O Ministério da Saúde alerta sobre 34 casos de sarampo no Brasil, emitindo uma recomendação urgente para que estados e municípios intensifiquem a vigilância e as ações preventivas contra a doença. Conforme dados divulgados pela pasta, foram confirmados 34 registros da infecção no país até a Semana Epidemiológica 38, período que compreendeu de 29 de setembro a 5 de outubro deste ano. O principal objetivo do órgão é impedir a reintrodução do vírus em território nacional, mantendo o controle da situação epidemiológica.
A preocupação se acentua com a análise da origem desses casos. Nove das ocorrências confirmadas foram identificadas em indivíduos que retornaram de viagens ao exterior, evidenciando a entrada do vírus por meio de fontes externas. Adicionalmente, 22 pessoas contraíram a doença após contato direto com viajantes infectados que vieram de fora do país. Outros três casos foram geneticamente associados a linhagens do vírus que estão em circulação em diversas nações, indicando uma conexão internacional.
Atualmente, a situação é mais crítica em três estados brasileiros. Tocantins, Maranhão e Mato Grosso foram qualificados como áreas em surto da doença, exigindo atenção redobrada das autoridades de saúde. A mobilização para conter a propagação do
Ministério da Saúde alerta sobre 34 casos de sarampo no Brasil
é vista como essencial para proteger a população e evitar um cenário de maior gravidade. Estes estados estão sob vigilância contínua para monitorar a evolução dos focos de contaminação.
Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destacou que a redução da cobertura vacinal da população brasileira tem sido um fator determinante para o ressurgimento e a circulação do sarampo no país. A especialista explicou que, no passado, mesmo com a chegada de casos importados – seja por estrangeiros infectados ou por brasileiros retornando do exterior com a doença –, a robustez da vigilância sanitária e a alta adesão à vacinação eram suficientes para conter a propagação. “O sarampo antes entrava e encontrava todo mundo vacinado e não causava surto. Agora ele chega e encontra várias pessoas suscetíveis”, alertou Ballalai, sublinhando a vulnerabilidade atual.
Focos de Surto e Cadeia de Transmissão
No Tocantins, o surto de sarampo teve seu início no município de Campos Lindos, localizado na região nordeste do estado, no mês de julho. Este foco foi diretamente ligado ao retorno de quatro cidadãos brasileiros que haviam passado um mês na Bolívia. A comunidade de Campos Lindos, notavelmente, apresentava um baixo índice de adesão à vacinação contra o sarampo, um fator que facilitou a rápida transmissão do vírus entre os moradores após a chegada dos indivíduos infectados.
O Maranhão registrou um único caso confirmado, envolvendo uma mulher de 46 anos, que não havia sido vacinada e residia no município de Carolina. Esta paciente teve contato com membros da comunidade de Campos Lindos, no Tocantins, o que estabeleceu a ligação entre os surtos. É importante notar que os municípios de Carolina (MA) e Campos Lindos (TO) estão situados na divisa entre os dois estados, o que pode ter contribuído para a interligação das cadeias de transmissão.
Em Mato Grosso, os casos de sarampo emergiram de forma independente dos focos no Tocantins, mas também foram originados por brasileiros que estiveram na Bolívia. O surto no estado começou em Primavera do Leste, afetando três membros da mesma família. Similarmente aos outros casos, todos os indivíduos infectados em Primavera do Leste não possuíam o esquema vacinal completo contra a doença, reforçando a importância da imunização para a contenção do vírus.
Desafios na Cobertura Vacinal contra o Sarampo
Os dados da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) revelam a situação da cobertura vacinal no Brasil. Em 2024, a primeira dose da vacina tríplice viral – que protege contra sarampo, caxumba e rubéola – alcançou 95,7% da população. No entanto, a segunda dose registrou uma cobertura de apenas 74,6%, indicando uma lacuna na imunização completa.
O ano de 2025 apresentou uma queda preocupante nos índices. A cobertura da primeira dose caiu para 91,2%, e a da segunda dose permaneceu em 74,6%. Ambos os percentuais estão abaixo da meta estabelecida de 95% para o controle efetivo do sarampo, o que acende um sinal de alerta para as autoridades sanitárias.
O Ministério da Saúde reiterou que esses percentuais de cobertura abaixo do ideal evidenciam uma significativa vulnerabilidade da população à ocorrência do vírus do sarampo. Diante deste cenário, a intensificação das campanhas de vacinação é considerada crucial para reverter a tendência de queda e fortalecer a imunidade coletiva.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
Isabella Ballalai, da SBIm, apontou a complexidade da vacinação em um país de dimensões continentais como o Brasil. Ela explicou que, apesar de algumas coberturas estarem “no limite” da meta a nível nacional, a realidade municipal pode ser muito heterogênea. “Não há homogeneidade das coberturas vacinais nos municípios. Se você olha as coberturas vacinais dentro do estado, são realidades muito diferentes”, afirmou. Como exemplo, citou o Rio de Janeiro, onde a capital possui uma boa cobertura, mas o estado como um todo registra um dos menores índices do Brasil.
A diretora da SBIm também enfatizou um fator comportamental que dificulta a adesão à vacinação: a falta de percepção de risco por parte da população. “A ciência do comportamento mostra que, se você não vê risco, pode estar na primeira página do jornal que eu não ligo. Agora, se eu vejo o risco e estou vendo todo mundo correndo para o posto, eu vou também”, explicou. Ela citou o exemplo da febre amarela, cuja cobertura vacinal era de apenas 40% antes de um surto, quando a percepção de risco elevou drasticamente a busca pela vacina.
Cenário Global do Sarampo
O sarampo não é uma preocupação isolada do Brasil. Dados globais da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualizados até 9 de setembro do ano corrente, indicam que foram notificados 360.321 casos suspeitos da doença em 173 países. Desses, 164.582 foram laboratorialmente confirmados, sublinhando a abrangência da ameaça em escala mundial.
As regiões mais afetadas globalmente incluem o Mediterrâneo Oriental, responsável por 34% das ocorrências confirmadas, seguido pela África, com 23%, e pela Europa, que concentrou 18% dos casos. Estes números demonstram a persistência do vírus em diversas partes do globo, exigindo ações coordenadas de saúde pública.
Nas Américas, a situação também demanda atenção. Foram confirmados 11.691 casos de sarampo, resultando em 25 óbitos em dez países da região. Os maiores volumes de casos ocorreram no Canadá (5.006), México (4.703) e Estados Unidos (1.514), mostrando que a doença afeta tanto países em desenvolvimento quanto nações com sistemas de saúde robustos. Na América do Sul, há surtos ativos registrados na Bolívia, com 320 casos; no Paraguai, com 50 casos; e no Peru, com quatro casos. A Argentina também enfrentou um surto, contabilizando 35 casos confirmados.
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A situação dos casos de sarampo no Brasil e no mundo reforça a urgência da vacinação como principal ferramenta de prevenção e controle. O Ministério da Saúde, em conjunto com as autoridades estaduais e municipais, continua a monitorar a evolução do cenário epidemiológico, com foco na intensificação das campanhas de imunização. Manter a população informada e engajada é fundamental para superar os desafios impostos pela doença. Para mais notícias e análises sobre saúde pública e outros temas relevantes, continue acompanhando a editoria de Saúde em nosso portal: https://horadecomecar.com.br/saude.
Crédito da imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo