Em um cenário de crescente preocupação com a segurança de bebidas alcoólicas, a **Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva)** veio a público para reafirmar a improbabilidade da adulteração de cervejas com metanol. Diante do alarmante aumento de casos de intoxicação causados pela ingestão de produtos adulterados, a entidade avalia que, do ponto de vista econômico, a falsificação de cerveja com a substância tóxica não se justifica para os criminosos. As investigações em curso têm direcionado o foco para bebidas destiladas, como vodca, gim e uísque, como as principais contaminadas por metanol.
A Abracerva, em declaração ao jornal Estadão na última sexta-feira, dia 3, destacou que qualquer eventual adulteração proposital e criminosa de cerveja com metanol seria não apenas economicamente inviável, mas também de fácil detecção. A entidade argumenta que tal prática não resultaria em qualquer vantagem comercial para os falsificadores, tornando-a sem sentido do ponto de vista operacional e financeiro. Este posicionamento visa tranquilizar os consumidores e o mercado em relação à segurança das cervejas produzidas no Brasil.
Cervejas Livres de Metanol: Adulteração é Inviável, Diz Abracerva
Nesta mesma semana, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, emitiu uma recomendação oficial para que a população evite o consumo de bebidas alcoólicas destiladas como medida preventiva. Ele também sublinhou que a adulteração é consideravelmente mais difícil de ocorrer em cervejas, um fato atribuído à sua margem de lucro comparativamente menor, o que desincentivaria a ação criminosa. A complexidade e o volume da produção cervejeira, em comparação com destilados, também contribuem para a inviabilidade de tais fraudes em grande escala.
Intoxicação por Metanol e a Segurança do Setor Cervejeiro
Especialistas consultados pelo Estadão, embora alertem sobre a possibilidade técnica de adulterar bebidas fermentadas com metanol, reforçam que tal ação na cerveja é significativamente mais complexa de ser realizada sem ser notada. No Brasil, o número de casos notificados de intoxicação por metanol já ultrapassa cem, e estes ainda estão sob investigação rigorosa pelas autoridades de saúde e segurança pública. Infelizmente, esses incidentes já resultaram em 11 óbitos confirmados, evidenciando a gravidade da situação.
A Abracerva tem acompanhado de perto todas as investigações e fornecido orientações contínuas para todo o setor cervejeiro. É fundamental ressaltar que tanto a produção de cervejas artesanais quanto a de larga escala estão submetidas às mesmas e rigorosas legislações brasileiras. Estas normas estabelecem padrões elevados de qualidade e segurança, garantindo que o produto final oferecido aos consumidores mantenha sua confiabilidade e conformidade.
Aspectos Técnicos: Por Que o Metanol é Raro na Cerveja?
A entidade esclarece ainda os aspectos técnicos da produção. No processo cervejeiro, a fermentação natural resulta em níveis de metanol que são considerados insignificantes. A quantidade ínfima presente é amplamente segura, estando em total conformidade com os parâmetros e limites estabelecidos internacionalmente para bebidas alcoólicas. Isso reforça a tese de que a presença acidental ou em níveis perigosos de metanol na cerveja é algo extremamente raro e improvável.
A química Glauce Guimarães Pereira, integrante da comissão técnica do Conselho Regional de Química de São Paulo, explica que a utilização de metanol para adulterar bebidas alcoólicas destiladas é consideravelmente mais fácil. O metanol puro possui um sabor levemente alcoólico, similar ao etanol, e não apresenta um odor forte característico que o denuncie. Em destilados com teor alcoólico elevado, geralmente entre 30% e 40%, a presença do metanol não é perceptível no sabor, o que facilita a fraude e a torna perigosa. Mais informações sobre os riscos do metanol podem ser encontradas em alertas de órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No entanto, a situação se inverte drasticamente quando se trata de cerveja. Com um teor alcoólico naturalmente mais baixo, que varia entre 4% e 6%, e uma complexidade aromática muito maior, qualquer desvio químico na composição da cerveja é substancialmente mais fácil de ser detectado. Glauce Guimarães Pereira pontua que, na cerveja, qualquer tentativa de adulteração com metanol sem ser percebida renderia uma quantidade muito pequena do produto adulterado, tornando a operação ineficiente para criminosos.
Setor Artesanal Reforça Cuidados e Busca por Parcerias Confiáveis
A Associação dos Cervejeiros Artesanais Paulistas (Acerva Paulista) recorda que, desde o incidente de contaminação envolvendo a Cervejaria Backer, em Minas Gerais, no ano de 2020, o setor intensificou os cuidados e protocolos de segurança. Carlos Santana, presidente da Acerva Paulista, afirma que a entidade reforça continuamente essas medidas preventivas entre seus associados, com o objetivo primordial de garantir a segurança e a elevada qualidade de toda a produção.
Santana também levanta a hipótese de que o impacto econômico da pandemia no setor de bares e restaurantes possa ter contribuído para a crise atual. Ele observa que, na busca por uma redução de custos operacionais, proprietários e administradores muitas vezes optam por trocar de fornecedores, atraídos por diferenças mínimas no preço por litro. Diante disso, Carlos Santana enfatiza a responsabilidade do setor em reforçar a seriedade e os cuidados em todas as etapas da produção e operação, concluindo que é fundamental buscar parceiros e fornecedores com longa atuação no mercado, que ofereçam produtos de qualidade comprovada e devidamente certificados.
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Em síntese, o cenário atual de preocupação com bebidas adulteradas reforça a postura da Abracerva e de outros órgãos do setor cervejeiro: a adulteração de cervejas com metanol é uma prática inviável e sem sentido econômico, além de ser facilmente identificável devido às características intrínsecas da bebida. O setor segue comprometido com a segurança e a qualidade, submetido a rigorosas legislações. Para se manter atualizado sobre as principais notícias e análises do mercado, continue acompanhando nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Foto: Werther Santana/Estadão
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