rss featured 3132 1760588570

Astroturismo Impulsiona Economia e Preserva Céus

Últimas notícias

O astroturismo, uma modalidade de ecoturismo que convida à contemplação dos fenômenos celestes e da beleza dos céus mais estrelados, emerge como uma tendência global, impulsionando a economia e fomentando a busca por ambientes com baixa poluição luminosa. Esta atividade, outrora restrita ao imaginário poético, transforma-se em um segmento de mercado com significativo potencial de crescimento.

A percepção de que a observação de estrelas é um ato “tresloucado”, como nos versos de Olavo Bilac (1865-1918) em “Via Láctea”, tem sido gradualmente substituída por um entusiasmo crescente entre viajantes. O que para o poeta parnasiano era uma prova de “senso perdido”, para a geração contemporânea representa uma conexão com a natureza e o cosmos, longe da iluminação excessiva das grandes metrópoles.

Astroturismo Impulsiona Economia e Preserva Céus

Dados recentes divulgados por Dennys Hyde, da empresa Entreparques, revelam o expressivo impacto econômico do astroturismo. Estima-se que, somente em 2023, o setor tenha movimentado cerca de US$ 250 milhões em todo o mundo. As projeções indicam uma expansão ainda mais robusta, com expectativa de crescimento anual de 10%, o que pode elevar o valor de mercado para impressionantes US$ 400 milhões até 2030. Esse cenário ressalta não apenas o interesse crescente, mas também o potencial de desenvolvimento turístico sustentável atrelado à preservação de áreas com céus escuros.

A busca por céus verdadeiramente escuros intensifica-se em razão do aumento da poluição luminosa. De acordo com Hyde, estudos apontam um crescimento global de 10% ao ano na intensidade da poluição luminosa, especialmente concentrada no hemisfério norte. Embora as lâmpadas de LED ofereçam maior eficiência energética, seu uso indiscriminado contribui para o desperdício de luz, obscurecendo a visão das estrelas e afastando a experiência que Olavo Bilac desfrutava ao simplesmente abrir a janela de sua casa no Rio de Janeiro, em 1888.

Embora a melhora na segurança urbana seja um benefício da iluminação noturna, o excesso de luz artificial impulsiona um número crescente de pessoas a procurarem a tranquilidade e a escuridão da natureza para a observação astronômica. Essa demanda traz um impacto econômico positivo para as regiões que oferecem essa experiência. “Os turistas que praticam astroturismo, em geral, trazem mais renda aos locais de observação, porque eles vão acabar pernoitando por ali depois da contemplação”, explica Hyde, destacando a importância da infraestrutura local para acomodar esses visitantes.

No Brasil, apesar de ser uma atividade ainda em fase incipiente e carente de dados precisos sobre a demanda, o reconhecimento de seu potencial é crescente. O país já conta com uma unidade de conservação certificada como “local de céu escuro” pela agência norte-americana Dark Sky Park. Trata-se do Parque Estadual do Desengano, localizado no norte fluminense, a 269 quilômetros da capital carioca. Este parque é o pioneiro no Brasil a receber tal chancela, sublinhando o compromisso com a proteção do céu noturno.

Em um movimento que demonstra a percepção do potencial do segmento, a cidade de Matureia, na Paraíba, também busca sua própria certificação. Situada a 310 quilômetros de João Pessoa e vizinha ao Parque Nacional da Serra do Teixeira, Matureia aprovou uma lei municipal de proteção aos céus escuros, pavimentando o caminho para se tornar um destino relevante no cenário do astroturismo nacional. A iniciativa mostra como a legislação pode ser uma ferramenta crucial na preservação ambiental e no desenvolvimento turístico.

Para aqueles interessados em explorar os céus brasileiros, o Iastro (Índice de Potencial Astroturístico dos Parques Nacionais) identifica diversas áreas com alto potencial para a atividade. Criado por pesquisadores do projeto Astroturismo nos Parques Brasileiros, este índice classifica as unidades de conservação com base em critérios de observação astronômica. Entre os parques considerados “excelentes”, destacam-se a Chapada dos Veadeiros (GO), as nascentes do Rio Parnaíba (PI/MA/TO), Viruá (RR), Serra da Capivara (PI), Serra do Teixeira (PB), Catimbau (PE), Sempre-Vivas (MG), Sete Cidades (PI) e o Pantanal Mato-Grossense (MT/MS).

Astroturismo Impulsiona Economia e Preserva Céus - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Mesmo parques classificados como “ótimos” ou “muito bons” pelo Iastro já estão desenvolvendo ofertas específicas. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, por exemplo, oferece pacotes de excursão dedicados à observação de estrelas, permitindo aos visitantes experienciar a grandiosidade do céu sobre as dunas. No Paraná, o Parque Nacional do Iguaçu, classificado como “muito bom”, expandiu o acesso ao seu renomado passeio “Céu das Cataratas”, que antes era restrito a hóspedes do Hotel das Cataratas e agora está disponível para o público em geral. A expansão de ofertas como essa reforça a crescente demanda por experiências de astroturismo.

A preservação dos céus escuros não beneficia apenas o turismo, mas também a biodiversidade e a pesquisa científica. A poluição luminosa afeta os ciclos naturais de plantas e animais, e a iniciativa de locais como o Parque Estadual do Desengano e a cidade de Matureia é fundamental para mitigar esses impactos. Mais informações sobre os esforços globais para proteger os céus noturnos podem ser encontradas em organizações dedicadas à causa, como a International Dark-Sky Association, que promove a proteção da noite natural.

O investimento na infraestrutura turística e na conscientização sobre a importância da preservação dos céus noturnos é crucial para que o Brasil capitalize o potencial do astroturismo. Com paisagens naturais exuberantes e áreas remotas ideais para a observação, o país tem tudo para se consolidar como um polo de ecoturismo astronômico, atraindo visitantes em busca de uma conexão mais profunda com o universo.

Confira também: Investir em Imóveis na Região dos Lagos

Com o crescimento do interesse em atividades que proporcionam o contato com a natureza e a cultura local, o astroturismo se posiciona como um segmento promissor para diversas cidades e regiões brasileiras. Para aprofundar-se em como o desenvolvimento sustentável pode impulsionar as economias locais, acesse mais análises e notícias em nossa editoria de Cidades e continue acompanhando as novidades do setor.

Crédito da imagem: Eric Hanson/ Getty Images e Rodrigo Guerra/Cosmos Iguassu

Deixe um comentário