A Faixa de Gaza presenciou, neste sábado, o retorno massivo de milhares de palestinos às suas residências, um movimento desencadeado pela aparente sustentação do cessar-fogo em Gaza, acordado entre Israel e o grupo militante Hamas. Longas colunas de pessoas, algumas a pé, outras em veículos e até mesmo em carroças, seguiam em direção ao norte da costa de Gaza, aliviadas pela pausa nos confrontos que devastaram a região.
Este fluxo de retorno acontece em um cenário de esperança cautelosa, após as tropas israelenses terem concluído a primeira fase de sua retirada, conforme estipulado por um acordo mediado pelos Estados Unidos. A guerra, que durou intensos períodos e ceifou dezenas de milhares de vidas, deixou grande parte do enclave palestino em escombros, transformando paisagens urbanas em ruínas e deslocando uma parcela significativa da população.
Moradores de Gaza Retornam com Manutenção do Cessar-Fogo
A emoção era palpável entre os que arriscavam voltar para seus lares abandonados. Nabila Basal, uma das milhares de palestinas em êxodo, descreveu o momento como “um sentimento indescritível”. Caminhando com sua filha, que havia sofrido um ferimento na cabeça durante os conflitos, ela expressou a alegria generalizada: “Louvado seja Deus. Estamos muito, muito felizes pelo fato de a guerra ter parado e o sofrimento ter acabado.” O relato de Basal ecoa o sentimento de milhares de famílias que buscam retomar suas vidas em meio à destruição e à incerteza.
A mediação internacional foi crucial para o estabelecimento deste período de trégua. O enviado do presidente dos EUA, Donald Trump, para o Oriente Médio, Steve Witkoff, esteve em Gaza no início do sábado para monitorar de perto a redistribuição militar israelense. A informação foi divulgada pela Rádio do Exército de Israel, citando fontes de segurança. A presença de Witkoff sublinhou a importância do engajamento americano na manutenção do acordo e na busca por estabilidade na região.
Acompanhando Witkoff, esteve também o chefe do Comando Central das Forças Armadas dos EUA (Centcom), almirante Brad Cooper. Em um comunicado oficial, Cooper esclareceu que sua visita tinha como objetivo primordial auxiliar na formação de uma força-tarefa dedicada a apoiar os esforços de estabilização em Gaza. Contudo, o almirante reiterou que, apesar do suporte, não há planos para que tropas dos Estados Unidos sejam posicionadas dentro do enclave, mantendo a distância estratégica e o papel de facilitador da paz.
O acordo de cessar-fogo, mediado pelos EUA e que permitiu o retorno de palestinos, também estabeleceu um complexo processo de troca de reféns e prisioneiros. Assim que as forças israelenses finalizaram sua redistribuição na sexta-feira, movendo-se para fora das principais áreas urbanas, mas mantendo o controle de aproximadamente metade do território de Gaza, um cronômetro de 72 horas foi acionado para que o Hamas libertasse seus reféns.
A expectativa pela libertação dos reféns é imensa, especialmente entre as famílias que aguardam ansiosamente por notícias de seus entes queridos. Hagai Angrest, pai de Matan, um dos 20 reféns israelenses que se acredita ainda estarem vivos, compartilhou sua angústia e esperança: “Estamos muito animados, esperando por nosso filho e por todos os 48 reféns. Estamos aguardando a ligação telefônica.” Este testemunho ilustra o peso emocional do acordo para as comunidades diretamente afetadas.
A situação dos reféns é delicada e incerta. Enquanto 20 ainda estariam vivos, 26 já foram declarados mortos à revelia, e o destino de outros dois permanece desconhecido, gerando profunda aflição entre as famílias e a sociedade israelense. A libertação dos reféns, conforme previsto no acordo de cessar-fogo em Gaza, é o primeiro passo para uma troca maior.

Imagem: infomoney.com.br
Em contrapartida à entrega dos reféns pelo Hamas, o acordo prevê que Israel liberte um número significativo de palestinos detidos. Serão libertados 250 palestinos que cumprem longas penas em prisões israelenses, além de 1.700 detentos que foram capturados durante o período da guerra. Esta troca de prisioneiros e reféns é um dos pilares mais sensíveis e complexos do plano de paz, visando aliviar tensões e fomentar um ambiente de confiança, ainda que frágil.
Para mitigar a severa crise humanitária em Gaza, o acordo de cessar-fogo também contempla a entrada de centenas de caminhões por dia na Faixa. Estes veículos transportarão alimentos essenciais e suprimentos médicos vitais para a população, que sofre com a escassez prolongada de recursos básicos. A ajuda humanitária é um componente crítico para a estabilização da região e para garantir a sobrevivência e o bem-estar dos moradores locais.
No entanto, apesar dos avanços e do otimismo gerado pelo cessar-fogo, persistem dúvidas consideráveis sobre a capacidade deste acordo de levar a uma paz duradoura. Considerado o maior passo até o momento para encerrar dois anos de conflito intenso, o plano de 20 pontos de Trump ainda enfrenta inúmeros obstáculos. A complexidade histórica do conflito Israel-Palestina é um fator que sempre impõe desafios significativos a qualquer iniciativa de paz.
Ainda há uma margem considerável para que as coisas deem errado. Diversas etapas adicionais do plano de Trump precisam ser acordadas, incluindo questões cruciais como a futura governança da devastada Faixa de Gaza após o fim dos combates. O destino final do Hamas, que consistentemente rejeita as exigências de Israel para se desarmar, também permanece como um ponto de discórdia fundamental, com implicações profundas para a segurança e a estabilidade regional.
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Este cessar-fogo em Gaza, embora traga alívio imediato e permita o retorno de milhares de palestinos, é apenas um capítulo em uma saga complexa e carregada de desafios. A comunidade internacional e as partes envolvidas continuam a monitorar a situação, na esperança de que os passos iniciais possam pavimentar o caminho para uma resolução mais ampla e duradoura. Para mais análises e notícias sobre a política no Oriente Médio e outros temas relevantes, continue acompanhando a editoria de Política de nosso portal.
Crédito: Reuters