Nesta quinta-feira, 9 de novembro, marca a estreia oficial de um documentário que promete lançar um olhar crítico sobre as reformas econômicas na Argentina e seus profundos impactos sociais. Intitulado “Vai para a Argentina, Carajo!”, a produção do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) mergulha nas complexidades que sustentam a popularidade do presidente Javier Milei, explorando sua conexão intrínseca com a mídia e os tradicionais setores da economia, apesar de sua autoproclamada postura de político de ruptura.
Para desvendar o que tem sido amplamente chamado de “milagre argentino” por seus defensores, o renomado narrador Eduardo Moreira, junto à diretora Juliana Baroni e ao diretor argentino Fabián Restivo, empreendeu uma jornada investigativa a Buenos Aires. A equipe realizou uma série de entrevistas abrangentes, conversando tanto com críticos ferrenhos quanto com entusiastas do atual governo que ocupa a Casa Rosada. A apuração se estendeu desde o coração financeiro da capital até os bairros mais periféricos, buscando compreender as diversas perspectivas da população sobre as transformações em curso.
Documentário Milei Argentina: Reformas e Custos Sociais
Os diretores do projeto, gravado em agosto do ano corrente, fizeram questão de evidenciar os severos custos decorrentes do arrocho fiscal e dos cortes drásticos de financiamento que atingiram pastas cruciais. Dentre as áreas mais afetadas estão Cultura, Direitos Humanos, Educação, Ciência e Assistência Social, cujas reduções orçamentárias têm gerado amplas discussões e protestos em todo o país. O filme detalha como essas medidas impactam diretamente a vida dos cidadãos argentinos.
Em uma declaração à Agência Brasil, Juliana Baroni compartilhou a abordagem autêntica da equipe: “A gente mostra o que encontrou. Acho que as pessoas gostam muito dessa linguagem crua mesmo, isso aproxima porque é verdadeiro. Mesmo quem não é da mesma corrente ideológica enxerga, porque tem fatos, tem argumentos, então acho que isso aproxima”. A diretora reforça que a intenção foi criar uma narrativa baseada em evidências, capaz de transcender as divisões ideológicas e promover um diálogo construtivo sobre a realidade argentina.
Para materializar essa proposta de proximidade e autenticidade, as filmagens realizadas em terras portenhas foram executadas exclusivamente com o uso de celulares. Essa escolha, impulsionada pela ausência de financiamento externo para a produção, acabou se tornando uma característica estética distintiva do documentário. Baroni explicou que essa abordagem permitiu que a “falta de recurso virou estética”, criando uma sensação de imersão para o público, que se sente “viajando com a gente” e experimentando as realidades argentinas de uma maneira mais visceral.
A composição visual da obra não se limita às imagens captadas in loco na Argentina. O documentário integra, de forma criativa, artes geradas por inteligência artificial, além de resgatar uma vasta coleção de vídeos publicados em redes sociais. Esses materiais incluem trechos de discursos emblemáticos de Javier Milei, bem como registros de protestos significativos contra as políticas implementadas por seu governo. Essa mescla de recursos visuais proporciona uma análise multifacetada do cenário político e social do país.
A equipe de filmagem também testemunhou e registrou diversos protestos de rua contra a condução econômica de Milei, eventos que, segundo o artigo original, não são incomuns e ocorrem regularmente, especialmente às quartas-feiras. Um dos pontos altos da documentação foi a cobertura do maior desses protestos anuais, organizado em colaboração com o coletivo das Mães da Praça de Maio. Fabián Restivo estima que a manifestação deste ano reuniu impressionantes 800 mil pessoas, um número que sublinha a escala do descontentamento social. Para mais detalhes sobre o cenário econômico do país, um artigo da BBC News Brasil explora os desafios enfrentados pela Argentina.
Em todas essas manifestações massivas, as reclamações populares convergem de forma consistente. Os cidadãos expressam indignação contra os cortes nos equipamentos de assistência pública, que são vitais para os mais necessitados. Há também uma forte oposição aos cortes nas aposentadorias e um clamor pela liberação urgente de verbas destinadas às universidades públicas, bem como aos órgãos de fomento e gestão. Todas essas áreas têm sido duramente atingidas pela “motosserra”, um dos símbolos visuais mais impactantes e controversos adotados pelo presidente Milei.
Juliana Baroni, ao comentar a mobilização argentina, destacou a força desses movimentos: “Acho que é o que eles têm de melhor, esse poder de mobilização, e é uma coisa que a gente precisa retomar. A gente já foi um país que se mobilizou mais em outros momentos. E está na hora de a gente voltar a ganhar força, a ganhar voz nas ruas. Seria um excelente exemplo mostrar o que os argentinos fazem, que é cultural para eles e poderia ser cultural para a gente também”. A fala da diretora ressalta a importância da participação cívica e da manifestação popular como ferramentas para a mudança e a representação de interesses.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
Além de focar na pujança dos protestos e na força dos movimentos sociais locais, o documentário aprofunda-se na rica história política argentina. A produção busca traçar uma linha do tempo desde a era Peronista, nos anos 1940, para fornecer um contexto histórico robusto que ajude a explicar a origem e a ascensão de Javier Milei. Essa retrospectiva oferece ao espectador uma compreensão mais ampla das raízes históricas e ideológicas que moldaram o cenário político atual.
Um desafio inesperado surgiu na fase de divulgação do filme. Em uma sessão prévia em São Paulo, realizada na última terça-feira, 7 de novembro, Eduardo Moreira revelou as dificuldades enfrentadas para promover o lançamento. Plataformas de grande alcance como Facebook e YouTube têm sistematicamente derrubado os anúncios do ICL que fazem qualquer menção crítica ao presidente argentino, tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina. Em um teste para confirmar a censura, a equipe criou um anúncio com uma mensagem positiva ou neutra sobre a figura de Milei, e este foi o único que não sofreu bloqueio, evidenciando uma prática de cerceamento da propaganda.
Giácomo Oliveira, diretor de marketing do ICL, confirmou a situação inédita. Ele explicou que o instituto segue uma dinâmica de vídeos de divulgação que já foi aplicada com sucesso em mais de 50 eventos anteriores, com campanhas de divulgação que se estendem por 21 dias. “Nunca enfrentamos, como nesse filme da Argentina, tanta dificuldade para conseguir rodar as campanhas como está acontecendo agora. É inédito”, lamentou Oliveira, sublinhando a gravidade do problema e a dimensão do obstáculo na disseminação do conteúdo.
Diante desses bloqueios, a equipe encontrou uma solução estratégica: a divulgação interna, direcionada às redes de colaboradores e ao público que já acompanha fielmente o ICL. Giácomo Oliveira estima que, apesar das adversidades, pelo menos 50 mil pessoas estarão acompanhando a estreia do documentário. Essa mobilização interna demonstra a resiliência do instituto em contornar as barreiras impostas e garantir que a mensagem de “Vai para a Argentina, Carajo!” alcance seu público.
O documentário “Vai para a Argentina, Carajo!” está disponível gratuitamente no canal oficial do ICL no YouTube, convidando a todos a assistirem e formarem suas próprias conclusões sobre o atual panorama político e social da Argentina sob a administração de Javier Milei e suas controversas reformas econômicas.
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Este documentário oferece uma análise profunda das políticas de austeridade na Argentina e seus reflexos na vida dos cidadãos. Para continuar acompanhando as notícias mais relevantes sobre política e economia na América Latina e no Brasil, mantenha-se conectado à nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Alfredo Luna/Ulan/Pool / Latin America News Agency via Reuters Connect