O Estado de Illinois deu início a uma ação judicial na segunda-feira, 6 de julho, visando impedir o envio de centenas de soldados da Guarda Nacional Illinois, federalizada, para as ruas da cidade de Chicago, por ordem do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Este litígio marca mais um capítulo em uma crescente série de confrontos legais que questionam a prerrogativa do presidente republicano de mobilizar forças militares em âmbito estadual, destacando um ponto crítico na separação de poderes e na autoridade federativa.
Este embate judicial emerge como um dos mais recentes em uma sequência de disputas legais que cercam as ações do ex-presidente Donald Trump. A questão central reside na utilização de tropas militares para atuação doméstica, uma medida que tem gerado intensa controvérsia e desafios legais por parte de estados e cidades lideradas por democratas, que veem nessas mobilizações uma extralimitacão da autoridade presidencial.
Guarda Nacional Illinois: Nova Batalha Judicial Contesta Trump
A iniciativa do estado de Illinois, sob liderança democrata, e da cidade de Chicago, ocorreu poucas horas após uma decisão proferida por um juiz federal no Oregon. No domingo, 5 de julho, o magistrado impôs um bloqueio temporário à administração Trump, impedindo o envio de tropas da Guarda Nacional para policiamento em Portland, Oregon. Este cenário ressalta a complexidade e a urgência das questões jurídicas envolvidas no uso de forças militares em contextos civis dentro dos Estados Unidos.
A ação movida por Chicago representa o quarto processo judicial focado especificamente no uso, considerado sem precedentes, de soldados por Donald Trump para o policiamento de cidades americanas. Tais mobilizações foram empregadas com a finalidade de reprimir protestos e intensificar a fiscalização da imigração em todo o território nacional. Até o momento, os tribunais ainda não proferiram uma decisão final em nenhum desses casos. Contudo, julgadores na Califórnia e no Oregon já emitiram veredictos iniciais, sinalizando que o presidente provavelmente excedeu sua esfera de autoridade legal.
O Contexto da Federalização e as Objeções de Illinois
A ação judicial apresentada por Illinois teve como alvo direto a decisão da administração Trump, divulgada no fim de semana anterior, de federalizar até 300 membros da Guarda Nacional de Illinois. Essa medida foi tomada apesar das explícitas objeções do governador democrata J.B. Pritzker. Adicionalmente, a decisão previa o envio de outros 400 membros da Guarda Nacional do Texas para atuarem em Chicago. As autoridades estaduais de Illinois argumentaram que tais avanços na “guerra” declarada pelo presidente Trump contra Chicago e Illinois são “ilegais e perigosos”, conforme expresso na própria petição inicial.
O governo republicano justificou o envio de militares para Illinois sob um “pretexto frágil”, alegando a necessidade de proteger uma instalação do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) localizada em um subúrbio de Chicago. Segundo a Casa Branca, a proteção seria indispensável devido à continuidade dos protestos do lado de fora do prédio, manifestações estas que se opõem à política de repressão à imigração implementada por Trump. Entretanto, o estado de Illinois contestou essa narrativa, afirmando que os protestos eram, em sua maioria, pacíficos e de pequena escala, e que qualquer escalada de tensões foi, infelizmente, provocada pela própria conduta do Departamento de Segurança Interna (DHS).
Os Argumentos Legais e a Constituição Americana
Em sua argumentação, o estado de Illinois sustenta que a administração Trump falhou em cumprir as condições legais essenciais que permitiriam a federalização das tropas da Guarda Nacional sem a aprovação expressa do governador Pritzker. A ação alega que tal conduta viola a Lei Posse Comitatus, uma legislação federal crucial que restringe drasticamente o uso de militares para fins de aplicação da lei em âmbito nacional, garantindo a separação entre as forças armadas e as funções policiais domésticas.
Além disso, a ação judicial argumenta que as medidas tomadas por Donald Trump representam uma transgressão à 10ª Emenda da Constituição dos EUA. Esta emenda é fundamental para a estrutura federativa americana, pois protege os direitos e poderes reservados aos estados e ao povo, limitando a autoridade do governo federal. Ao assumir o controle da Guarda Nacional de Illinois e ao tentar ditar a aplicação da lei local, Trump estaria usurpando o papel constitucional de Pritzker como comandante-em-chefe da Guarda Nacional em seu estado, e infringindo a autoridade estadual sobre a segurança pública. Para entender mais sobre a 10ª Emenda e a autonomia dos estados, pode-se consultar recursos confiáveis como a Constituição dos EUA na Cornell Law School.
A Posição da Casa Branca e o Escrutínio Judicial
Em resposta às acusações, a Casa Branca defendeu a necessidade das tropas, alegando que elas eram indispensáveis para proteger os funcionários do governo federal de “tumultos violentos” em Chicago. Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca na época, declarou que “o presidente Trump não fechará os olhos para a ilegalidade”, reforçando a justificativa para as ações presidenciais.

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A expansão do uso de militares por parte do presidente Donald Trump marcou seu segundo mandato, abrangendo o envio de tropas para a fronteira dos EUA e a ordem de eliminar suspeitos de tráfico de drogas em embarcações na Venezuela, sem o devido processo legal. Ele também ordenou o deslocamento de tropas da Guarda Nacional para diversas cidades, incluindo Los Angeles, Chicago, Portland e Washington D.C., o que invariavelmente desencadeou ações judiciais por parte de líderes estaduais e locais, ansiosos por defender suas respectivas autonomias e poderes.
As tropas da Guarda Nacional, por sua natureza, são forças de milícia baseadas em cada estado, e, via de regra, respondem aos seus respectivos governadores. A exceção a essa regra ocorre apenas quando são formalmente convocadas para o serviço federal. A ambiguidade e a tensão surgem justamente no ponto onde a autoridade federal se sobrepõe ou conflita com a autoridade estadual sobre essas forças.
Em decisões anteriores, juízes da Califórnia e do Oregon já determinaram que Trump violou a lei ao assumir o controle da Guarda Nacional nesses estados e ao utilizar as tropas californianas como uma força policial. Embora essas decisões estejam atualmente em fase de recurso, um tribunal superior permitiu que Trump mantivesse o controle da Guarda Nacional da Califórnia enquanto a batalha legal prosseguia, evidenciando a complexidade e a longa duração dessas disputas. Paralelamente, um juiz em Washington D.C. ainda não se manifestou sobre a legalidade do envio de tropas para a capital do país.
Donald Trump, por sua vez, manifestou a intenção de enviar tropas para outras cidades lideradas por democratas, incluindo Baltimore, Nova York e Oakland. Os líderes democratas dessas cidades interpretaram o envio de tropas como uma ferramenta de intimidação política. Em contrapartida, Trump argumentou que os protestos, associados à alta criminalidade e questões de imigração, exigiam uma resposta de âmbito nacional, justificando sua intervenção federal.
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As ações judiciais em andamento, como a que envolve a Guarda Nacional Illinois, sublinham o delicado equilíbrio de poder entre os governos federal e estadual nos Estados Unidos, especialmente em tempos de conflito civil e político. O desfecho dessas batalhas legais terá implicações significativas para a interpretação da autoridade presidencial e para os limites do uso de forças militares em solo doméstico. Para se manter atualizado sobre os desenvolvimentos dessas questões políticas e jurídicas, continue acompanhando a editoria de Política.
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