O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a taxação de fintechs e do sistema financeiro, ressaltando a importância de que essas entidades contribuam com os impostos devidos ao país. A declaração foi feita nesta quinta-feira, 9 de maio, em um contexto de intensa discussão sobre a arrecadação fiscal, especialmente após a decisão da Câmara dos Deputados de retirar de pauta a votação de uma Medida Provisória (MP) crucial que visava taxar rendimentos de aplicações financeiras e apostas esportivas, além de compensar a revogação de um decreto que aumentaria o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A MP, que enfrentou forte oposição do mercado financeiro e de diversos parlamentares, caducou sem ser votada, o que gerou um vácuo nas expectativas de arrecadação do governo. Diante desse cenário, o presidente sinalizou que o governo buscará outras estratégias para cumprir a meta fiscal estabelecida, incluindo a possibilidade de cortes de gastos. Lula, que se encontra em uma série de viagens até o início da próxima semana, planeja reunir sua equipe em Brasília para avaliar os caminhos a serem seguidos assim que retornar.
Lula Defende Taxação de Fintechs Após Rejeição de MP no Congresso
Em entrevista concedida à Rádio Piatã, da Bahia, onde cumpria agenda oficial, o chefe do executivo detalhou seus planos. “Eu volto na quarta-feira [15 de maio] para Brasília, aí sim, eu vou reunir o governo para discutir como é que a gente vai propor que o sistema financeiro, sobretudo as fintechs, que tem fintech hoje maior do que banco, que elas paguem o imposto devido a esse país”, afirmou Lula. A menção às fintechs reflete uma preocupação do governo com a capacidade tributária dessas empresas, que, apesar de seu crescimento e relevância no mercado, podem não estar contribuindo proporcionalmente ao seu porte e lucratividade.
As fintechs são empresas que inovam no setor financeiro por meio da tecnologia, oferecendo uma gama de serviços digitais que vão desde pagamentos e empréstimos até investimentos. O presidente destacou que muitas dessas companhias já superam em tamanho e volume de negócios instituições bancárias tradicionais, mas a estrutura tributária atual, em sua visão, não reflete essa nova realidade. A proposta inicial da MP visava justamente a inclusão de diversos setores na base de arrecadação para fortalecer as finanças públicas.
O Caminho da Medida Provisória e Suas Implicações Fiscais
A Medida Provisória em questão tinha um prazo-limite para aprovação até a quarta-feira, 8 de maio. A decisão de retirá-la da pauta partiu da oposição, resultando em sua caducidade e no fim das esperanças de arrecadação ligadas a ela. A versão original da MP propunha uma série de taxações que incluíam bilionários, bancos e empresas de apostas eletrônicas (bets), com o intuito de impulsionar a receita federal. Entre as medidas previstas, estava a taxação da receita bruta das bets com alíquotas que variavam entre 12% e 18%. Adicionalmente, previa-se a taxação de aplicações financeiras como Letras de Crédito Agrário (LCA), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Desenvolvimento (LCD), além de juros sobre capital próprio, instrumentos que, em muitos casos, gozam de isenções ou regimes tributários mais brandos.
As projeções iniciais para a arrecadação com a aprovação da MP eram ambiciosas: cerca de R$ 10,5 bilhões em 2025 e impressionantes R$ 21 bilhões em 2026. Contudo, após intensas negociações e pressões políticas, essa estimativa foi revisada para baixo, chegando a R$ 17 bilhões. Além das receitas, o texto também contemplava um corte de R$ 4,28 bilhões em gastos obrigatórios, demonstrando uma abordagem dual para o equilíbrio das contas públicas.
O Contraste na Carga Tributária e a Defesa Governamental
O presidente Lula expressou sua insatisfação com a resistência em aprovar a taxação, destacando o contraste entre a carga tributária enfrentada pelo trabalhador e a relutância de setores mais abastados em contribuir. “Nós estávamos propondo uma [taxação] de 18%, foi negociado para as [bets] pagar apenas 12%, ainda assim eles não quiseram e se recusaram pagar. É engraçado que o povo trabalhador paga 27,5% de imposto renda do seu salário e os ricos não querem pagar 12%, não querem pagar 18%”, criticou Lula. Essa fala reforça o discurso governamental de buscar uma maior progressividade no sistema tributário, onde aqueles com maior capacidade econômica contribuam mais.

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Ao se referir ao revés na Câmara, o presidente categorizou o episódio não como uma derrota do governo, mas sim como uma “derrota imposta ao povo brasileiro”. Para Lula, a recusa em aprovar a medida representou a perda de uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida da população. “Derrotaram a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro, tirando mais dinheiro dos ricos e distribuindo para os pobres. Foi isso que aconteceu ontem no Congresso Nacional”, pontuou, indicando que a arrecadação adicional poderia ser revertida em benefícios sociais ou investimentos públicos.
Negociações e o Papel do Congresso Nacional
Antes da votação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia feito um apelo público para que o Congresso Nacional honrasse o acordo previamente firmado com o governo federal para a aprovação da Medida Provisória. Haddad enfatizou que o executivo havia mantido um diálogo constante com os parlamentares e feito concessões significativas na redação da MP, buscando um consenso. No entanto, a resistência de partidos do centrão, que já vinham se manifestando contrários à medida, prevaleceu e culminou na sua retirada de pauta e subsequente caducidade. A complexidade das relações entre os poderes e a diversidade de interesses dentro do Congresso Nacional são fatores que frequentemente moldam o destino de propostas legislativas de grande impacto fiscal.
A discussão sobre a taxação de setores de alta lucratividade e o reequilíbrio da carga tributária no Brasil é um tema recorrente e de grande relevância para a saúde fiscal do país. A busca por alternativas para aumentar a arrecadação, sem sobrecarregar a população de baixa renda, permanece como um dos principais desafios da equipe econômica, que agora terá a tarefa de elaborar novas propostas para garantir o cumprimento das metas fiscais e o financiamento das políticas públicas essenciais. A postura de Lula reflete a intenção de não recuar na busca por um sistema tributário considerado mais justo e eficaz. Para entender mais sobre as bases do sistema tributário nacional e suas reformas, você pode consultar informações no portal da Receita Federal do Brasil.
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O cenário político-econômico brasileiro continua a ser marcado por debates intensos sobre a responsabilidade fiscal e a distribuição da riqueza. A defesa de Lula pela taxação do setor financeiro e das fintechs evidencia a prioridade do governo em buscar fontes de receita que contribuam para a estabilidade econômica e o desenvolvimento social. Acompanhe nossa editoria de Política para se manter atualizado sobre as próximas discussões e decisões que impactarão o futuro fiscal do Brasil.
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