As demissões no governo Lula, que atingem apadrinhados políticos de parlamentares considerados infiéis, receberam o endosso público do ministro do Turismo, Celso Sabino. A declaração de Sabino, feita nesta segunda-feira, sublinha a firmeza da gestão federal em reestruturar sua base de apoio após um revés significativo no Congresso Nacional. A medida visa alinhar os ocupantes de cargos federais com os interesses e a agenda do Executivo.
A movimentação do governo federal ocorre no rescaldo de uma derrota legislativa crucial na semana passada, quando o grupo conhecido como Centrão articulou para barrar a medida provisória (MP) que propunha uma alternativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Esse episódio expôs fragilidades na base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, precipitando uma revisão estratégica sobre as indicações políticas em diversas esferas do governo. A situação gerou um debate intenso sobre lealdade partidária e compromisso com o projeto governamental, levando a uma série de exonerações.
Celso Sabino defende demissões no governo Lula e critica infiéis
Em um comentário que rapidamente reverberou nos círculos políticos, o ministro Celso Sabino recorreu a uma analogia matrimonial para descrever a sua perspectiva sobre a dinâmica das relações entre o governo e seus aliados. “Eu particularmente acho que não dá pra ser casado e ter vida de solteiro”, ironizou Sabino, enfatizando a necessidade de reciprocidade e compromisso por parte dos partidos que ocupam espaços na administração. Esta frase encapsula a expectativa de que os aliados políticos demonstrem apoio efetivo às pautas governamentais, especialmente em votações críticas no parlamento.
A postura de Sabino ganha contornos adicionais de relevância em virtude de sua própria experiência recente. O ministro foi alvo de suspensão pelo seu partido, o União Brasil, por ter decidido permanecer no cargo, contrariando uma diretriz explícita da cúpula da legenda. Em um gesto de autonomia, Sabino chegou a formalizar uma carta de demissão ao presidente Lula, mas optou por continuar à frente da pasta do Turismo a pedido do próprio chefe do Executivo, o que demonstra uma lealdade direta ao Palácio do Planalto, em detrimento da orientação partidária. Esse movimento pessoal de Sabino reforça a credibilidade de sua fala no contexto atual das demissões.
A reorganização da base governista foi confirmada por outras figuras proeminentes do governo. Mais cedo, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, abordou o tema em entrevista, reconhecendo que o governo está empenhado em “arrumar” sua base de apoio no Congresso Nacional. No entanto, Hoffmann fez questão de rejeitar a interpretação de que as mudanças em curso seriam uma espécie de “retaliação” direta à derrota sofrida na votação da MP do IOF. A ministra buscou enquadrar as ações como parte de um processo natural de gestão e alinhamento político.
A ministra Gleisi Hoffmann detalhou a lógica por trás das exonerações, explicando que as indicações para ocupar cargos na estrutura federal serão realocadas. “As indicações para ocupar cargos vão ser retiradas e nós vamos alocar essas indicações para aqueles que estão com o governo”, afirmou. Ela ressaltou que, caso os partidos desejem manter seus indicados nos postos, será imperativo que “reavaliem a postura” em relação ao apoio às pautas governamentais. Hoffmann argumentou ainda que, embora o governo esteja afastando os cargos de indicados do Congresso que não se alinham, isso não significa o encerramento do diálogo. Contudo, a mensagem é clara: “Agora tem que votar com o governo, não é justo continuar nesses cargos”, pontuou a ministra em entrevista concedida ao SBT News, sublinhando o princípio da lealdade política esperada dos aliados.
O processo de “mapeamento” das posições e dos indicados políticos ainda não foi concluído e, segundo a ministra da SRI, deverá se estender até o final desta semana. “Vamos aproveitar isso para arrumar a base aliada do governo. Estamos passando um olhar por todos os órgãos”, explicou Hoffmann, indicando que a análise é abrangente e se estende por toda a estrutura federal. Ela informou que algumas demissões já foram efetivadas e que o governo tem recebido procura de indivíduos e partidos interessados em dialogar para alinhar suas posições. A ministra reforçou a metáfora de Sabino sobre a lealdade, questionando: “Você tem uma pessoa que vive na sua casa, come da comida, mas não é legal com você, qual tem de ser a reação?”. Este questionamento sintetiza a frustração do governo com o que considera ser uma falta de reciprocidade por parte de alguns aliados.

Imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom via valor.globo.com
As investigações jornalísticas do Valor Econômico revelaram que, nos últimos dias, várias exonerações de apadrinhados políticos já foram efetivadas. Entre os órgãos que registraram estas mudanças estão a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de outras instituições federais. Estas demissões refletem a materialização da estratégia governamental de consolidar sua base de apoio, substituindo aqueles que não demonstraram o alinhamento esperado por outros com maior compromisso com a agenda do Executivo.
A reestruturação da base aliada do governo Lula é um movimento estratégico para garantir a governabilidade e a aprovação de pautas consideradas essenciais para a administração. A declaração de Celso Sabino e as explicações de Gleisi Hoffmann apontam para uma postura mais assertiva do Planalto em relação à lealdade de seus parceiros no Congresso, buscando coesão e efetividade em um cenário político complexo. Para mais informações sobre a relação entre o Executivo e o Legislativo, veja como o governo Lula tenta rearticular sua base aliada após a derrota da MP do IOF.
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Este processo de realinhamento, iniciado com as falas de Celso Sabino e Gleisi Hoffmann, indica uma nova fase na gestão da base aliada do governo, onde a lealdade e o voto em pautas cruciais se tornam pré-requisitos para a manutenção de cargos e influência. Acompanhe as últimas notícias e análises sobre o cenário político brasileiro e as decisões do governo na nossa editoria de Política para se manter sempre informado sobre os desdobramentos dessa complexa relação.
Crédito da imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil