A venda de pneu nacional no Brasil registrou um declínio de 1,9% no acumulado do ano até o mês de agosto. O setor, conforme dados divulgados pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), comercializou um total de 25,8 milhões de unidades no período, evidenciando uma retração influenciada, principalmente, pelo desempenho do mercado de reposição.
O segmento de reposição, fundamental para a indústria, apresentou uma queda expressiva de 6,4% nos primeiros oito meses do ano, totalizando 16,9 milhões de pneus vendidos. Em contrapartida, as entregas destinadas às montadoras exibiram um crescimento de 7,8% no mesmo intervalo, alcançando a marca de 8,9 milhões de unidades. Tal cenário aponta para uma dinâmica desfavorável no consumo direto, enquanto a demanda da indústria automobilística demonstra resiliência.
Venda de Pneu Nacional Recua 1,9% até Agosto, Diz Anip
No principal segmento do setor, o de pneus de passeio, a retração foi de 1,4%, com 13,8 milhões de unidades comercializadas. Assim como no panorama geral, o mercado de reposição foi o principal responsável por esse resultado, registrando uma queda de 6,2% (totalizando 13,8 milhões de pneus). Paralelamente, as vendas de pneus de passeio para montadoras expandiram 8,7%, atingindo 7,7 milhões de unidades. O setor de cargas, por sua vez, foi o mais impactado proporcionalmente, com uma redução de 4,5% nas vendas, somando 4,3 milhões de pneus. Embora as entregas para montadoras tenham crescido 2,6% (1,3 milhão de unidades), não foram suficientes para compensar o declínio de 7,1% no mercado de reposição, que ficou em 3 milhões de pneus vendidos.
A Anip também monitora o mercado de pneus para motocicletas, com dados focados exclusivamente no segmento de reposição. Neste setor, houve uma queda de 12,8% no acumulado até agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior, totalizando 6 milhões de unidades comercializadas. A entidade atribui a desaceleração do mercado de reposição ao avanço dos produtos importados, que atualmente detêm mais de 60% desse segmento. Essa realidade representa uma inversão significativa em relação a 2019, quando a produção nacional respondia por 60% da demanda. Em setembro recente, a participação dos pneus importados no segmento de reposição alcançou 66%, enquanto a produção local representou 34%.
Rodrigo Navarro, presidente da Anip, expressou preocupação com a situação. “É normal ter uma parte importada. Isso ocorre em qualquer indústria, em qualquer segmento. O problema é que ao longo desse período (desde 2019) houve uma inversão de participação de mercado”, afirmou Navarro. Ele alertou que, se a tendência de crescimento da participação dos importados persistir, a indústria instalada no Brasil poderá questionar a viabilidade de continuar fabricando no país, podendo optar por importar diretamente para competir com produtos asiáticos. A Anip representa 11 fabricantes, que juntos operam 21 fábricas em território nacional, muitas delas multinacionais com potencial para alterar suas estratégias de produção e distribuição.
Navarro ressaltou que o aumento dos produtos importados ocorreu mesmo com as diversas medidas implementadas pelo governo na tentativa de conter o que consideram uma concorrência desleal. Ele defende uma abordagem unificada por parte da indústria brasileira para pleitear soluções, indo além das demandas setoriais isoladas. O presidente da Anip mencionou que outros segmentos, como o siderúrgico, máquinas, químico, têxtil e calçado, também enfrentam desafios semelhantes com a entrada de produtos estrangeiros. A união de esforços seria crucial para endereçar pleitos que, embora pareçam distintos, convergem para a busca de uma competição justa.
“Ninguém é contra o importado por conceito. Todo mundo importa, todos têm um portfólio importado. Não queremos é produto sendo trazido abaixo do custo da matéria-prima, sem deixar de lado as obrigações ambientais e sem atender as conformidades técnicas”, enfatizou Navarro. No contexto da produção de pneus, a borracha natural é um dos insumos primários, e o sindicato dos trabalhadores da borracha já manifestou preocupação com o futuro de seus empregados, indicando a necessidade de um trabalho conjunto entre os elos da cadeia produtiva.

Imagem: valor.globo.com
O presidente da Anip citou o agronegócio como um exemplo de organização e influência conjunta, que levou cerca de 15 anos para consolidar sua atuação. Ele sugere que a indústria brasileira adote um modelo similar, com encontros semanais e apresentação de sugestões aos parlamentares. Além da questão do preço mais competitivo dos importados, supostamente beneficiados por práticas de dumping, a indústria local critica a falta de preocupação de alguns importadores com a logística reversa dos pneus e a comercialização de produtos que não cumprem as normas técnicas brasileiras.
No cenário do comércio exterior, o setor também foi impactado negativamente pelo aumento das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos. A alíquota foi elevada de 10% para 50%, com exceção do segmento de carros de passeio, que ficou em 25%. Essa medida afeta pneus para moto, bicicleta, caminhão e ônibus, adicionando um novo desafio a um contexto já complexo. A Anip tem participado ativamente de iniciativas, em colaboração com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), buscando reverter essa nova taxação e defender os interesses da produção nacional.
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A retração na venda de pneu nacional até agosto, impulsionada pelo mercado de reposição e pela crescente presença de importados, levanta questões cruciais sobre a sustentabilidade da indústria local. A Anip e seus associados continuam a buscar um ambiente de concorrência justa e a defender a produção brasileira. Para mais notícias e outras análises sobre o cenário econômico brasileiro e seus impactos setoriais, continue acompanhando a editoria de Economia em nosso portal: horadecomecar.com.br/economia/.
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