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Desaceleração Econômica EUA: Trump e Imigração

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A desaceleração econômica nos EUA marca o cenário sob a administração do presidente Donald Trump, com a nação enfrentando um declínio no ímpeto financeiro. Apesar da resiliência observada no setor de emprego, este é um reflexo direto da diminuição na oferta de mão de obra proveniente de imigrantes, gerando uma distorção nos indicadores habituais do mercado de trabalho.

As projeções de mercado e de organismos internacionais apontam para uma significativa desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Após registrar um crescimento de 2,8% em 2024, a economia norte-americana deve expandir apenas 1,8% neste ano de 2025. Essa taxa contrasta fortemente com as expectativas de até 3% de crescimento que existiam em dezembro de 2024, antes da posse do republicano e da implementação de suas políticas tarifárias.

Desaceleração Econômica EUA: Trump e Imigração

A perda de ritmo nesta potência econômica, que movimenta cerca de US$ 29,2 trilhões anualmente, é agravada por pressões inflacionárias persistentes. O setor de serviços, que sozinho representa quase 80% do PIB, é um dos principais focos dessa preocupação. Em agosto de 2025, enquanto a inflação geral anual atingiu 2,9%, os serviços (excluindo energia) registraram uma taxa de 3,6%, e o setor de alimentos, 3,2%. Esses números superam a meta de 2% ao ano estabelecida pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano.

A questão central que paira sobre os formuladores de política econômica não é apenas quando a inflação irá recuar, mas se ela experimentará uma nova alta antes que o crescimento econômico diminua de forma decisiva. Tal cenário poderia comprometer a intenção do Fed de prosseguir com a redução das taxas de juros até 2026. Em setembro de 2025, a taxa foi ajustada em 0,25 ponto percentual, situando-se em uma banda entre 4% e 4,25% anuais. Contudo, o presidente Trump tem intensificado a pressão sobre o Fed para acelerar os cortes.

Duas das políticas mais incisivas adotadas pela administração republicana, as tarifas comerciais e a rigorosa perseguição a imigrantes, estão intrinsecamente ligadas ao quadro de incerteza econômica atual. De acordo com Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, muitas empresas têm optado por reduzir suas margens de lucro para absorver o impacto das tarifas. No entanto, ele adverte que essa estratégia possui um limite. “Com o tempo, todos começarão a repassar custos, que aparecerão nos preços. Isso provavelmente elevará a inflação para 3,5% ou 4% no final deste ano”, observa Rogoff. Ele também aponta para um debate no Fed sobre a relevância desse impacto temporário versus a preocupação com a credibilidade do órgão após a grande inflação pós-pandemia. Rogoff, que é professor em Harvard, sugere que o Fed pode realizar apenas mais um corte de juros em 2025, influenciado por “razões políticas”, e embora preveja uma desaceleração econômica para conter os preços, não antevê uma recessão iminente. Para mais informações sobre a economia global, você pode consultar as publicações do Fundo Monetário Internacional.

Enquanto o choque tarifário eleva o custo de produtos e matérias-primas importadas, a política de combate à imigração tem um efeito direto na diminuição da oferta de mão de obra, provocando uma distorção significativa no mercado de trabalho americano. Dados do Fed regional de São Francisco revelam que os Estados Unidos terão um saldo líquido positivo de apenas 1 milhão de imigrantes em 2025. Este número representa uma redução de 1,6 milhão e 2,6 milhões em comparação com 2024 e 2023, respectivamente. Entre 2022 e 2024, imigrantes foram responsáveis por mais da metade dos novos trabalhadores no país.

A diminuição dessa oferta de trabalho, conforme análise do IIF (Instituto de Finanças Internacionais), cria uma falsa percepção de que o mercado laboral está aquecido. Na realidade, a escassez se deve à falta de pessoas para preencher as vagas disponíveis. Essa situação é particularmente evidente em estados com alta dependência de imigrantes, como Califórnia, Texas, Flórida e Nova York. Nessas regiões, as taxas de desemprego são menores do que em estados menos dependentes da imigração, e o aumento salarial, que se desacelera nacionalmente, registra aceleração.

Desaceleração Econômica EUA: Trump e Imigração - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Marcello Estevão, diretor-gerente do IIF, enfatiza que essa fragmentação do mercado de trabalho exige que o Fed interprete os agregados nacionais com grande cautela. A taxa de desemprego geral, que foi de 4,3% em agosto de 2025, pode estar indicando um mercado de trabalho mais frágil do que se supõe. Estevão projeta um crescimento entre 1,4% e 1,5% para 2025, metade do registrado no ano anterior. Ele ressalta que a fraqueza no emprego e no crescimento deste ano imporá disciplina na formação de preços, e que, embora o choque tarifário possa ter um impacto limitado na inflação, ainda assim exigirá uma calibração gradual nos cortes de juros por parte do Fed.

José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e pesquisador do Ibre-FGV, concorda que a inflação permanece sob pressão, o que poderá dificultar os planos do Fed de reduzir as taxas de juros. Contudo, Senna manifesta dúvidas quanto à real dimensão da desaceleração econômica. Ele destaca as Vendas Finais para Compradores Domésticos como um dos principais indicadores observados pelo banco central dos EUA. Este indicador foca nos gastos e investimentos de residentes e empresas, excluindo a variação de estoques privados. Após um período de desaceleração entre janeiro e março, impulsionada pelas incertezas geradas pela chegada de Trump, o indicador apresentou um aumento anualizado de 2,9% no segundo trimestre de 2025, um valor próximo à média de 3% observada em 2023 e 2024, períodos em que a inflação finalizou em 3,4% e 2,9%, respectivamente. “Por enquanto, a desaceleração não é significativa, e o Fed precisará manter a preocupação com os preços”, afirma Senna.

Apesar dos desafios e ventos contrários no curto prazo, a economia dos EUA continua a exibir vantagens estruturais robustas. Em 2025, estima-se que o trabalhador americano médio gere cerca de US$ 171 mil em produção, superando significativamente os US$ 120 mil na zona do euro e os US$ 96 mil no Japão, quando considerada a paridade de poder de compra. O mercado de ações também tem alcançado recordes, embora haja uma possível distorção causada pelo peso e pela valorização expressiva das empresas de tecnologia. Atualmente, as sete maiores companhias de tecnologia dos EUA somam um valor de mercado superior ao das bolsas de valores do Reino Unido, Canadá, Alemanha e Japão combinadas.

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Em suma, a economia dos EUA sob a administração Trump enfrenta uma complexa encruzilhada, onde a desaceleração do PIB, a inflação persistente e as políticas de imigração criam um cenário de incerteza. A interpretação dos indicadores econômicos exige cautela, e o papel do Federal Reserve na calibração dos juros é crucial. Para aprofundar-se em análises econômicas e políticas que impactam o cenário nacional e global, continue acompanhando nossa editoria de Economia.

Crédito da imagem: Carlos Barria – 3.set.2025/REUTERS

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