pontos e endossado por Trump, estabelece a desmilitarização de Gaza e exclui o Hamas de qualquer futuro papel governamental. No entanto, a proposta permite que membros do grupo permaneçam na região, desde que renunciem à violência e entreguem suas armas. O primeiro-ministro israelense, ao adotar a iniciativa, vê-se em uma encruzilhada política delicada.
O Hamas, por sua vez, reagiu positivamente à proposta, aceitando-a parcialmente. O grupo declarou estar pronto para dialogar sobre a libertação dos reféns e a integrar uma “estrutura nacional palestina” no contexto do futuro de Gaza. A mera perspectiva de que o Hamas possa continuar a existir e participar de discussões futuras sobre Gaza, mesmo após a libertação dos reféns, desencadeou a fúria dos parceiros de direita de Netanyahu.
Itamar Ben-Gvir, Ministro da Segurança Nacional, expressou sua indignação publicamente. “Não podemos concordar, sob nenhuma circunstância, com um cenário em que a organização terrorista que trouxe a maior calamidade para o Estado de Israel seja revivida”, afirmou Ben-Gvir em uma publicação no X após o Sabá, complementando com a ameaça de abandonar o governo se tal cenário se concretizasse. “Não seremos de forma alguma parceiros disso”, declarou.
Se os ministros de extrema direita interpretarem que Netanyahu fez concessões excessivas para o fim da guerra, a atual coalizão governamental — considerada a mais à direita da história de Israel — pode ruir. Esse colapso poderia ocorrer um ano antes das próximas eleições, agendadas para outubro de 2026. Por outro lado, insistir na continuidade do conflito em Gaza pode gerar descontentamento entre as famílias dos reféns ainda sob o poder de militantes palestinos, alienar a opinião pública israelense, já exausta pela guerra, e afastar os aliados internacionais de Israel.
Adicionalmente, a persistência do conflito pode frustrar as expectativas de Israel em expandir os Acordos de Abraão, uma série de pactos mediada pelos EUA que normalizaram relações entre Israel e vários países árabes. Havia a esperança de que nações como a Arábia Saudita ou a Indonésia pudessem aderir a esses acordos. Para entender melhor o papel dos EUA nos conflitos na região, um panorama da política externa americana pode ser encontrado em Israel e os Palestinos.
No entanto, a capital saudita, Riad, já sinalizou que a normalização das relações com Israel dependeria do fim da guerra em Gaza e da implementação de um caminho claro para a criação de um Estado palestino. Trump, por sua vez, apelou para que Israel suspendesse os bombardeios em Gaza, visando permitir que as negociações de seu plano avançassem, começando com conversas indiretas entre Israel e Hamas no Egito, previstas para a segunda-feira, para a libertação dos reféns restantes.
Contrariamente, no sábado, o Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, classificou a interrupção dos ataques em Gaza como um “grave erro”. Ele argumentou que, com o tempo, essa medida enfraqueceria a posição de Israel na busca por seus objetivos de libertar os reféns, erradicar o Hamas e desmilitarizar Gaza. Ben-Gvir e Smotrich, cujos partidos somam 13 das 120 cadeiras no Knesset, têm consistentemente pressionado Netanyahu a perseguir objetivos ambiciosos e que parecem de difícil alcance em Gaza. A saída de ambos do governo provavelmente precipitaria uma eleição.
No domingo, Shosh Bedrosian, porta-voz do governo israelense, informou aos jornalistas que os militares haviam, de fato, interrompido certos bombardeios, mas ressaltou que não havia um cessar-fogo oficial em vigor. Ela afirmou que as forças armadas continuariam a operar para “fins defensivos”. Apesar do apelo de Trump para o fim dos bombardeios, ataques israelenses em Gaza durante o fim de semana resultaram na morte de dezenas de palestinos.
O plano de Trump, apesar de ser publicamente apresentado por Netanyahu como um esforço conjunto que alinha os objetivos do governo — como a rendição do Hamas e o controle de segurança israelense em Gaza e seu entorno —, carece de especificações. Detalhes como um prazo para o desarmamento do Hamas não foram explicitados. Uma menção genérica à condição de Estado palestino também pode provocar a ira dos aliados de extrema direita de Netanyahu.
Mitchell Barak, pesquisador israelense que trabalhou com Netanyahu na década de 1990, expressou a crença de que o governo está se aproximando do fim, embora não antecipe um colapso imediato. Segundo Barak, a oposição apoia o plano de Trump, e ministros como Smotrich e Ben-Gvir teriam poucas opções além de manter o alinhamento com Netanyahu.
Yair Lapid, líder da oposição, ofereceu apoio ao governo para evitar um colapso, a fim de permitir a implementação do plano de Trump. No domingo, Lapid sugeriu que Netanyahu concordasse com uma data para novas eleições, oferecendo uma espécie de “seguro” contra o que ele descreveu como os “parceiros extremistas e irresponsáveis” do primeiro-ministro.
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A complexa dinâmica política em Israel, marcada pela crise de Netanyahu em Gaza e a pressão de sua própria base aliada, aponta para um período de incertezas. A forma como o primeiro-ministro administrará as demandas internas e as propostas internacionais será crucial para o futuro de seu governo e para a busca por uma solução duradoura para o conflito. Para mais análises aprofundadas sobre política internacional e seus desdobramentos, continue explorando nossa seção de Política.
Crédito da Imagem: (Reportagem de Alexander Cornwell em Jerusalém, reportagem adicional de Pesha Magid e Steven Scheer) Comunicar erro