Em um expressivo ato pró-Palestina em São Paulo, alguns milhares de manifestantes se reuniram no centro da capital paulista para demonstrar solidariedade aos ativistas que foram detidos por Israel. A prisão ocorreu nesta semana, quando os participantes da flotilha tentavam romper o bloqueio naval imposto à Faixa de Gaza, região palestina. Os manifestantes também expressaram forte condenação à postura que consideram violenta por parte da marinha israelense e criticaram a alegada inação do governo brasileiro.
A manifestação teve como foco a exigência de ações efetivas por parte das autoridades brasileiras, especialmente no que tange à segurança dos 14 cidadãos nacionais que estavam entre as centenas de ativistas retidos. A preocupação se acentuava diante das denúncias de tratamento inadequado e da própria natureza da interceptação em águas internacionais, levantando debates sobre a legalidade da operação.
Ato Pró-Palestina em SP Pede Libertação de Ativistas e Ação do Brasil
O comerciante de origem libanesa Ziad Saifi, de 51 anos, presente no protesto, articulou os principais motivos da mobilização. “O principal motivo da gente estar aqui hoje é pela luta pela liberdade e pelo fim do genocídio que acontece na Palestina. Também para demonstrar nossa solidariedade à flotilha, que foi sequestrada pelo estado de Israel em áreas de águas internacionais”, afirmou Saifi. Ele categorizou a interceptação como mais um crime cometido por Israel, que, em sua visão, deveria ser julgado por tais atos. Saifi destacou que a manifestação também buscava chamar a atenção para o que ele descreve como preconceito ocidental em relação ao mundo árabe, a perseguição de islâmicos e o genocídio do povo palestino.
A concentração inicial dos manifestantes aconteceu na Avenida Paulista durante a manhã, de onde seguiram em caminhada rumo à Praça Roosevelt, ambos locais centrais na cidade de São Paulo. O grupo que compôs o protesto era notavelmente heterogêneo, incluindo representantes de diversos partidos políticos, sindicatos, cidadãos brasileiros de ascendência árabe e organizações estudantis, todos unidos pela causa palestina.
Demandas por Ruptura e Luta Anticolonial
Bernardo Cerdeira, um jornalista de 70 anos que há décadas se engaja em movimentos de solidariedade à Palestina, resumiu uma das principais exigências do protesto. “Trazemos a exigência que o governo brasileiro, o governo Lula, rompa relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel”, declarou Cerdeira. Ele criticou o fato de o Brasil continuar exportando recursos como petróleo e aço para um “Estado assassino, genocida”, conforme suas palavras. Para Cerdeira, a única via para a paz no Oriente Médio seria a “eliminação” de Israel, que ele acusa de usar “métodos inclusive nazistas”, e a instauração de uma “Palestina livre do rio ao mar”, uma reivindicação que, segundo ele, é compartilhada por quase 100% dos presentes na manifestação.
Durante o ato, os militantes também fizeram questão de rememorar o histórico das intervenções sionistas em territórios palestinos e de outras etnias árabes e persas na região. A memória de Yasser Arafat, líder da Autoridade Palestina e ganhador do Prêmio Nobel da Paz por seus esforços na busca pela paz no conflito do Oriente Médio, foi evocada. Arafat, falecido em 2004, foi citado em igualdade de importância com as lideranças contemporâneas e os participantes da Flotilha Global Sumud, reforçando a continuidade da luta.
Entre os jovens presentes, estava Sol, de 19 anos, que comparece aos protestos desde o ano anterior. Ele caminhava para manifestar-se contra o genocídio do povo palestino, o apartheid e o que classifica como regime neocolonialista de Israel. “A gente está aqui porque o povo palestino, não só pelo genocídio deles, mas porque o povo palestino representa a resistência anticolonial do mundo inteiro”, argumentou Sol, sublinhando a dimensão global da causa palestina.
A Flotilha Global Sumud e a Reação Internacional
A Flotilha Global Sumud era composta por aproximadamente 50 embarcações, que transportavam 461 ativistas de diversas nacionalidades, além de doações essenciais de alimentos e medicamentos, com destino ao litoral da Faixa de Gaza. A iniciativa tinha como propósito mitigar os severos impactos do bloqueio israelense na região, que tem resultado em mortes por inanição e surtos de doenças relacionadas à falta de higiene básica e às precárias condições de vida.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
No entanto, a missão humanitária foi abruptamente interrompida. Desde a última quarta-feira, todos os barcos foram interceptados e seus tripulantes detidos. As ações foram realizadas por tropas da marinha e da força aérea de Israel, ainda fora das águas territoriais israelenses. As denúncias de violência na abordagem geraram grande repercussão mundial. Um dos casos que mais chocou foi o da ativista norueguesa Greta Thunberg, que teria sido arrastada e espancada na frente dos demais militantes, em um suposto ato de intimidação.
A professora aposentada Marta da Silva Mendes, de 68 anos, que acompanha o tema há anos por solidariedade, fez um apelo veemente: “Temos de participar e defender os nossos ativistas, assim como as vítimas desse genocídio”. Sua fala ecoa o sentimento de urgência e a necessidade de engajamento para a proteção dos direitos humanos.
O Posicionamento do Brasil e a Liberdade de Navegação
Entre os mais de 400 ativistas detidos, onze são cidadãos brasileiros, o que intensificou a preocupação e a mobilização do governo do Brasil. Para as autoridades brasileiras, a interceptação da flotilha representa uma violação do direito internacional de liberdade de navegação, um princípio fundamental previsto pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS). Este princípio é crucial para a garantia do fluxo de bens e pessoas em águas internacionais, e sua violação, conforme a ótica brasileira, configura uma “detenção ilegal de ativistas pacíficos”.
Em nota oficial divulgada na quinta-feira, dia 2, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil expressou uma posição firme. O Itamaraty defendeu que Israel “deverá ser responsabilizado por quaisquer atos ilegais e violentos cometidos contra a Flotilha e contra os ativistas pacíficos que dela participam e deverá assegurar sua segurança, bem-estar e integridade física enquanto permanecerem sob a custódia de autoridades israelenses”. Este posicionamento sublinha a expectativa de que Israel siga as normas internacionais de tratamento de detidos e respeito aos direitos humanos, mesmo em contextos de conflito. A liberdade de navegação é um pilar do direito internacional, e a interceptação em águas internacionais, especialmente de embarcações com ajuda humanitária, é um ponto de alta sensibilidade. Para mais informações sobre as convenções internacionais que regem o direito do mar, consulte o site das Nações Unidas.
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A situação dos ativistas da flotilha e a resposta internacional continuam a ser um tema de destaque, com o governo brasileiro mantendo sua postura de defesa dos direitos de seus cidadãos e do respeito às normas internacionais. Este ato em São Paulo reforça a pressão sobre as autoridades para que atuem com maior rigor diante dos fatos. Para aprofundar-se em notícias e análises sobre a atuação política brasileira no cenário internacional, continue acompanhando a editoria de Política em nosso portal.
Crédito da imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil