A nova minissérie Martin Scorsese em série exclusiva da Apple TV+, intitulada “O Lendário Martin Scorsese”, oferece um olhar aprofundado e inédito sobre a vida e a carreira de um dos cineastas mais influentes do mundo. Com estreia marcada para esta sexta-feira, 17 de outubro, e também exibição na 49ª Mostra de Cinema de São Paulo, a produção dirigida por Rebecca Miller mergulha nas memórias do próprio Scorsese, hoje aos 82 anos, revelando as conexões íntimas entre sua infância no subúrbio italiano de Nova York e as complexidades de sua obra cinematográfica.
Desde os primeiros sucessos, como “Taxi Driver”, até épicos contemporâneos, a minissérie explora como a solidão experimentada por Scorsese em Hollywood e as vivências de sua juventude moldaram sua visão artística. O cineasta compartilha reflexões pessoais que, até então, nunca haviam sido registradas com tamanha profundidade para as câmeras, oferecendo uma nova perspectiva sobre a origem de temas recorrentes em seus filmes, como a maldade humana, a violência e a espiritualidade.
Martin Scorsese: Série revela infância e solidão em Hollywood
A série “O Lendário Martin Scorsese” convida o público a compreender as motivações por trás de obras icônicas de Hollywood. Rebecca Miller, a diretora, que já explorou a vida de seu próprio pai, o dramaturgo Arthur Miller, teve como objetivo capturar o lado mais íntimo do diretor. Ela observa que “todos os seus trabalhos voltam para aquela vizinhança, aquela família”, destacando a persistência das raízes de Scorsese em sua narrativa visual. Essa abordagem se distingue de outros documentários sobre sua paixão pelo cinema ou mesmo de sua estreia como ator na série “O Estúdio”, este ano.
Um dos relatos mais marcantes na minissérie aborda o isolamento que Martin Scorsese sentiu nos primeiros anos de sua ascensão, especificamente durante as filmagens de “Taxi Driver”. Este foi seu primeiro longa-metragem autoral a receber apoio de um grande estúdio de Hollywood. Apesar de ser um indivíduo sociável e cercado por amigos na indústria, como Brian De Palma e Steven Spielberg, com quem conviveu em Los Angeles no início dos anos 1970, ele confessa a dificuldade em forjar conexões verdadeiras, o que o deixava frequentemente deslocado.
A ambição inabalável de Scorsese em fazer cinema teve um custo pessoal significativo. Seu primeiro casamento, com Laraine Marie Brennan, chegou ao fim, e ele reconhece não ter sido um marido exemplar nem um pai presente para suas duas primeiras filhas. Este traço biográfico, comum entre homens de sua geração, é visto como uma provável herança da Elizabeth Street, em Nova York, onde cresceu. Naqueles prédios habitados por imigrantes italianos e seus descendentes, não havia espaço para a manifestação de sentimentos. Os jovens eram rapidamente introduzidos às regras da masculinidade, e a vulnerabilidade era considerada perigosa em meio às brigas de rua e aos gritos das mulheres.
Scorsese relembra o “drama extraordinário daquele mundo”, onde a ausência de instituições era preenchida pela influência de famílias mafiosas. Até mesmo aqueles que não eram diretamente envolvidos com o crime precisavam se alinhar a uma delas. Ele conta ter testemunhado seu próprio pai ser agredido por um capanga, ambos respondendo a famílias rivais. A asma, que o atingiu ainda menino, levava-o a buscar refúgio em salas de cinema, os únicos lugares com ar-condicionado no verão, onde conseguia respirar melhor. Foi através do cinema que ele encontrou uma forma de expurgar as complexidades de seu mundo, desafiando a máxima de sua mãe na Elizabeth Street: “se você vir algo, não diga nada”.
Os Pilares da Filmografia de Martin Scorsese
A jornada cinematográfica de Scorsese começou com curtas-metragens universitários, como “What a Nice Girl Like You Doing in a Place Like This?” (1963) e “It’s Not Just You, Murray!”, este último com claras influências da Nouvelle Vague e dos beatniks. No entanto, foi com “Caminhos Perigosos”, de 1974, que ele começou a ganhar notoriedade. O filme, que narra a história de um jovem rebelde e católico no subúrbio italiano de Nova York, marcou a primeira colaboração de Robert De Niro sob a direção de Scorsese. A crítica o aclamou como um prodígio do cinema independente, elogiando sua maestria em retratar a realidade da Little Italy.
