A La Liga intensifica a luta contra a pirataria global de conteúdo audiovisual, uma ameaça que causa prejuízos financeiros bilionários ao futebol profissional. As estimativas da liga espanhola apontam que os clubes do país registram perdas entre 600 e 700 milhões de euros por temporada, um valor que equivale a algo entre R$ 3,7 bilhões e R$ 4,3 bilhões. Este montante representa praticamente a metade do que foi distribuído em direitos de transmissão apenas na temporada 2022/2023.
Com cerca de 80% das equipes espanholas dependendo essencialmente dessas receitas de transmissão, a continuidade do cenário atual de pirataria apresenta um risco iminente. A projeção é que em até três anos, a situação possa se tornar crítica, culminando na potencial perda de talentos para o esporte, no fechamento de clubes e em um impacto direto e severo no financiamento de projetos para as categorias de base.
La Liga Intensifica Luta Contra Pirataria Global
A problemática da pirataria audiovisual assume contornos ainda mais preocupantes na América Latina. Um estudo conduzido pelo Cet.la, divulgado em 2024, revelou que metade de todas as visitas a sites audiovisuais na região tinha como destino domínios ilegais. No México, uma pesquisa indicou que 77% dos torcedores admitem consumir conteúdo pirata pelo menos uma vez por mês, enquanto no Brasil, esse índice atinge 67%. Comparativamente, esses números superam significativamente os verificados em nações europeias; na Espanha, por exemplo, 59% dos cidadãos declaram utilizar a pirataria esportiva mensalmente, com uma notável concentração entre o público jovem, onde 42% assistem a transmissões ilegais.
No contexto brasileiro, os reflexos financeiros da pirataria são igualmente alarmantes. A Rede Globo, que detém os direitos do Premiere, estima perdas anuais de R$ 500 milhões devido a essa prática. Em uma escala mais ampla, o Governo Federal calcula que a pirataria impede o recolhimento de mais de R$ 2 bilhões em impostos a cada ano. Para os clubes brasileiros, o prejuízo é ainda maior, chegando a quase R$ 10 bilhões que deixam de ser movimentados, verba que poderia ser fundamental para investimentos cruciais em infraestrutura, no desenvolvimento de categorias de base, na melhoria dos salários de atletas e na implementação de projetos sociais.
Para combater este mercado clandestino, que frequentemente financia redes criminosas transnacionais, a La Liga consolidou uma robusta estrutura antifraude. Esta força-tarefa conta com mais de 50 colaboradores estrategicamente alocados entre Madri e Cidade do México, além de manter um laboratório especializado sediado nos Emirados Árabes Unidos. O orçamento anual destinado a esta empreitada ultrapassa os três milhões de euros, integralmente investidos no desenvolvimento e aplicação de ferramentas tecnológicas proprietárias.
Entre as tecnologias desenvolvidas pela La Liga, destacam-se três ferramentas principais. A “Lumière” é um sistema projetado para coletar informações técnicas detalhadas que servem de base para ações judiciais. O “Saqueador de Vento” tem a capacidade de mapear e identificar as áreas geográficas com a maior concentração de sites ilegais. Já a ferramenta “Buraco Negro” atua no rastreamento e na identificação dos proprietários de serviços clandestinos de IPTV, fortalecendo a capacidade da liga de ir diretamente à fonte da pirataria.
A aplicação desses mecanismos permitiu que, apenas entre Espanha e Portugal, uma média de mais de 2.000 transmissões ilegais fosse detectada a cada partida da La Liga. No cenário europeu, um relatório da consultoria Grant Thornton identificou um impressionante número de 5,3 milhões de transmissões ao vivo piratas somente no primeiro semestre de 2024. O impacto global da pirataria transcende o setor esportivo: dados da Cybersecurity Ventures revelam que o crime cibernético movimentou 8 trilhões de dólares em 2023, com projeção de alcançar 10,5 trilhões até 2025, superando a rentabilidade do tráfico de drogas.
