rss featured 341 1759592462

Tarifas de Trump na Bolsa Brasileira: O ‘Tarifinho’ do Comércio

Economia

O impacto das tarifas de Trump na Bolsa Brasileira em 2019 revelou um cenário de volatilidade, mas com uma resiliência notável no fluxo de investimento estrangeiro. O que inicialmente parecia ser um “tarifaço” imposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, transformou-se em um “tarifinho” para o mercado acionário brasileiro, especialmente a B3, após uma série de flexibilizações e um reposicionamento estratégico de capital global.

Setembro de 2019 marcou um ponto de virada significativo, com um ingresso robusto de R$ 5,27 bilhões de investidores estrangeiros em ações negociadas na B3. Esse volume posicionou o mês como o quarto maior em termos de aportes de capital externo na bolsa brasileira naquele ano. Essa entrada expressiva foi crucial para neutralizar o fluxo de saída que havia dominado o trimestre, permitindo que ele encerrasse com um saldo positivo, ainda que modesto, de R$ 63,45 milhões. No acumulado do ano, a B3 mantinha um saldo positivo considerável de R$ 26,51 bilhões, evidenciando uma confiança persistente no mercado nacional, apesar dos percalços internacionais.

Tarifas de Trump na Bolsa Brasileira: O ‘Tarifinho’ do Comércio

O terceiro trimestre de 2019 foi caracterizado por uma intensa incerteza e especulação em torno dos potenciais efeitos de um “tarifaço” sobre o Brasil. Em 9 de julho daquele ano, Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, anunciou a intenção de aplicar uma alíquota de 50% sobre a importação de produtos brasileiros. A notícia provocou uma reação imediata no mercado financeiro, culminando em julho com a maior saída de recursos da B3 no ano, totalizando R$ 6,37 bilhões. Esse movimento refletia a apreensão dos investidores diante de uma possível escalada de tensões comerciais e seus desdobramentos negativos para a economia brasileira.

Contudo, a situação começou a mudar poucos dias após o anúncio inicial. Trump flexibilizou a medida, divulgando uma extensa lista de exceções que beneficiou setores e produtos específicos, incluindo, notavelmente, os aviões fabricados pela Embraer. Essa revisão trouxe um alívio considerável ao mercado. Em conjunto com uma rotação global de carteiras de investimento, que favorecia mercados emergentes, o fluxo de capitais para a B3 voltou a ser positivo, registrando um aporte de R$ 1,17 bilhão em um curto espaço de tempo. Essa reviravolta demonstrou a sensibilidade do mercado às decisões políticas e a rapidez com que a percepção de risco pode ser alterada.

O mês de setembro, como mencionado, foi o verdadeiro catalisador da recuperação no trimestre. Mesmo com o Banco Central do Brasil (BC) adotando uma postura mais conservadora para desestimular apostas de uma redução mais agressiva da taxa Selic no curto prazo, a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, de cortar os Fed Funds em 0,25 ponto percentual, impulsionou a busca global por ativos de risco. O Fed sinalizou, ademais, a possibilidade de realizar mais dois cortes nas taxas de juros até o final do ano, o que aumentou a atratividade de investimentos em economias em desenvolvimento, como a brasileira.

Esse cenário global de enfraquecimento do dólar nos meses que se seguiram à decisão do Fed contribuiu para um significativo reposicionamento dos investidores. Muitos deles, que estavam concentrados em ativos americanos, buscaram diversificar suas carteiras, direcionando capital para países emergentes em busca de maiores retornos. Essa dinâmica foi fundamental para a recuperação e a manutenção do fluxo positivo na B3, transformando a ameaça inicial em uma oportunidade para o mercado brasileiro.

Gustavo Bertotti, head de renda variável da Fami Capital, observou que o mês de julho foi, de fato, prejudicial aos números trimestrais, principalmente devido à saída de capital estrangeiro motivada pelas tarifas americanas direcionadas ao Brasil. No entanto, ele destaca que, com o anúncio das exceções por parte do governo Trump e os cortes de juros promovidos pelo Fed, o fluxo de investimento voltou a crescer e a tendência é que esse caminho se mantenha. A combinação de fatores internos e externos foi crucial para a reversão da expectativa negativa inicial.

Para Daniel Utsch, gestor de renda variável da Nero Capital, a situação ilustra como, em termos líquidos, o que parecia ser um “tarifaço” para a Bolsa brasileira acabou se configurando como um “tarifinho”. Ele atribui essa mitigação diretamente às exceções concedidas pelo governo americano, que aliviaram a pressão sobre importantes setores da economia brasileira. Utsch expressa uma visão otimista para o futuro desse fluxo de investimentos, especialmente em um horizonte de prazo mais longo. Ele reconhece que movimentos político-econômicos internos podem, naturalmente, influenciar o cenário no curto prazo, mas a perspectiva de médio e longo prazo permanece positiva. “Continuamos entendendo que é um movimento de médio e longo prazo relevante e que é muito mais provável o estrangeiro continuar alocando no Brasil do que retirar mais”, complementa o gestor, reforçando a expectativa de um fluxo contínuo de recursos para o mercado acionário nacional.

A decisão do Federal Reserve de reduzir as taxas de juros em 2019 foi um fator primordial para a alteração da dinâmica de investimentos globais, favorecendo mercados como o Brasil. Para aprofundar a compreensão sobre as políticas monetárias do Fed, você pode consultar informações detalhadas em comunicados oficiais, como os disponíveis no site do Federal Reserve.

Confira também: Investir em Imóveis na Região dos Lagos

Em suma, a resiliência da Bolsa brasileira diante das ameaças tarifárias de Donald Trump em 2019, impulsionada pela flexibilização das medidas e pelas decisões de política monetária do Fed, demonstrou a capacidade de adaptação do mercado e a contínua atratividade do Brasil para o capital estrangeiro. Para mais análises e notícias sobre o panorama econômico e de investimentos, continue acompanhando a editoria de Economia.

Crédito da imagem: Estadão Conteúdo

Deixe um comentário