A decisão de crescer na empresa atual ou procurar por novas oportunidades no mercado de trabalho é um dilema comum que muitos profissionais enfrentam, especialmente em contextos onde a meritocracia não é o pilar fundamental da progressão. Este cenário é vivenciado por um analista financeiro de 35 anos, com seis anos de atuação em uma indústria de autopeças, que acumula frustrações diante da falta de reconhecimento, mesmo com um currículo robusto e resultados consistentemente positivos.
O profissional em questão possui graduação em administração, dois MBAs e diversas certificações, evidenciando um compromisso contínuo com seu desenvolvimento e qualificação. Nos últimos dois anos, seus resultados na empresa foram destacados como excelentes, demonstrando capacidade e dedicação. Contudo, apesar de seu desempenho exemplar e das qualificações acumuladas, ele permanece classificado como Analista I, sem receber feedbacks estruturados ou qualquer forma de reconhecimento formal por suas contribuições.
Crescer na empresa atual ou buscar novas oportunidades?
A cultura organizacional da empresa, de gestão familiar, parece ser um fator determinante na estagnação da carreira do analista. O ambiente corporativo valoriza primordialmente o tempo de casa e a proximidade pessoal com a liderança, em detrimento da meritocracia e do desempenho individual. Essa dinâmica se manifesta de forma preocupante no dia a dia, onde seu supervisor se apropria de relatórios e análises produzidas por ele. Diante de um pedido de revisão salarial, o analista recebeu uma resposta evasiva e desmotivadora: a sugestão de que, se não estivesse satisfeito, poderia simplesmente buscar outra colocação. O setor de Recursos Humanos, por sua vez, reconhece suas qualificações, mas oferece apenas a perspectiva de que o crescimento seria “questão de tempo”, uma promessa vaga que não se alinha à sua experiência e expectativas de avanço.
Com o acúmulo de responsabilidades que, em sua própria avaliação, já justificariam uma promoção para posições de Analista Pleno, Sênior ou até mesmo Supervisor, o profissional encontra-se em um estado de profunda desmotivação. O dilema se intensifica: vale a pena persistir em uma organização onde a promoção não é pautada pelo mérito ou é mais sensato direcionar sua energia para o mercado de trabalho, em busca de um ambiente que valorize suas competências e dedicação?
Dani Jesus, psicóloga, ativista e especialista em cultura e gestão de pessoas, oferece uma análise sobre este cenário. Segundo ela, a situação descrita pelo analista transcende uma insatisfação pontual; é um reflexo de um modelo de gestão que, infelizmente, ainda prevalece em muitas empresas familiares e tradicionais. Nessas estruturas, a progressão de carreira raramente está vinculada ao desempenho, às entregas ou à qualificação técnica. Em vez disso, fatores como o tempo de permanência na empresa, a confiança pessoal e os vínculos afetivos com a liderança são os principais catalisadores do avanço profissional.
Essa abordagem gera um paradoxo significativo e muitas vezes doloroso: enquanto profissionais altamente competentes e comprometidos permanecem estagnados, seu mérito e suas conquistas tornam-se praticamente invisíveis. O analista já esgotou as vias ao seu alcance: investiu em formação acadêmica sólida, entregou resultados consistentes, posicionou-se de forma madura e solicitou feedbacks. Quando, mesmo após todas essas iniciativas, não há reconhecimento nem diálogo construtivo, a questão não reside no colaborador, mas sim na cultura da organização.
Culturas organizacionais, especialmente aquelas alicerçadas em hierarquias familiares e que valorizam a antiguidade em detrimento da competência, dificilmente se transformam pela simples força do mérito individual. Essas mudanças, quando ocorrem, tendem a ser um processo gradual e orgânico, de dentro para fora, ao longo de um período considerável. A pergunta crucial, portanto, não é apenas sobre a validade de insistir, mas sobre o custo emocional, psicológico e profissional que a permanência neste ambiente está acarretando para o indivíduo.
A especialista ressalta que “continuar tentando provar seu valor onde ele não é reconhecido pode acabar diminuindo justamente aquilo que te faz crescer”. Quando um espaço de trabalho deixa de ser um local de desenvolvimento e se converte em uma fonte constante de frustração, ele começa a comprometer seriamente a vitalidade profissional do colaborador. Há momentos na carreira em que a insistência se traduz em perseverança, uma qualidade louvável que impulsiona o progresso. Contudo, em outras circunstâncias, insistir pode ser sinônimo de estagnação, de um apego improdutivo a um ciclo que já deveria ter se encerrado.

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O caso do analista financeiro parece se enquadrar na segunda categoria. Buscar uma nova oportunidade no mercado não deve ser interpretado como um ato de desistência, mas sim como o reconhecimento maduro de que seu ciclo profissional naquela empresa específica chegou ao fim. O mercado de trabalho contemporâneo valoriza profissionais que não apenas demonstram capacidade de aprender e entregar resultados, mas que também possuem a inteligência emocional para identificar quando um ambiente não mais corresponde à sua dedicação e ao seu potencial.
Portanto, se a cultura da empresa não é meritocrática, o mérito, por definição, não será o critério para o avanço. Continuar investindo energia em provar seu valor onde ele não é reconhecido pode, paradoxalmente, minar a própria essência do crescimento profissional. Em determinadas situações, a insistência em lugares que já não oferecem um encaixe adequado, na tentativa de “colher flores em um solo árido”, é motivada pelo desejo de coerência e pelo investimento de tempo e afeto. No entanto, chega um ponto em que a lucidez se impõe, e a verdadeira coerência reside em reconhecer o momento certo para mudar de terreno, para escolher florescer em um ambiente mais propício ao desenvolvimento.
A cultura organizacional impacta diretamente a retenção de talentos e o engajamento dos colaboradores. Para mais detalhes sobre a importância e os tipos de cultura organizacional, um recurso valioso pode ser encontrado no portal Exame, que aprofunda esse tema crucial para o ambiente de trabalho moderno. A decisão de buscar um novo caminho não é um abandono, mas uma escolha consciente em prol do crescimento pessoal e profissional.
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Este dilema ressalta a importância de alinhar as expectativas de carreira com a realidade da cultura empresarial. Profissionais qualificados e dedicados merecem ambientes que valorizem seus esforços e os recompensem de forma justa, impulsionando seu desenvolvimento contínuo. Para mais análises aprofundadas sobre carreira e o mundo corporativo, convidamos você a explorar outras matérias em nossa editoria de Análises.
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