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Sociedade Israelense Luta por Democracia, Afirma Historiadora

Internacional

A sociedade israelense precisa se engajar ativamente na defesa da democracia, conforme avalia a renomada historiadora e escritora Fania Oz-Salzberger. Em uma análise aprofundada, a pesquisadora expressou que, após a concretização de um cessar-fogo no conflito entre Israel e Hamas, o caminho rumo à estabilização e à paz exigirá um esforço considerável e persistente de toda a população. Sua perspectiva, compartilhada em entrevista à TV Brasil, ressalta a importância vital dos movimentos civis na busca por um futuro democrático e pacífico para a nação.

Fania Oz-Salzberger, filha do aclamado romancista Amós Oz, é uma voz crítica do atual primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Sua visão, fundamentada em profundo conhecimento histórico e observação política, aponta para um cenário em que a sociedade civil emerge como um pilar fundamental. Segundo ela, esses movimentos organizados representam a esperança de que os ideais democráticos possam ser não apenas preservados, mas fortalecidos em um momento de intensa polarização e desafios geopolíticos.

A professora emérita da Universidade de Haifa compara a situação de Israel com o Brasil, destacando a relevância de preservar as instituições democráticas. Ela participou recentemente da 4ª edição do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo, onde pôde compartilhar suas reflexões sobre a conjuntura regional e global. Em meio a um quadro complexo, Fania Oz-Salzberger vê nos movimentos da sociedade civil israelense o “melhor prenúncio” de que mudanças positivas são possíveis, evidenciando uma resistência contra tendências que ameaçam os pilares democráticos.

Sociedade Israelense Luta por Democracia, Afirma Historiadora

Críticas ao Governo e Desafios Políticos

A historiadora não poupa críticas à administração de Benjamin Netanyahu, descrevendo-o como o “pior governo que Israel já teve”. Sua composição, exclusivamente de membros da direita e extrema-direita, teria sido moldada pela busca de Netanyahu por “sobrevivência política”. Oz-Salzberger expressou que essa coalizão carece de confiança, uma percepção que, segundo ela, é compartilhada pelas famílias dos reféns que foram sequestrados pelo Hamas. Essas famílias teriam recebido “muitas promessas” do governo que não se concretizaram, gerando profunda desilusão e desconfiança. A pesquisadora manifesta preocupação com possíveis tentativas de adiar o pleito sob alegações de emergência, ou até mesmo de fraudar os resultados, o que poderia levar Israel a um rápido declínio em seu status democrático. Tais temores sublinham a importância da vigilância e do ativismo da sociedade civil na garantia de processos eleitorais justos e transparentes.

Oz-Salzberger reiterou a importância de monitorar o cenário político, especialmente no que se refere à integridade das futuras eleições. Ela explica que as organizações da sociedade civil estão atentas aos indicadores que apontam para possíveis manobras, dada a relevância das próximas votações para o futuro democrático do país. As pesquisas atuais, inclusive, já indicariam uma possível derrota para o primeiro-ministro e sua coalizão, o que adiciona uma camada de tensão e expectativa ao processo eleitoral iminente.

O Impacto do Cessar-Fogo e a Ajuda Humanitária

Embora o cenário político interno seja desafiador, a historiadora manifesta esperança de que o cessar-fogo atual se mantenha. A trégua é vista como crucial para permitir a chegada de “muita ajuda humanitária” à Gaza, uma medida que ela considera “excelente” e fundamental para aliviar o sofrimento da população. Além da questão humanitária, Oz-Salzberger enfatiza a necessidade de recuperar “mais de uma dúzia de corpos de reféns que foram assassinados”, um aspecto de “profunda importância” para as famílias e para a nação, essencial para o fechamento de um ciclo doloroso. Ela também observa que o acordo de cessar-fogo, mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, poderá ter repercussões significativas nas próximas eleições em Israel, influenciando o eleitorado e a dinâmica política. Esta perspectiva se insere no contexto mais amplo da política israelense, que frequentemente é impactada por eventos externos e negociações internacionais, demonstrando a interconexão entre diplomacia e política interna.

Sociedade Israelense Luta por Democracia, Afirma Historiadora - Imagem do artigo original

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br

Solução de Dois Estados e Traumas Compartilhados

A convivência entre israelenses e palestinos, na visão de Fania Oz-Salzberger, é profundamente marcada por “traumas de ambos os lados”. Ela defende veementemente a solução de dois Estados como a “melhor alternativa para a região”. Essa proposta envolve a criação e coexistência pacífica de Estados independentes para Israel e a Palestina, um caminho que ela considera essencial para uma paz duradoura e justa. Com o cessar-fogo em vigor, a historiadora expressa o desejo de que Gaza possa estabelecer um governo palestino moderado, com o auxílio e suporte de potências internacionais. Contudo, ela alerta que, mesmo que esse nível seja alcançado, isso representaria apenas o “começo do caminho”, indicando a magnitude e a complexidade dos desafios futuros. A consolidação da paz exigirá não apenas acordos políticos, mas também um processo de superação de traumas e de construção de confiança mútua, envolvendo um esforço contínuo de diplomacia e cooperação.

Acusações Contra Netanyahu e Radicalismo

Fania Oz-Salzberger é incisiva ao descrever Netanyahu como um “criminoso”. Ela lembra que o primeiro-ministro já foi indiciado por três acusações de corrupção, e que existem “acusações maiores de corrupção e abuso de confiança” que ainda estão sob investigação e aguardam julgamento. A historiadora lamenta a persistência do radicalismo em Israel, especialmente entre os governantes no poder, que, segundo ela, manifestam a crença de que as minorias não deveriam ter os mesmos direitos que a maioria. Tal postura é categoricamente classificada por Oz-Salzberger como “antidemocrática”, minando os princípios fundamentais de uma sociedade plural e igualitária. Ela aponta para uma mentalidade que considera o processo educacional tradicional equivocado e que eleva o judaísmo ortodoxo como a única forma “correta” de judaísmo, ignorando a diversidade e os princípios de igualdade que deveriam nortear uma sociedade democrática. Essa crítica profunda ressalta a complexidade dos dilemas internos que a sociedade israelense enfrenta, bem como a luta contínua por um futuro mais inclusivo e justo, onde todos os cidadãos tenham seus direitos plenamente respeitados.

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Em suma, a análise da historiadora Fania Oz-Salzberger oferece um panorama detalhado dos desafios enfrentados pela sociedade israelense na defesa da democracia, na busca pela paz e na superação de traumas históricos. Seus comentários ressaltam a importância da vigilância cívica e da luta por eleições justas, além da necessidade de um governo que represente a totalidade de seus cidadãos. Para aprofundar-se em temas relacionados à geopolítica e aos movimentos sociais, continue acompanhando nossas Análises.

Crédito da imagem: Fania Oz-Salzberger / TV Brasil

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