Analistas do UBS BB apontam que a Raízen precisa de R$ 25 bilhões para reduzir seu endividamento e equiparar seu nível de alavancagem ao de empresas comparáveis no mercado. A estimativa considera que a dívida líquida da joint venture, em relação ao resultado operacional (Ebitda), deveria atingir entre 2 e 2,5 vezes, um patamar considerado saudável para o setor.
Para a empresa, resultante da parceria entre Cosan e Shell, cessar o consumo de caixa nos anos fiscais de 2026 e 2027, seria necessário levantar aproximadamente R$ 10 bilhões em capital. Contudo, mesmo com esse aporte, a alavancagem, medida pela dívida líquida expandida sobre o Ebitda, ainda permaneceria em torno de 3,5 vezes, indicando que um esforço maior seria fundamental para alcançar os patamares de seus concorrentes.
Na última sexta-feira, 10 de maio, a Raízen emitiu um comunicado oficial para refutar reportagens sobre sua estrutura de capital e títulos de dívida, afirmando categoricamente que não está avaliando qualquer reestruturação de dívida ou solicitação de recuperação judicial ou extrajudicial. A companhia enfatizou que mantém uma posição de caixa robusta, com R$ 15,7 bilhões em disponibilidade registrados no encerramento do primeiro trimestre da safra 2025/26. Além disso, a empresa possui R$ 5,5 bilhões em linhas de crédito rotativo (RCF) já comprometidas e acessíveis.
Raízen Precisa de R$ 25 Bilhões para Reduzir Endividamento
Apesar do cenário de endividamento elevado, Matheus Enfeldt e a equipe do UBS BB não identificam um problema imediato de liquidez para a Raízen. Os analistas explicam que o setor sucroenergético possui uma sazonalidade específica, onde as empresas tipicamente emitem dívida na primeira metade da safra, com valores que podem variar entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Na segunda metade do ciclo, a estratégia comum é a venda de estoques, o que naturalmente gera caixa e equilibra as contas.
Em um relatório enviado a clientes nesta segunda-feira, 13 de maio, o UBS BB detalhou que, ao final do primeiro trimestre da safra 2025/2026 – período que corresponde ao segundo trimestre do ano calendário –, a Raízen registrava uma posição de caixa de R$ 15 bilhões. No mesmo período, a Dívida Líquida Expandida (DLE) da companhia alcançava R$ 56 bilhões. A expectativa dos analistas é que a DLE apresente uma redução de aproximadamente R$ 5 bilhões até o final do ano, resultando em um caixa de R$ 11 bilhões ao término da safra. Esta projeção considera o pagamento de cerca de R$ 11 bilhões em principal entre o segundo e o quarto trimestre, embora apenas R$ 4,5 bilhões desses vencimentos estejam programados para a safra atual.
Olhando para o futuro, o modelo de análise do UBS BB indica que a Raízen deverá realizar uma nova emissão de dívida no valor de aproximadamente R$ 6 bilhões no primeiro trimestre da safra 2026/2027, que se inicia em abril de 2026. No entanto, os analistas ressalvam que este montante poderá ser inferior caso ocorram reduções nos pagamentos de principal ao longo do ano corrente.
Em termos de alavancagem, a equipe do UBS BB projeta que a relação dívida líquida sobre Ebitda reportada pela Raízen deve subir para 4,6 vezes no segundo trimestre da safra 2025/2026, partindo de 4,5 vezes no primeiro trimestre. Posteriormente, a previsão é de uma queda para 3,7 vezes no quarto trimestre e uma estabilização em 3,6 vezes ao final de 2026/27. Quanto à dívida líquida expandida sobre Ebitda, os modelos do banco sugerem uma elevação para 5,3 vezes no segundo trimestre, em comparação com 4,9 vezes no trimestre anterior, com uma subsequente diminuição para 4,5 vezes no quarto trimestre. Essas projeções mostram a complexidade da gestão financeira da companhia em um cenário de alta necessidade de capital.
A Raízen, em seu fato relevante divulgado na sexta-feira, reiterou que sua gestão financeira segue focada na otimização do perfil de endividamento e na estrutura de capital. Além disso, a empresa comunicou ter sido informada pelos seus acionistas controladores de que discussões e avaliações sobre alternativas de capitalização continuam em andamento. O objetivo dessas iniciativas é fortalecer a estrutura de capital da Raízen e oferecer suporte à sua estratégia de crescimento e desenvolvimento de longo prazo. É importante destacar que as práticas de transparência no mercado financeiro, como a divulgação de fatos relevantes, são regulamentadas por órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), garantindo a confiança dos investidores.
Em setembro do ano anterior, a Cosan havia anunciado um acordo para uma capitalização que poderia atingir até R$ 10 bilhões, com a inclusão de novos parceiros. Contudo, a Cosan fez questão de frisar, na ocasião, que os recursos provenientes dessa capitalização específica não seriam destinados a auxiliar a Raízen, indicando uma separação clara nas estratégias financeiras das duas empresas.
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O cenário financeiro da Raízen, com a necessidade de um volume expressivo de capital para adequar seu endividamento aos padrões do setor, permanece como um ponto de atenção para investidores e para o mercado. As estratégias de capitalização e a gestão do passivo serão cruciais para o futuro da companhia. Para mais análises aprofundadas sobre o setor econômico e as empresas listadas na bolsa, continue acompanhando nossa editoria de Economia.
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