O debate sobre o ambiente de negócios no Brasil foi enriquecido pela participação de James Robinson, laureado com o Prêmio Nobel de Economia de 2024, em um ciclo de discussões promovido pela Fin. O notável professor da Universidade de Chicago, reconhecido coautor do seminal “Por que as Nações Fracassam”, compartilhou suas análises sobre os intrincados desafios e as oportunidades inerentes ao cenário econômico nacional durante o evento.
A série de debates “Instituições, Políticas e Crescimento Econômico”, organizada pela Fin, tem sido uma plataforma crucial para abordar como um ambiente de incertezas, fragilidades jurídicas e instabilidade global afeta o progresso econômico. A iniciativa reúne autoridades, especialistas e líderes do setor privado para buscar soluções e aprofundar o entendimento sobre a dinâmica que impulsiona ou retém o desenvolvimento.
Nobel de Economia debate ambiente de negócios no Brasil
Na mais recente edição, que aconteceu em setembro, o destaque foi a palestra de abertura de Robinson, sediada na unidade paulistana do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Durante sua exposição, o economista ofereceu uma visão panorâmica do contexto atual e delineou a posição específica do Brasil nesse complexo tabuleiro global. Robinson descreveu sua experiência no país como favorável. “Já estive no Brasil muitas vezes e acompanhei a trajetória do país ao longo dos últimos 30 anos. Houve grandes triunfos e retrocessos, mas acredito que leva tempo para aprender lições e construir instituições. Gostei muito da discussão com formuladores de políticas, membros do setor privado, acadêmicos e estudantes. Eles dizem que o Brasil é o país do futuro, uma frase que pode se tornar realidade se os brasileiros fizerem isso acontecer”, resumiu o estudioso.
A Importância das Instituições para o Crescimento
Nascido no Reino Unido, com uma carreira acadêmica consolidada nos Estados Unidos e casado com a economista colombiana María Angélica Bautista, James Robinson tem uma vivência diária das tensões que permeiam as políticas de imigração e as relações comerciais internacionais. Em suas publicações, o professor enfatiza que a prosperidade de uma nação está intrinsecamente ligada à solidez de suas instituições, que devem salvaguardar os direitos de propriedade, assegurar o Estado de direito e permitir a ampla participação de todos os segmentos da sociedade. Em sua apresentação, ficou evidente a preocupação de Robinson com a erosão das instituições nos Estados Unidos e as implicações desse fenômeno para a capacidade produtiva do país.
A Fin, ao trazer a São Paulo um Prêmio Nobel cuja obra desvenda a conexão entre instituições fortes e economias prósperas, cumpre um papel fundamental na elevação do nível do debate, contextualizando a posição do Brasil no panorama global. Cristiane Coelho, diretora jurídica da Fin, sublinha a relevância desses conhecimentos: “São informações e insights relevantes para o setor financeiro, que precisa estar sempre atento a tendências locais e mundiais.”
Desafios e o Papel do Judiciário nos Gastos Públicos
Após a apresentação inaugural de James Robinson, a programação do evento prosseguiu com um painel dedicado ao tema “Gastos judiciais e desenho institucional: o Judiciário como vetor de pressão fiscal?”. Este debate reuniu Cristiane Coelho, a economista-chefe do banco BOCOM BBM, Cecília Machado, a procuradora da Fazenda Nacional, Rita Nolasco, e o procurador-geral adjunto, João Gronet. A mediação ficou a cargo do renomado economista Marcos Lisboa.
Marcos Lisboa salientou que as particularidades da regulamentação exercem uma influência de longo prazo no desempenho econômico das nações. “O que o Robinson nos demonstra, assim como outros pesquisadores de destaque internacional, é que os detalhes da regulamentação exercem um impacto de longo prazo sobre o crescimento econômico dos países. O cenário macro, as grandes teorias, não fazem tanta diferença. É no micro, na implementação, que se alcança o sucesso ou o fracasso”, explicou Lisboa, reforçando a ideia de que o diabo está nos detalhes.
Nesse panorama, o Brasil enfrenta obstáculos para consolidar um crescimento econômico sustentável. Cristiane Coelho, ecoando a fala de João Gronet, afirmou que a intensidade do debate sobre as regras para os precatórios é um reflexo direto das falhas nas políticas públicas do país. A diretora jurídica da Fin fez menção à emenda constitucional de setembro de 2025, que estabeleceu novos limites para os pagamentos de precatórios por estados, Distrito Federal e municípios, evidenciando uma questão estrutural profunda.

Imagem: ANA DVORANEN via valor.globo.com
Outro ponto crítico levantado foi a crescente ingerência do Poder Judiciário nos gastos públicos, um sintoma adicional de deficiências na concepção das políticas públicas, na avaliação de Cristiane. “Estamos falhando tanto que a instância judiciária tem sido intimada a assumir a dianteira na tomada de decisões”, complementou, ilustrando a sobrecarga e o desvio de função que o sistema judiciário tem assumido em face da ineficácia de outras esferas.
Diálogo e Soluções para um Ambiente de Negócios Sólido
O presidente da Fin, Rodrigo Maia, destacou o elevado volume de contencioso que caracteriza o Brasil, um fator que consome recursos e prejudica a edificação de um ambiente de negócios mais seguro e propício à produtividade. “O Brasil convive com um volume de contencioso altíssimo, que consome energia e dificulta a construção de um ambiente de negócios mais seguro e produtivo. Isso é responsabilidade tanto do Estado, com um sistema tributário complexo, quanto do setor privado, que muitas vezes se beneficia de incentivos sem impacto real para a sociedade”, avaliou Maia, apontando para a responsabilidade compartilhada.
Para Maia, a elaboração de soluções eficazes depende intrinsecamente de um diálogo construtivo entre os diversos atores sociais. “Acredito que o setor privado pode e deve contribuir, aprendendo com experiências internacionais e dialogando com o Parlamento e o governo. Acredito que esse tipo de evento é o caminho para construirmos soluções consistentes para os principais desafios do Brasil”, defendeu. A Fin, por meio de iniciativas como este seminário, busca posicionar o setor financeiro como um protagonista na reflexão e na formulação de respostas para os desafios econômicos e institucionais do país, fomentando o intercâmbio entre o setor privado, a academia e o poder público. A relevância de instituições robustas para a estabilidade econômica global é um tema frequentemente abordado por entidades internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, que destaca a importância da governança para o desenvolvimento sustentável de um país.
O seminário foi fruto de uma colaboração estratégica com as associadas Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), contando ainda com o apoio valioso da Rede DOr, da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) e do IDP.
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Em suma, a presença de James Robinson e os debates promovidos pela Fin ofereceram uma perspectiva aprofundada sobre as interconexões entre instituições sólidas, políticas públicas eficazes e o crescimento do ambiente de negócios no Brasil. Compreender essas dinâmicas é fundamental para traçar um caminho de desenvolvimento robusto e duradouro. Para aprofundar a compreensão sobre os temas que moldam o desenvolvimento do país, nossa seção de Economia oferece análises detalhadas e atualizadas. Continue acompanhando nossas publicações para mais insights sobre o cenário econômico nacional e global.
Crédito da imagem: ANA DVORANEN/DIVULGAÇÃO