A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu, na última sexta-feira, autorização para a produção nacional do primeiro lote de etanol farmacêutico injetável. Este medicamento é um dos antídotos empregados em situações de intoxicação por metanol e será fabricado pelo laboratório Cristália. A farmacêutica anunciou a produção de 12 mil ampolas, destinadas a doação ao Ministério da Saúde, reforçando a resposta do país a uma recente onda de casos.
A iniciativa da Anvisa é parte de um conjunto de ações emergenciais para combater o aumento de intoxicações. A regulamentação para a produção em larga escala deste produto foi oficializada em uma resolução publicada na sexta-feira anterior, dia 3 de maio. Esta medida estabelece diretrizes temporárias e de urgência para a fabricação do antídoto, exigindo que as empresas estejam localizadas no Brasil, cumpram rigorosos padrões sanitários e de qualidade, e que o produto tenha um prazo de validade de até 120 dias.
No dia 10 de maio, a Cristália apresentou à Anvisa a solicitação formal para iniciar a produção do etanol farmacêutico. O diretor-presidente da agência, Leandro Safatle, destacou a importância da colaboração entre o órgão regulador, o Ministério da Saúde e a indústria para enfrentar a atual situação de surto de casos de intoxicação por metanol. Essa coordenação é crucial para garantir que o país tenha acesso rápido e seguro a tratamentos vitais.
Anvisa libera antídoto metanol em lote emergencial
De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, divulgados na mesma sexta-feira da liberação, o Brasil registrou 246 notificações de casos de intoxicação por metanol associados ao consumo de bebidas alcoólicas. Deste total, 29 casos foram confirmados, enquanto 217 permanecem sob investigação em diversos estados. Outras 249 suspeitas foram descartadas após análise. Quanto aos óbitos, cinco foram confirmados no estado de São Paulo, e 12 ainda estão sendo investigados, com seis ocorrências em São Paulo, uma no Ceará, uma em Minas Gerais, uma no Mato Grosso do Sul e uma em Pernambuco.
Entenda os Riscos e a Utilização do Metanol
O metanol é um tipo de álcool industrialmente empregado como solvente e combustível. Sua presença em bebidas alcoólicas pode decorrer de falhas no processo de fabricação, onde não há descarte adequado da substância, ou de atos de fraude e adulteração deliberada. Nestes casos, o metanol é utilizado intencionalmente para substituir o etanol devido ao seu custo mais baixo, representando um grave risco à saúde pública.
A periculosidade do metanol reside em sua metabolização pelo organismo. Após a ingestão, o fígado o transforma primeiramente em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico, ambas substâncias altamente tóxicas. A ingestão de apenas 10 ml de metanol já é suficiente para causar cegueira, e uma dose de 30 ml é considerada o limite mínimo fatal para um adulto, evidenciando a extrema toxicidade da substância.
Antídotos Disponíveis para Intoxicação por Metanol
O tratamento inicial para a intoxicação por metanol visa primordialmente inibir a metabolização da substância em ácido fórmico. Conforme explica Diego Rissi, perito legista e toxicologista da Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro e doutorando em Saúde Pública na Fiocruz, um dos antídotos mais eficazes é o próprio etanol. “É curioso, mas o etanol pode ser administrado intravenoso como antídoto, pois compete com a mesma enzima que metaboliza o metanol, porém com uma afinidade cerca de 50 vezes maior, reduzindo assim a formação dos metabólitos tóxicos pelo metanol”, detalha Rissi. Ele enfatiza a necessidade de buscar atendimento médico imediato em caso de suspeita e relatar a situação à equipe de saúde. Para mais informações sobre a regulamentação de antídotos, você pode consultar as publicações oficiais da Anvisa.

Imagem: valor.globo.com
Outro antídoto crucial, amplamente utilizado em outros países, é o fomepizol. Raphael Garcia, professor do setor de Bioquímica, Farmacologia e Toxicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esclarece que o fomepizol “atua bloqueando diretamente a ação da enzima que quebra o metanol, evitando a formação de formaldeído e ácido fórmico, os verdadeiros responsáveis pelos danos à visão e ao sistema nervoso”. Contudo, o acesso a este medicamento no Brasil ainda é restrito, pois o fomepizol não possui registro no país.
Diante do cenário emergencial, a Anvisa autorizou, de forma excepcional, a importação de 2,6 mil frascos de fomepizol a pedido do Ministério da Saúde, com o apoio do fundo da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Desse total, 2,5 mil frascos foram adquiridos pela pasta da Saúde, e 100 foram doados pela fabricante Daiichi Sankyo. Todos os frascos chegaram ao Brasil na última quinta-feira e já estão em processo de distribuição pelo Ministério da Saúde para as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) que prestam atendimento a casos de intoxicação, garantindo que o tratamento de escolha esteja disponível para quem precisar.
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A liberação da fabricação do antídoto e a importação emergencial do fomepizol representam passos fundamentais para o controle da crise de saúde pública causada pela intoxicação por metanol. A colaboração entre agências reguladoras, governo e indústria farmacêutica é essencial para proteger a população e garantir acesso a tratamentos eficazes. Para continuar acompanhando as últimas notícias sobre saúde pública, política e economia, explore outras matérias em nosso site Hora de Começar.
Crédito da imagem: Paulo Pinto/Agência Brasil