A fome infantil em Gaza é uma realidade alarmante que afeta dezenas de milhares de crianças menores de cinco anos, conforme os resultados de um estudo divulgado recentemente. A pesquisa, realizada pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e publicada pela respeitada revista médica internacional Lancet na quarta-feira, dia 8, aponta que 54,6 mil crianças nessa faixa etária estão desnutridas na Faixa de Gaza. Desse total, ao menos 12,8 mil encontram-se em estado grave, com chances reduzidas de recuperação devido à escassez de alimentos e à precariedade dos serviços de saúde e nutrição disponíveis no enclave palestino.
Os números apresentados pelo estudo da UNRWA e Lancet contrapõem-se, em parte, às frequentes declarações de Israel, que nega a existência de fome em Gaza e afirma permitir a entrada adequada de suprimentos alimentares no território. Contudo, relatórios anteriores já indicavam uma crise humanitária severa. Em agosto, a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) havia confirmado a fome generalizada na Faixa de Gaza. Em decorrência disso, Jeremy Laurence, porta-voz da agência de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), responsabilizou o governo israelense pela restrição ilegal da entrada e distribuição de ajuda humanitária e outros bens essenciais para a sobrevivência da população local.
Estudo Alerta: Fome Infantil em Gaza Atinge Milhares de Crianças
Metodologia Abrangente do Estudo sobre Desnutrição
O estudo em questão analisou crianças com idades entre 6 meses e 5 anos na Faixa de Gaza, abrangendo o período de janeiro de 2024 a agosto de 2025. Para a avaliação, foram consideradas quase 220 mil crianças em 78 postos médicos instalados em abrigos e acampamentos, além de 16 centros de saúde distribuídos por toda a Faixa de Gaza. Os pesquisadores empregaram a técnica de medição da circunferência do braço (MUAC), um método amplamente reconhecido pela ciência para diagnosticar a desnutrição por emagrecimento. Crianças com MUAC inferior a 125 milímetros foram classificadas como gravemente desnutridas e, consequentemente, foram incluídas em programas de alimentação terapêutica oferecidos pela ONU. Essa metodologia permitiu uma análise detalhada e quantitativa da prevalência da desnutrição infantil em um contexto de crise.
Resultados Alarmantes e Picos da Crise Nutricional
A pesquisa revelou uma correlação direta entre os bloqueios à ajuda humanitária e o aumento das taxas de emagrecimento agudo em crianças. As restrições à entrada de alimentos, água, medicamentos, combustível e outros itens essenciais em Gaza foram identificadas como fatores cruciais para o agravamento da situação. O primeiro pico significativo de emagrecimento foi registrado em janeiro de 2025, afetando 14% das crianças avaliadas, o que corresponde a aproximadamente 48 mil palestinos com menos de cinco anos. Esse período foi precedido por quatro meses de severas e prolongadas restrições à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Fontes da ONU indicaram que, no último quadrimestre de 2024, a média diária de caminhões de ajuda humanitária (excluindo combustível) que cruzavam a fronteira variava entre 42 e 92, um número drasticamente inferior aos 300 a 600 caminhões que entravam diariamente antes do conflito.
Um segundo aumento expressivo na desnutrição foi observado em meados de agosto de 2025, impactando pelo menos 16% das crianças examinadas, totalizando 54,6 mil palestinos com menos de cinco anos. As onze semanas que antecederam esse pico foram marcadas, igualmente, por uma restrição severa na entrega de alimentos, medicamentos, água e combustível em Gaza. Ainda de acordo com dados da ONU, a situação é tão crítica que, como alertado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em um relatório de fevereiro de 2024, a fome em Gaza atingiu níveis alarmantes, com crianças à beira da morte por inanição, uma realidade que se agrava com as restrições contínuas à ajuda humanitária.
Análise por Faixa Etária e o Impacto do Cessar-Fogo
A análise dos dados por faixa etária trouxe um paradoxo intrigante no início do ano. Entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, meses marcados por intensas restrições à assistência, a taxa de desnutrição em crianças de 2 a 5 anos apresentou um aumento considerável, passando de 10% para 21%. Em contraste, a mesma pesquisa notou uma tendência inversa entre crianças de 6 meses a 2 anos, com uma redução na desnutrição durante o mesmo período. O estudo sugere que esse fenômeno pode ser explicado por um aumento no tempo de amamentação — prolongado até os dois anos de idade — ou pela possível priorização da alimentação de crianças mais novas pelas famílias em meio à escassez prolongada de alimentos.
Um dado esperançoso surgiu durante o cessar-fogo de seis semanas, que ocorreu entre janeiro e março de 2025. Neste intervalo, houve uma queda generalizada nos índices de desnutrição em crianças de todas as idades. Essa melhora foi diretamente atribuída ao aumento da entrada de ajuda humanitária em Gaza, que registrou uma média diária de 482 caminhões nesse período, evidenciando o impacto positivo do fluxo de suprimentos na saúde nutricional infantil.
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A situação de desnutrição infantil na Faixa de Gaza, conforme detalhado pelo estudo da UNRWA e Lancet, sublinha a urgência de esforços contínuos e desimpedidos para garantir o acesso à ajuda humanitária. Os dados reforçam a necessidade de ações imediatas para proteger a vida e o desenvolvimento de milhares de crianças palestinas. Para mais notícias e análises sobre a crise humanitária e os desenvolvimentos políticos na região, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Valor One