Os povos da floresta estão na linha de frente dos impactos adversos das mudanças climáticas, uma realidade que exige centralidade no debate global sobre o meio ambiente. Essa foi a enfática declaração de Julio Barbosa de Aquino, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), na terça-feira, 14 de outubro de 2025. Segundo ele, a próxima Conferência do Clima, a COP30, agendada para novembro em Belém, no Pará, representa uma oportunidade crucial para integrar as vozes e as experiências dessas comunidades no cerne das discussões climáticas.
Aquino participou do encontro Pré-COP dos Povos e Comunidades Tradicionais, evento inaugural de uma série de quatro reuniões focadas em questões socioambientais pertinentes aos seis biomas brasileiros. As conclusões e propostas emergentes desses diálogos serão formalmente apresentadas e defendidas durante a COP30. A perspectiva do líder extrativista ressalta uma verdade inegável: “Ninguém sofre mais com a questão climática do que as pessoas que moram na floresta e que vivem da agricultura familiar. São essas pessoas que produzem para levar alimento para a cidade”, afirmou.
Povos da Floresta: Mais Afetados pelas Mudanças Climáticas
Os desafios enfrentados pelos povos da floresta vão muito além das discussões teóricas. Aquino ilustrou os impactos diretos e devastadores que as alterações nos biomas causam na vida cotidiana dessas populações. Quando o equilíbrio ambiental é comprometido, os rios, que frequentemente servem como as principais vias de transporte e comunicação, podem tornar-se intransitáveis. Essa interrupção impede a chegada de suprimentos essenciais, como alimentos, e igualmente bloqueia a saída da produção local, afetando diretamente a economia das comunidades. As consequências se estendem à esfera social, com a paralisação da merenda escolar e do transporte de alunos, evidenciando como a crise climática deteriora serviços básicos e essenciais.
Para o presidente do CNS, a concretude desses problemas é o que torna o debate sobre os povos da floresta o mais importante. “Nós não temos extrativista se nós não tivermos o nosso rio protegido. Esse é o grande desafio que nós temos”, enfatizou, conectando a subsistência e a identidade das comunidades à integridade do ambiente natural. A proteção dos ecossistemas fluviais e terrestres não é apenas uma questão ambiental, mas uma condição fundamental para a existência e o bem-estar dessas populações.
Defesa e Expansão das Reservas Extrativistas
A importância de salvaguardar os territórios tradicionais foi reforçada pela quebradeira de coco Maria Nice Machado Aires, residente da Baixada Maranhense. Ela expressou a expectativa de que a COP30 seja um fórum para fortalecer as reservas extrativistas existentes e fomentar a criação de novas. “Nós temos sido exemplos de fortalecimento da floresta. Até porque nós temos uma política diferenciada que defende o meio ambiente, e a política social e cultural”, argumentou Maria Nice, destacando o papel exemplar dessas comunidades na conservação ambiental, pautado por uma abordagem que integra aspectos ecológicos, sociais e culturais.
Agenda Governamental e Novo Foco para a COP30
A secretária nacional de povos e comunidades tradicionais do Ministério do Meio Ambiente, Edel Moraes, assegurou que as reivindicações de quilombolas, indígenas e extrativistas estão contempladas na agenda do governo federal para a COP30. Entre as inovações mencionadas, a secretária citou a criação do “Círculo dos Povos” pela presidência da COP, uma iniciativa que visa dar maior visibilidade e participação a essas comunidades. Além disso, Moraes pontuou o sucesso das políticas ambientais governamentais na redução do desmatamento, um fator que beneficia diretamente os povos e comunidades tradicionais.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
A ambientalista Ângela Mendes, filha do icônico líder seringueiro Chico Mendes e presidenta do Comitê Chico Mendes, defendeu que o evento em Belém deve honrar o legado da luta dos povos e das comunidades extrativistas. Para ela, “Não é possível fazer justiça climática sem fazer justiça territorial, sem reconhecer o direito e a importância desses povos”. Essa perspectiva sublinha a interconexão entre a proteção ambiental e a garantia dos direitos territoriais e culturais das comunidades. Ângela Mendes também destacou a relevância da participação dos jovens e daqueles engajados na defesa do meio ambiente, reconhecendo o potencial comunicativo das novas gerações como um catalisador para avanços significativos.
José Otávio Passos, diretor da organização não-governamental The Nature Conservancy, criticou o foco histórico das conferências climáticas, que, segundo ele, têm priorizado o debate sobre energia e combustíveis nos países desenvolvidos. Ele defendeu uma mudança de paradigma, argumentando que as necessidades dos povos da floresta deveriam ser o centro das atenções. “Falta a gente olhar para duas outras crises, a da biodiversidade e a social. Ter a COP na Amazônia é uma oportunidade de a gente colocar as pessoas e as comunidades no centro do debate climático”, concluiu Passos, reforçando a urgência de uma abordagem mais holística e inclusiva para as discussões globais sobre o clima. É fundamental que as políticas climáticas reflitam a realidade de quem mais sente seus efeitos. Para entender mais sobre a importância da participação social, consulte o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Confira também: Investir em Imóveis na Região dos Lagos
A discussão sobre o papel dos povos da floresta nas estratégias de mitigação e adaptação climática é essencial para construir soluções verdadeiramente eficazes e equitativas. A COP30 em Belém se apresenta como uma plataforma única para que essas vozes sejam ouvidas e suas demandas transformadas em ações concretas. Para aprofundar-se em questões relevantes sobre a política ambiental brasileira e seus desdobramentos, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil