A recente atribuição do Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado, proeminente líder da extrema direita venezuelana, tem provocado uma onda de controvérsia global. Líderes políticos, especialistas, governos e movimentos sociais manifestaram veementes críticas à decisão do Comitê Norueguês, questionando a adequação da escolha de uma figura conhecida por seu apoio a ações militares e posturas que, segundo os críticos, se opõem diretamente aos princípios basilares da paz. A notícia gerou imediato repúdio, com diversas vozes argumentando que o histórico da laureada de 2025 contradiz fundamentalmente os valores esperados de um recipiente do prestigiado prêmio.
A polêmica se acentuou devido ao posicionamento de Machado em relação a conflitos internacionais e sua retórica política interna. Relatos indicam que a líder venezuelana tem expressado apoio explícito ao governo de Benjamin Netanyahu em meio a situações de genocídio em Gaza e, no cenário doméstico, feito repetidas convocações para agressões armadas contra a própria Venezuela. Esses elementos são os pilares das objeções levantadas por uma ampla gama de observadores internacionais, que veem a condecoração como um paradoxo e uma potencial desvalorização do significado intrínseco do Nobel da Paz.
María Corina Machado Nobel da Paz: Especialistas Questionam Escolha
Entre as vozes mais contundentes, o jornalista espanhol Ignacio Ramonet classificou a situação como “a necrose de um Prêmio Nobel”. Ele argumentou que conceder o Prêmio Nobel da Paz a alguém que consistentemente defende intervenções militares, golpes de Estado, revoltas e guerras constitui uma “aberração na atual desordem internacional”. Ramonet enfatizou a inversão de valores, comparando a situação à distopia de Orwell em “1984”, onde “a verdade é mentira e a paz é guerra”, e descreveu o prêmio como “triste e podre”. A visão de Ramonet reflete um sentimento de profunda desilusão sobre a integridade e os propósitos originais do comitê de seleção.
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, também se manifestou sobre o ocorrido, afirmando que a “politização, o preconceito e o descrédito do Comitê Norueguês do Nobel da Paz atingiram limites inimagináveis”. Díaz-Canel considerou “vergonhosa” a concessão do prêmio em 2025 a uma figura que “instiga a intervenção militar em sua pátria”, descrevendo a ação como uma “manobra política” claramente destinada a enfraquecer a liderança bolivariana. A perspectiva cubana aponta para uma preocupação com a utilização do prêmio como ferramenta política, em detrimento de um reconhecimento genuíno de esforços pela paz global.
De Honduras, o ex-presidente Manuel Zelaya Rosales expressou um forte descontentamento, declarando que o “Prêmio Nobel da Paz concedido a María Corina Machado é uma afronta à história e aos povos que lutam por sua soberania”. Zelaya criticou a premiação de uma “golpista, aliada das elites financeiras e de interesses estrangeiros”, vendo-a como uma perversão do “símbolo da paz em um instrumento do colonialismo moderno”. Ele reforçou categoricamente que “nunca há paz quando aqueles que promovem sanções, bloqueios e guerras econômicas contra seu próprio povo são recompensados”, reiterando o coro de indignação que se propaga internacionalmente.
Adolfo Pérez Esquivel, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1980, também se juntou ao coro de questionamentos. Esquivel pontuou de forma clara que “Corina Machado faz parte da política dos EUA contra o governo venezuelano”. Ele expressou sua grande preocupação com a decisão do Comitê Nobel, afirmando que Machado recebeu o prêmio “não por ter trabalhado pela paz e pelo povo venezuelano”, mas sim por seu alinhamento com interesses geopolíticos específicos e estratégias de intervenção. Essa crítica, vinda de um ex-ganhador do próprio Nobel, confere peso e autoridade adicionais ao debate sobre a legitimidade da escolha.
Michelle Ellner, coordenadora da campanha latino-americana da plataforma americana Codepink, também se manifestou com profundo ceticismo. Ela declarou enfaticamente que María Corina Machado “não é um símbolo de paz ou progresso”. Ellner relatou que, ao ver a manchete sobre o prêmio, quase “riu do absurdo”, mas logo percebeu a gravidade e seriedade da situação. Em sua análise, não há “nada de engraçado em conceder o prêmio a alguém cujas políticas causaram tanto sofrimento”, e que “qualquer pessoa que conheça suas ideias sabe que não há nada remotamente pacífico em suas políticas ou propostas para a sociedade”.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
A ativista do Codepink aprofundou sua crítica, argumentando que a adesão da oposição extremista de direita venezuelana à agenda dos Estados Unidos resultou em sanções econômicas, ataques terroristas e privatizações para o povo venezuelano. Ellner traçou um paralelo preocupante entre essa realidade e a situação dramática em Gaza. Para ela, “na Venezuela, essa aliança significou golpes, sanções e privatizações. Em Gaza, significa genocídio e a eliminação de um povo”. A ideologia subjacente, conforme Ellner, é a “crença de que algumas vidas são descartáveis, que a soberania é negociável e que a violência pode ser vendida como ordem”. Mais informações sobre a história e os critérios do Prêmio Nobel da Paz, um dos mais importantes reconhecimentos mundiais, podem ser encontradas na página oficial da Fundação Nobel.
A Justificativa do Comitê Norueguês
Em notório contraste com as críticas generalizadas e o repúdio internacional, o Comitê Norueguês do Nobel da Paz defendeu sua escolha ao anunciar María Corina Machado como laureada. Em uma nota oficial, o comitê afirmou que ela foi reconhecida “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. Essa declaração visa enquadrar a premiação dentro dos critérios tradicionais do Nobel, que historicamente valorizam esforços pela democracia, pelos direitos humanos e pela liberdade dos povos.
Jørgen Watne Frydnes, presidente do Comitê, reforçou a justificativa em Oslo, declarando publicamente que, como “líder do movimento pela democracia na Venezuela, Maria Corina Machado é um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”. A posição do Comitê enfatiza a perspectiva de Machado como uma figura de resistência em um contexto político desafiador, alinhando sua atuação a um ideal de luta pela liberdade e pela justiça social em seu país, apesar das fortes vozes contrárias.
A divergência acentuada entre a percepção pública global e a justificativa oficial do Comitê do Nobel sublinha a natureza complexa e, frequentemente, politizada do prêmio mais importante do mundo. Enquanto muitos veem a escolha de María Corina Machado como uma deturpação ou até mesmo uma subversão dos ideais de paz, o comitê a posiciona como uma heroína da democracia, destacando os desafios inerentes em definir e reconhecer a paz em um cenário global multifacetado. Esta controvérsia certamente continuará a ser debatida nos próximos anos, gerando reflexões profundas sobre o verdadeiro significado e o impacto duradouro do Prêmio Nobel da Paz.
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