A América do Sul tem se destacado como palco de importantes operações judiciais contra a pirataria. Em setembro de 2024, a justiça argentina proferiu uma decisão crucial, bloqueando a Magis TV, então considerada a maior plataforma pirata da região, que registrava mais de 110 milhões de acessos anuais. A determinação judicial exigiu que o Google impedisse o funcionamento do aplicativo mesmo em dispositivos onde já estava instalado. Em novembro do mesmo ano, no Equador, as forças policiais efetuaram a prisão do principal responsável pela rede Flujo TV, que vendia pacotes ilegais de conteúdo a milhares de consumidores. No Brasil, a La Liga iniciou ações judiciais contra o Google, argumentando que a gigante da tecnologia facilita a disseminação de conteúdo ilícito ao não remover domínios inteiros e ao permitir a monetização de sites irregulares, o que corrobora com a tendência de aumento da pirataria digital no Brasil.

Imagem: infomoney.com.br
Paralelamente, a entidade esportiva mantém processos ativos em outros continentes, reforçando sua abordagem global. No setor de bares e restaurantes na Espanha, desde 2019, mais de mil condenações já foram obtidas contra estabelecimentos que transmitiam partidas sem a devida licença. Estima-se que cerca de 15 mil estabelecimentos foram identificados praticando essa infração apenas na temporada 2023/2024, gerando um prejuízo anual de aproximadamente 35 milhões de euros e configurando uma concorrência desleal contra os negócios que operam dentro da legalidade.
Outra vertente da estratégia da La Liga é a pressão constante sobre as grandes empresas de tecnologia globais. Um dossiê elaborado pela liga aponta o Google como envolvido em praticamente todas as etapas da fraude, desde o seu mecanismo de busca até a loja de aplicativos e o serviço de hospedagem em nuvem. O documento também destaca que a empresa lucra com publicidade exibida em sites piratas. Além disso, mais de 51% dos IPs ilegais que transmitem jogos da La Liga utilizam a infraestrutura da Cloudflare. Plataformas como Telegram e X também são citadas como peças-chave na disseminação de links e transmissões ilícitas. Entre fevereiro e julho de 2024, apenas no Facebook Marketplace, foram contabilizados 16.500 anúncios de dispositivos modificados para exibir conteúdos clandestinos, uma média de quase cem por dia.
A comparação entre diferentes modelos regulatórios evidencia o impacto das legislações. A Itália, por exemplo, implementou em 2023 uma lei que obriga provedores de internet e até serviços de VPN a bloquearem transmissões piratas em tempo real, prevendo inclusive multas de até 5.000 euros para usuários finais. Em contraste, na Espanha, embora exista uma liminar que permite o bloqueio semanal de 250 domínios, essa limitação impede uma resposta imediata e eficaz durante a ocorrência dos jogos ao vivo.
Em diversas frentes, a La Liga argumenta que a repressão à pirataria precisa ser global e integrada. Bloqueios nacionais perdem eficácia diante da popularidade de ferramentas como as Redes Virtuais Privadas (VPNs), utilizadas por 31% dos internautas em todo o mundo. Enquanto isso, os dados alarmantes da América do Sul e do Brasil demonstram que o problema atinge níveis ainda mais elevados do que na Europa, reforçando a região como uma prioridade estratégica na incansável batalha contra a pirataria digital.
Confira também: Investir em Imóveis na Região dos Lagos
A La Liga, com seu robusto investimento e estratégia multifacetada, busca proteger não apenas os direitos de transmissão, mas o futuro financeiro e esportivo do futebol. A luta contra a pirataria é um desafio constante, que demanda cooperação internacional e ação contundente contra todos os envolvidos na cadeia de distribuição ilegal. Para mais análises sobre o impacto da pirataria e as últimas notícias do mundo do esporte, continue acompanhando nossa editoria em Hora de Começar Esporte.
Crédito da imagem: Divulgação/La Liga