Posteriormente, o cineasta aprofundaria essa temática com nuances distintas em filmes épicos como “Os Bons Companheiros” e “Casino”, explorando o universo da máfia e a complexidade de seus personagens. Contudo, Rebecca Miller ressalta que não se pode limitar Martin Scorsese apenas a um autor de filmes de gângsteres. Segundo ela, “Ele começou contando histórias sobre onde veio para mostrar a verdade [do lugar]. Mas, depois, seu interesse foi penetrar mundos”, indicando uma expansão temática em sua obra.
Pouco depois de “Caminhos Perigosos”, Scorsese realizou “Alice Não Mora Mais Aqui”, um projeto instigado por Ellen Burstyn, que viria a ganhar o Oscar por sua atuação no filme. A trama acompanha uma mãe solteira que viaja pelos Estados Unidos com o filho em busca de seus sonhos. A obra foi elogiada até mesmo por Jean-Luc Godard, diretor francês conhecido por sua severidade em relação a filmes de Hollywood.

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Sua produção mais recente, “Assassinos da Lua das Flores”, de 2023, representa uma nova fase iniciada na virada do milênio com “Gangues de Nova York” (2002). Neste épico faroeste, estrelado por De Niro, Lily Gladstone e Leonardo DiCaprio, Scorsese aborda a culpa americana pelo massacre dos indígenas osage. DiCaprio, um dos entrevistados na série, afirma que “Marty é um mestre em explorar o lado obscuro da condição humana”. Além dele, Jodie Foster, Spike Lee, Robert De Niro e Brian De Palma também compartilham suas perspectivas sobre o diretor e sua obra.
Ao analisar a intimidade de Martin Scorsese, a diretora Rebecca Miller também traça um retrato abrangente da Nova Hollywood, período de ouro para o cinema americano. Naquela época, os grandes estúdios, enfrentando uma crise de bilheterias, decidiram apostar em uma nova geração de cineastas abertos à experimentação. “Fazer cinema independente é difícil. Aquele foi definitivamente um momento único, porque Hollywood tinha perdido a confiança na sua capacidade de tocar a cultura da juventude. E começaram a olhar para esses jovens cineastas, a ensiná-los como alcançar o público. E, por um minuto, eles tinham um poder imenso”, explica Miller. Ao lado de Scorsese, nomes como Woody Allen, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg emergiram e consolidaram suas carreiras. Para saber mais sobre a influência e legado de Scorsese, leia sua biografia completa na Britannica.
Contudo, a década de 1980 trouxe mudanças significativas, e, como Miller observa, “os estúdios se tornaram um aparato de bancos”. Essa transformação coincidiu com anos de baixa criativa e fracassos de bilheteria para Scorsese, que recuperaria seu prestígio no final da década com “A Cor do Dinheiro” e, posteriormente, com “Os Bons Companheiros”. Após a imersão na vida do cineasta ao longo dos cinco episódios, Miller expressa otimismo quanto ao futuro do cinema independente. “Sabemos fazer filmes muito bem, e há estúdios que ainda tomam riscos”, conclui ela, um presságio positivo do qual Martin Scorsese se tornou porta-voz, defendendo a arte cinematográfica em tempos de crise das salas de cinema frente ao streaming, seja em entrevistas, aparições públicas ou até mesmo em vídeos com sua neta no TikTok.
A série “O Lendário Martin Scorsese” será disponibilizada na Apple TV+ a partir de 17 de outubro de 2025. Com classificação etária de 18 anos, a produção dos Estados Unidos, dirigida por Rebecca Miller, oferece uma oportunidade única para mergulhar no universo de um dos maiores nomes do cinema mundial.
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Em suma, “O Lendário Martin Scorsese” é mais do que um documentário; é uma jornada reveladora sobre como as experiências pessoais de um artista podem se traduzir em obras-primas atemporais. Não perca a chance de aprofundar seu conhecimento sobre este ícone do cinema e continue explorando nossa editoria de Celebridade para mais notícias e análises sobre o universo do entretenimento.
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