Apesar dos múltiplos desafios econômicos e geopolíticos, os mercados financeiros globais parecem ignorar as perspectivas negativas. Observadores atentos, incluindo a colunista Katie Martin do Financial Times, sugerem que este cenário indica uma iminente disparada no mercado, com preços em ascensão significativa nos próximos meses deste ano.
De acordo com a análise, gestores de fundos em diversas economias, como Estados Unidos, França e Japão, demonstram crescente preocupação com questões que vão desde a sustentabilidade da dívida até um otimismo excessivo em classes de ativos de risco. Contudo, o panorama do mercado tem se mantido constante desde o impacto das tarifas dos EUA em abril, caracterizado pela valorização de ações, títulos corporativos e um fluxo robusto de capital para os mercados privados. Essa dinâmica é impulsionada pela convicção em uma “fada da desinflação”, que promete manter as taxas de juros americanas em patamares mais baixos.
Disparada no Mercado Global: Preços Devem Subir Forte
Diante dessa persistente tendência de alta, mesmo investidores tradicionalmente mais cautelosos estão adotando a estratégia de “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. Mike Riddell, gestor de portfólio da Fidelity International em Londres, reflete o sentimento predominante: “Os clientes perguntam, as coisas estão em bolha? Sim, as coisas parecem espumosas, mas talvez tenhamos mais dois anos disso… É realmente difícil responder quando a loucura vai parar”.
Principais Riscos para a Disparada de Preços
Embora a euforia prevaleça, a identificação dos riscos é menos complexa, e três áreas-chave se destacam como potenciais gatilhos para uma correção de mercado. A primeira delas diz respeito ao entusiasmo exagerado em torno da inteligência artificial (IA). Os investimentos corporativos em IA sustentam uma parte considerável dos mercados públicos e privados, além de responder por uma fatia significativa do crescimento econômico dos EUA. Alguns analistas argumentam que, sem esse impulso, o país poderia já estar em recessão. A questão de uma possível bolha de IA é abertamente debatida, com Jeff Bezos, da Amazon, inclusive sugerindo que se trata de uma “bolha boa”, embora todas as bolhas, historicamente, acabem estourando.
O segundo ponto de preocupação reside na estreiteza insustentável dos spreads de crédito. Enquanto o índice S&P 500 dos EUA registrou uma alta de 15% neste ano e quase 40% desde o ponto mais baixo em abril, o retorno adicional que os investidores esperam ao adquirir títulos corporativos em vez de títulos governamentais praticamente desapareceu. Um “surto” de otimismo dos investidores nessa classe de ativos tem sido observado, conforme o Bank of America, indicando que “os riscos de correção estão aumentando”. A ausência de margem para erros torna as recentes falhas relacionadas aos mercados de dívida privada ainda mais alarmantes, e um recuo nesse setor não seria surpreendente.
O terceiro e mais substancial risco apontado é a contínua deterioração das instituições e normas políticas nos Estados Unidos. Embora os EUA sejam cruciais para as finanças globais e possuam uma moeda de reserva dominante, seu comportamento político por vezes se assemelha ao de um mercado emergente. A preocupação com a influência do movimento “Make America Great Again” (MAGA) sobre o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) é uma faceta dessa instabilidade. Atualmente, os mercados concedem aos EUA o benefício da dúvida, amparados pelo privilégio de sua moeda e pela percepção de que o mercado de trabalho está se ajustando, o que poderia levar o Fed a cortar as taxas de juros.
Entretanto, o maior perigo é o ressurgimento da inflação, já evidente nos preços ao consumidor dos EUA. Qualquer fator que impeça o banco central de realizar cortes nas taxas interromperia a atual exuberância, pressionando os preços dos títulos para baixo e elevando os custos de empréstimos. A situação é agravada pela paralisação do governo dos EUA, que suspendeu a divulgação de dados oficiais, fazendo com que os mercados operem, em grande parte, sem informações cruciais. Para aprofundar a compreensão sobre o papel do banco central americano na economia global, consulte o site oficial do Federal Reserve.

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Em outras frentes, gestores de recursos também monitoram os títulos do governo do Reino Unido, em antecipação ao orçamento do país no próximo mês, e os títulos do governo japonês, que já sofreram desvalorização este ano. A preocupação se deve à possível influência da nova primeira-ministra esperada, Sanae Takaichi, em dissuadir o Banco do Japão de seus aumentos de taxas de juros previamente antecipados. Embora esses mercados não possuam o mesmo peso dos Treasuries dos EUA, eles poderiam facilmente ser o catalisador para uma reavaliação sobre se os títulos realmente oferecem compensação adequada aos investidores pelo risco assumido.
Sentimento de Mercado e o “Medo de Ficar de Fora”
Por ora, esses riscos e incertezas continuam a atrair os pessimistas profissionais, enquanto a maioria dos investidores celebra. Emmanuel Cau e seus colegas do Barclays destacam em uma nota recente que o “medo de ficar de fora (FOMO) está em pleno andamento”. Investidores de varejo continuam a alocar recursos em ações dos EUA, e fundos mútuos recebem aportes no ritmo mais rápido desde o auge do excepcionalismo americano em novembro do ano passado. Curiosamente, vários fundos de hedge têm perdido a oportunidade dessa alta, o que sugere que uma grande base de compradores ainda pode ser contagiada pelo “vírus do FOMO”.
Céticos afirmam que o mercado opera com os últimos “vapores” de um ciclo estagnado. Essa visão pode ter seu mérito, mas a história mostra que esses “vapores” podem impulsionar o mercado muito mais longe do que o esperado, culminando em uma prolongada disparada no mercado antes de qualquer reversão significativa.
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Este cenário complexo e a crescente expectativa de uma disparada no mercado exigem que os investidores mantenham-se informados e preparados. Para análises aprofundadas sobre as tendências econômicas e os movimentos do mercado, continue acompanhando nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Andrew Kelly – 4.abr.24/Reuters