A disputa Café Brasil EUA, que elevou tensões comerciais entre as duas nações, foi o principal tema de uma videoconferência entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizada nesta segunda-feira, dia 6. O café, um dos produtos mais emblemáticos da pauta de exportações brasileiras, assumiu um papel central nas discussões, destacando a importância estratégica do grão para a economia do Brasil e para o mercado consumidor americano.
Durante o encontro virtual, que se estendeu por cerca de 30 minutos, Trump reconheceu publicamente os efeitos significativos das tarifas de 50% aplicadas em agosto sobre produtos brasileiros. Conforme apurado pela BBC News Brasil, o líder americano admitiu que os Estados Unidos já sentiam a carência do café de origem nacional, evidenciando o impacto direto das medidas protecionistas sobre o paladar e o custo de vida dos consumidores americanos.
Disputa Café Brasil EUA: Lula e Trump Conversam sobre Tarifas
O telefonema entre os dois chefes de Estado marcou um passo crucial na tentativa de reaproximação diplomática, após semanas de considerável atrito desencadeado pelo anúncio do aumento das tarifas americanas. Este diálogo representa um esforço para distensionar as relações bilaterais, que haviam sido abaladas por desavenças comerciais e políticas recentes.
O Impacto Econômico das Tarifas no Setor Cafeeiro
O café brasileiro, que historicamente supre aproximadamente um terço do consumo total dos Estados Unidos, emergiu como o segmento mais severamente impactado pelas novas tarifas. A imposição dessas barreiras comerciais teve repercussões imediatas e drásticas nas estatísticas de comércio entre os dois países. Dados analisados pela BBC, com base em informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), revelaram um cenário alarmante para as exportações cafeeiras.
Em setembro, as exportações de café do Brasil para o mercado americano registraram uma queda expressiva. O volume despencou 47%, enquanto o valor total das vendas diminuiu 31,5%, totalizando apenas US$ 113,8 milhões. Essa retração abrupta no comércio de café desencadeou uma série de desdobramentos negativos para a balança comercial brasileira como um todo.
A diminuição das exportações contribuiu para uma queda de 41% no superávit comercial do Brasil naquele mês, que recuou para US$ 3 bilhões. De forma mais ampla, o comércio total entre Brasil e Estados Unidos sofreu uma retração de 20,3%. Paradoxalmente, enquanto as vendas brasileiras diminuíam, as importações americanas por parte do Brasil registraram um crescimento de 14,3%. Este desequilíbrio resultou em um aumento do déficit comercial brasileiro, que atingiu a marca de US$ 1,77 bilhão.
Nos Estados Unidos, os efeitos das tarifas foram rapidamente percebidos pelos consumidores. O preço do café no varejo experimentou um salto de 3,6% em agosto, o que representou o maior aumento mensal em um período de 14 anos, de acordo com o Escritório de Estatísticas do Trabalho americano. Essa elevação foi nove vezes superior à inflação média mensal observada no país, que foi de 0,4%.
No acumulado de 12 meses, a alta nos preços do café alcançou 20,9%, marcando a intensificação mais acentuada desde 1997. A imposição de tarifas não se restringiu apenas ao Brasil; outros grandes países exportadores também foram afetados. A Colômbia, por exemplo, recebeu uma tarifa de 10%, adicionando uma pressão inflacionária adicional sobre o custo do produto nos Estados Unidos. A Organização Mundial do Comércio (OMC) frequentemente aborda as consequências dessas medidas protecionistas em seus relatórios sobre o comércio global, como pode ser visto em `https://www.wto.org/`.
A Reaproximação Diplomática e os Diálogos de Cúpula
O diálogo entre os presidentes Lula e Trump se deu em um contexto de intenso atrito diplomático, que teve início quando o republicano justificou a imposição das tarifas como uma retaliação à perseguição judicial supostamente direcionada a Jair Bolsonaro (PL). Essa declaração havia gerado uma crise nas relações bilaterais, exigindo esforços de ambos os lados para mitigar a tensão.
Contudo, a dinâmica entre os dois líderes começou a mudar a partir de setembro, quando tiveram um breve encontro durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Na ocasião, Trump expressou ter sentido uma “excelente química” com o presidente brasileiro e acenou com a possibilidade de um futuro encontro bilateral, sinalizando um degelo na relação.
Durante a conversa desta segunda-feira, Lula reiterou a defesa pela revisão das tarifas e solicitou, adicionalmente, a revogação das sanções aplicadas contra autoridades brasileiras, entre elas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Fontes do Palácio do Planalto indicaram que o telefonema partiu de uma iniciativa americana, sublinhando o interesse dos Estados Unidos em reativar o diálogo.

Imagem: infomoney.com.br
O governo brasileiro, em nota oficial, informou que o presidente Lula descreveu o contato como uma valiosa oportunidade para “restaurar as relações amigáveis de 201 anos” entre o Brasil e os Estados Unidos, consideradas as duas maiores democracias do Ocidente. Do outro lado, Trump utilizou sua rede social Truth Social para expressar sua satisfação, afirmando ter tido uma “ótima conversa com Lula”.
“Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio. Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos EUA. Gostei da conversa – nossos países se darão muito bem juntos!”, declarou Trump em sua publicação, transmitindo uma mensagem de otimismo em relação ao futuro das relações bilaterais.
Perspectivas Futuras e o Símbolo do Café
Para dar continuidade às negociações e aprofundar os temas discutidos, o ex-presidente americano nomeou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as conversas. Rubio terá como contrapartes brasileiras o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o chanceler Mauro Vieira, formando uma equipe de alto nível para abordar os pontos comerciais e diplomáticos pendentes.
Adicionalmente, os dois presidentes avaliam a possibilidade de um encontro presencial já em novembro, seja durante a Cúpula da ASEAN, que será realizada na Malásia, ou na COP30, agendada para acontecer em Belém, no Pará. Em um tom bem-humorado, Trump teria comentado que, durante o evento da ONU, “a única coisa que funcionou” para ele foi o encontro com Lula, ressaltando a boa interação pessoal entre os líderes.
O café, que já era um produto de destaque na pauta de exportações brasileiras, solidificou-se como um símbolo da crise comercial entre Brasil e Estados Unidos. Seus efeitos foram sentidos diretamente por exportadores brasileiros, torrefadoras americanas e, em última instância, pelos consumidores finais nos EUA, que viram os preços do produto subirem.
Caso as tarifas se mantenham até o final do ano, o Brasil corre o risco de perder uma fatia significativa de seu espaço no lucrativo mercado americano para fornecedores de outras regiões, como países asiáticos e africanos, a exemplo do Vietnã e da Etiópia. Essa concorrência global intensificaria ainda mais a pressão sobre os produtores brasileiros.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, interpreta o recente diálogo como um sinal positivo e deposita suas esperanças em negociações técnicas. Lideradas pelo vice-presidente Alckmin, essas conversas têm como objetivo principal buscar uma redução progressiva das tarifas, com a meta de alcançar um desfecho favorável até o primeiro trimestre de 2026, visando restaurar a competitividade do café brasileiro no mercado americano.
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A complexa relação comercial e diplomática entre Brasil e Estados Unidos, personificada pela disputa em torno do café, continua sendo um tópico de alta relevância para a economia global. Para se manter atualizado sobre os desdobramentos das relações internacionais e seus impactos econômicos, continue acompanhando a editoria de Economia.
Crédito da imagem: Agência Brasil