Nesta segunda-feira, 6 de outubro de 2025, o empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti compareceu à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. Após inicialmente responder às questões apresentadas pelo relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), Cavalcanti informou que optaria por permanecer em silêncio durante o restante de seu depoimento. A decisão foi comunicada por seu advogado, Thiago Machado, que declarou que seu cliente não responderia “sim ou não” a partir daquele momento.
Cavalcanti é ex-sócio do advogado Nelson Willians, um dos indivíduos sob investigação no contexto de um esquema que envolvia descontos indevidos de mensalidades de associações de aposentados e pensionistas. O empresário foi um dos alvos da Operação Sem Desconto, uma ação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que apura a prática de descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Empresário na CPMI do INSS Responde, Mas Exerce Silêncio
A prerrogativa de silenciar foi assegurada a Cavalcanti por um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. Este instrumento jurídico garante o direito de não ser forçado a responder a perguntas que possam levar à autoincriminação. Ao iniciar seu depoimento, por volta das 16h30, o empresário refutou categoricamente as acusações de que fazia parte do esquema de desvios de mensalidades de aposentados, afirmando não ser “laranja” nem beneficiário das atividades ilícitas. Ele também declarou desconhecer as ações ilegais atribuídas a Nelson Willians e Maurício Camisotti.
Nelson Willians é conhecido por ser proprietário de um dos mais prestigiados escritórios de advocacia do país, frequentemente ostentando um estilo de vida luxuoso em suas plataformas de mídia social. Ele teria atuado em conjunto com Maurício Camisotti e Antônio Carlos Camilo Antunes, apelidado de “Careca do INSS”, apontados como os principais articuladores do esquema de corrupção. Cavalcanti esclareceu que seu conhecimento sobre a relação entre os dois se resumia a contratos de empréstimos, cujos pagamentos ainda estão em curso. Ele reforçou que sua atuação sempre foi como gestor, e que os valores recebidos eram condizentes com suas funções e seu padrão de vida, negando qualquer participação em esquemas fraudulentos.
Questionamentos Sobre Patrimônio e Acusações de Fraude
Durante a Operação Sem Desconto, que foi deflagrada em 23 de abril de 2024, a Polícia Federal apreendeu mais de 20 veículos de luxo pertencentes a Fernando Cavalcanti. A lista incluía uma Ferrari, avaliada em aproximadamente R$ 4,5 milhões, uma réplica de carro de Fórmula 1 e diversas motocicletas. Curiosamente, esses veículos foram encaminhados para um shopping em Brasília um dia antes da operação. O empresário defendeu-se, afirmando que “não pesa qualquer investigação de envolvimento de fraude com o INSS”, negando ocultação ou má-fé. Ele argumentou que os veículos são propriedade de sua empresa, adquiridos licitamente, com alguns ainda em financiamento, como a Ferrari, cujo pagamento, segundo ele, se estenderá até 2027. Cavalcanti acrescentou que é prática comum em Brasília guardar carros em estabelecimentos comerciais.
Além dos veículos, a PF também apreendeu relógios de luxo na residência do empresário e vinhos de uma adega, com valor estimado em mais de R$ 7 milhões. O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar, questionou a evolução patrimonial de Cavalcanti, que antes de integrar o escritório de Nelson Willians em 2017, atuava como assessor parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo, com rendimentos mensais de pouco mais de R$ 5 mil. Cavalcanti respondeu que em 2017 seu patrimônio não alcançava R$ 100 mil, mas recusou-se a divulgar seu patrimônio atual, embora tenha afirmado estar declarado em seu imposto de renda. Gaspar confrontou o empresário, mencionando movimentações de milhões de reais com Nelson Willians e Camisotti, e prometeu levar o “exemplo de sucesso” de Cavalcanti à CPMI.
A Visão da CPMI: Uma “Máfia” com Conexões Políticas
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), expressou que o depoimento de Cavalcanti revelava uma estratégia de defesa sendo montada. Viana considerou “impossível” que uma pessoa que, vinda de São Paulo sob suspeita de negociar emendas parlamentares e ganhando R$ 5 mil mensais, acumulasse em Brasília um patrimônio de R$ 200 milhões apenas em carros, além de uma adega de R$ 7 milhões e um estilo de vida luxuoso. O senador indicou que a quebra de sigilo e as movimentações financeiras demonstram que Cavalcanti é “apenas uma parte de todo esse esquema”, e que a Polícia Federal o investiga como suposto “laranja”, pois os dados indicam que ele “não tem lastro” para o patrimônio declarado, dificultando a explicação da origem de tantos bens valiosos.

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Viana classificou a organização como uma “máfia”, com conexões com políticos, servidores públicos e outras autoridades. Ele descreveu-a como “uma quadrilha que tomou de assalto a receita, que corrompeu servidores e que perpassou governos”, mantendo bons relacionamentos políticos e acesso a instituições como o Senado e a Câmara dos Deputados, além de realizar doações para campanhas políticas. Segundo o senador, esse “modus operandi” demonstra que os envolvidos não esperavam ser descobertos, agindo com tranquilidade e acreditando que seu patrimônio lhes garantiria uma vida de bilionários.
O senador Carlos Viana também aguarda uma resposta do ministro do STF, André Mendonça, a um pedido da CPMI para que Maurício Camisotti seja ouvido. Um habeas corpus anterior do ministro concedeu a Camisotti o direito de não ser obrigado a depor. Viana enfatizou que Camisotti é crucial para a investigação, a fim de compreender como as diferentes peças se encaixam no “esquema de roubo da previdência brasileira”. Ele solicitou uma reconsideração do habeas corpus e espera uma resposta em breve, planejando visitar o STF novamente se necessário.
Entre as associações sob investigação na Operação Sem Desconto, está a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (AMBEC). As investigações sugerem que a AMBEC é supostamente controlada por “laranjas” com ligações a Maurício Camisotti. Os dados financeiros revelam um crescimento exponencial nas contribuições dos associados: de R$ 135 em 2021, o valor saltou para R$ 14,9 milhões em 2022 e atingiu R$ 91 milhões em 2023, levantando sérias suspeitas sobre a origem e a legalidade dessas movimentações.
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O depoimento de Fernando Cavalcanti à CPMI do INSS revela a complexidade das investigações sobre o esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas, expondo as conexões e o modus operandi de uma suposta organização criminosa. A continuidade dos trabalhos da comissão é fundamental para esclarecer os fatos e responsabilizar os envolvidos. Para aprofundar-se em outros temas relevantes da política nacional e investigações em curso, continue acompanhando nossa editoria de Política.
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