A morte de Odete Roitman no remake de Vale Tudo, exibida na noite de segunda-feira (6), confirmou o desfecho aguardado por muitos espectadores e respeitou a intenção dos autores originais Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Apesar do receio inicial de que a nova versão pudesse alterar radicalmente o destino da icônica vilã, a sequência final da personagem encerrou um ciclo de especulações que perdurou por mais de seis meses de exibição. A decisão, no entanto, não isentou a trama de discussões e críticas quanto às adaptações promovidas pela autora Manuela Dias.
O temor sobre uma possível reviravolta no destino de Odete era justificado pelo histórico de mudanças implementadas no enredo. Havia a expectativa, para alguns, de que a vilã pudesse reaparecer viva, desfrutando de luxos em um paraíso distante, um cenário que contrastaria fortemente com o desfecho clássico. Essa preocupação sublinha a importância da personagem no imaginário popular e o impacto de qualquer alteração em seu percurso narrativo, especialmente em uma obra tão icônica quanto “Vale Tudo”.
A versão original de “Vale Tudo”, de 1988, refletia um Brasil imerso em profundas crises socioeconômicas e morais. A trama contrapunha a busca por honestidade de Raquel à ambição desmedida de Odete, que frequentemente desqualificava a moralidade da heroína. Com sua postura preconceituosa, ofensiva e cheia de vilanias, a Odete de 1988, interpretada por Beatriz Segall, provocou um desconforto inédito e se eternizou na história da teledramaturgia brasileira. Em contraste, a análise sobre a
Morte de Odete Roitman no Remake de Vale Tudo Surpreende
não pode ser dissociada da forma como a personagem foi reimaginada para a atualidade.
A nova versão, por sua vez, distanciou-se em grande parte dessa tensão entre a integridade moral e a busca por ascensão a qualquer custo. O remake optou por retratar um Brasil idealizado, com pouca ou nenhuma representação de conflitos de classe ou dificuldades financeiras. A personagem de Odete, embora mantendo algumas falas chocantes, sofreu uma transformação radical em sua essência. Os poucos elementos de cunho político na “Vale Tudo” atual ficaram restritos à sua abertura, resultando em uma novela majoritariamente despolitizada em seu conteúdo.
A interpretação de Debora Bloch para a nova Odete abandonou o tom rascante e intimidante que marcou a performance memorável de Beatriz Segall. Metaforicamente, a vilã da nova trama despojou-se de sua “capa chique” para abraçar uma persona mais hedonista, sendo descrita como alguém que “bebeu caipirinha e caiu no samba”. Essa Odete repaginada foi, possivelmente, a figura mais contente da novela, engajando-se em múltiplos romances e vivendo intensamente cada momento.
A versão de Debora Bloch da vilã era empoderada, sensual e cheia de malícia, desfrutando da trama do início ao fim. Sua predileção por prazeres e romances reduziu o tempo dedicado a planejamentos complexos, o que pode explicar a percepção de que suas vilanias eram, por vezes, mal executadas ou improvisadas. Essa característica a tornou uma figura paradoxalmente mais leve e menos aterrorizante que sua antecessora, a despeito de suas ações questionáveis.
Apesar do divertimento proporcionado pela personagem, a pesquisa Datafolha revelou que 86% dos telespectadores desejavam ver a Odete punida de alguma forma. No entanto, apenas 4% ansiavam por sua morte, enquanto 47% preferiam que ela perdesse sua fortuna e 35% gostariam que fosse presa. Esses dados contrastam significativamente com a pesquisa realizada em 1988 com paulistanos, quando 38% desejavam a morte da personagem, 20% a prisão e 14% que ela ficasse na miséria. A diferença demonstra uma mudança notável na percepção do público sobre a punição de vilões ao longo das décadas.
Em declaração ao “Fantástico”, a autora Manuela Dias expressou sua afeição pela personagem: “Eu também fiquei apaixonada pela Odete. Então, realmente, deu dó [matar a personagem]”. A própria Odete, com sua característica falta de modéstia, descreveu-se como “altamente viciante” no bloco que antecedeu seu assassinato, evidenciando o carisma construído mesmo em sua nova roupagem.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O capítulo que culminou na morte da personagem, exibido na segunda-feira, evitou o excesso de inserções comerciais que vinha sendo uma crítica recorrente. A falta de talento e cuidado na disposição de publicidades havia gerado descontentamento entre os espectadores. No entanto, o artigo aponta que ainda não surgiu um autor com autonomia suficiente para vetar a inclusão de anúncios em cenas de grande dramaticidade, como um momento de doença, por exemplo, o que indica uma limitação criativa imposta pelo contexto comercial da produção.
Diversos personagens demonstraram o desejo de eliminar Odete no episódio crucial. Maria de Fátima, por exemplo, adquiriu uma arma e aprendeu a usá-la em poucos minutos. Marco Aurélio se instalou no Copacabana Palace, enquanto Olavo se revelou um “fuzileiro sniper”. Celina inventou um pretexto para visitar sua irmã. César, de maneira inexplicável, também conseguiu um revólver, e Heleninha apareceu no hotel. Diante de tantos suspeitos e motivações, a identidade do assassino de Odete Roitman, conforme o artigo original, perde um pouco de sua relevância primária frente ao impacto da própria morte e do mistério que a cerca.
A nova versão não é vista como uma traição aos autores originais, mas sim como uma adaptação aos tempos atuais. No contexto do aniversário de 60 anos da Globo, que investe em diversas frentes, incluindo novelas de curta duração para redes sociais, o remake de “Vale Tudo” reflete uma tendência. Apresenta cenas mais curtas, diálogos simplificados, enredos mais superficiais e menor foco no acabamento detalhista. Para entender a evolução das produções televisivas no Brasil, é válido observar como os remakes de novelas brasileiras têm se adaptado ao longo das décadas, buscando cativar novas audiências e se alinhar às modernas formas de consumo de conteúdo.
Embora os dados de audiência do Ibope não tenham sido excepcionalmente robustos para a emissora, eles foram considerados satisfatórios, evitando qualquer constrangimento. Contudo, o sucesso comercial da nova produção é inegável, cumprindo as expectativas da Globo neste quesito. A realidade é que o formato das novelas no século 21 difere substancialmente daquele dos anos 1980 e 1990. Sugere-se que qualquer insatisfação com as adaptações deva ser direcionada à direção da emissora, e não à autora Manuela Dias, que opera dentro de um novo paradigma de produção e consumo de conteúdo.
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A saga da Odete Roitman no remake de Vale Tudo, com sua reinvenção e desfecho impactante, serve como um espelho das mudanças na teledramaturgia e na recepção do público. A personagem, que transitou entre o terror e o divertimento, permanece um marco cultural, mesmo em sua nova roupagem. Para mais análises sobre o universo das celebridades e as tendências do entretenimento brasileiro, continue acompanhando nossa editoria Celebridade.
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